quinta-feira, março 28, 2013

O aeroporto volta a ser a saída - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 28/03

Mas desta vez a porta é a de entrada, o que não impede um fenômeno triste, a "re-emigração"


lembra-se da velha história segundo a qual a única saída para o brasileiro era o aeroporto internacional mais próximo? Continua sendo verdade, mas mudou a porta do aeroporto: passou a ser a de entrada no país, em vez da saída.

O Itamaraty calcula que, nos últimos cinco anos, caiu 30% o número de brasileiros vivendo no exterior, agora avaliado em 2,5 milhões (conta sempre precária porque a maioria está em situação irregular).

Por isso mesmo, o Ministério acaba de lançar o Portal do Retorno (http://retorno.itamaraty.gov.br), destinado a ajudar a "encontrar o caminho das pedras" para quem deseja retornar, como diz a ministra Luiza Lopes da Silva, diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior.

O Itamaraty verificou que o retorno é uma operação complicada e eventualmente frustrante, por falta de informações sobre as oportunidades de reinserção que oferecem governo, setor privado e ONGs.

Mas Lopes da Silva adverte que não dá para considerar encerrada a grande diáspora de brasileiros iniciada nos anos 80 e gerada pela desesperança. Naquela época e pelas duas décadas seguintes, fugir parecia a melhor alternativa em um país prenhe de dificuldades econômicas e políticas, além de obsceno socialmente.

Agora que 76% acham que o Brasil é ótimo/bom para viver, conforme o Datafolha, o regresso seria natural, ainda mais que a crise nos países ricos tornou-os inexoravelmente menos atraentes. Basta dizer que em Portugal, quarto maior destino de brasileiros (147 mil em 2008, 140 mil agora), o consumo retrocedeu ao patamar do ano 2000, segundo relatório do Banco Central. Quem é que se anima a ir ou a ficar em um país em retrocesso?

O lado sombrio dessa história de sucesso recente do Brasil é o fato de que estão voltando apenas os, digamos, excedentes, "os que não criaram no exterior raízes suficientes, não conseguiram se inserir no mercado de trabalho e sofrem mais com a crise", constata a ministra.

Os demais tendem a continuar onde estão porque o investimento feito para a transferência foi elevado demais e não compensa desfazê-lo.

O Portal do Retorno nasceu, entre outras razões, da constatação de que está havendo uma "re-emigração", depõe a diplomata. Muitos brasileiros que deixaram os Estados Unidos, quando a crise veio forte em 2008/2009, tiveram dificuldade em se readaptar ao Brasil e agora "estão de novo batendo à porta de algum consulado".

Pior: há registro de casos, no Reino Unido, por exemplo, de brasileiras que foram vítimas de tráfico de pessoas uma primeira vez e caíram de novo agora, porque não se encaixaram no Brasil.

Essa "re-emigração" fala mal do Brasil como porto da esperança, por muito que tenha de fato evoluído nos últimos anos.

Fica claro que há uma percepção diferente do Brasil, entre os brasileiros daqui que o veem maciçamente como "ótimo/bom", e aqueles espalhados pela incrível quantidade de 138 países. Ou o Portal do Retorno fecha essa brecha ou a diáspora será permanente.

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