segunda-feira, março 25, 2013

Fumaça branca - PAULO BROSSARD

ZERO HORA  - 25/03

Na primeira quinzena do mês passado, Bento XVI anunciou a resignação da sua investidura papal, fixando-a no último dia do mês, 28 de fevereiro. Fazia mais de cinco séculos que as sucessões pontifícias se davam pela morte e, agora, a vacância ocorreria pela renúncia do titular; com a clareza e firmeza com que fora justificada pelo renunciante e, dado seu teor, despertou vivo interesse, além do círculo confessional. Outrossim, o Papa, em mais de uma manifestação, emitiu juízos de inegável relevo, a começar pela antecipação do conclave a ser convocado. De outro lado, elevado número de vaticanistas veio à tona divulgando opiniões e previsões várias, o que aumentava o interesse não só dos católicos. Antes mesmo da instalação da assembleia cardinalícia, eram mencionados nomes de papáveis e seus supostos partidários ou patronos. O conclave foi rápido, com a fumaça branca já no segundo dia e, curiosamente, sem que o escolhido fosse nenhum dos indicados pelos supostos especialistas em coisas do Vaticano, o que evidenciou o caráter meramente especulativo das manifestações. Foi nomeado o cardeal Jorge Mario Bergoglio, da Argentina; era a primeira vez que a escolha recaía em sul-americano, o que não seria de estranhar uma vez que a Igreja é universal. A partir da fumaça branca o novo pontífice foi apresentado à multidão que se reunira na Praça de São Pedro, pareceu-me então que ele não estava à vontade, dir-se-ia um tanto acanhado, poucas palavras e um gesto comedido. Com a divulgação de seu nome pontifício, nada menos que Francisco, a lembrar São Francisco de Assis e São Francisco Xavier, nome nunca lembrado em mais de 2 mil anos; aliás era o primeiro jesuíta a ser feito papa. E, por esta ou aquela razão, parece ter passado uma espécie de aragem de generalizada simpatia.
Se não estou em erro, menos de semana depois de ter sido nomeado papa pelo conclave de 12 e 13 do corrente, via-se cercado por mais de 20 chefes de Estado e de governo e numerosas autoridades, os meios de comunicação dedicando-lhe atenção excepcional, jornais da maior expressão reservando a ele páginas e páginas, em dias sucessivos, e um deles, laico em toda a extensão da palavra, estampava, em sua edição de 20, a íntegra da homilia pronunciada na missa em que iniciava formalmente o papado; nesse documento, depois de referir-se aos "irmãos cardeais e bispos" até a "todos os fiéis leigos", agradece "pela sua presença aos representantes das outras igrejas e comunidades eclesiais, bem como ao representante da comunidade judaica, e de outras comunidades religiosas".
Foram várias as aparições do papa Francisco, e em situações variadas, e suas declarações, sem aparato, como se dirigidas a velhos amigos, primaram pela singeleza.
Também se fala na popularidade do Papa e ela parece inegável, mas o que me parece mais significativo foi a espontaneidade e celeridade como ela se processou, e transcendendo a popularidade logo se converteu em familiaridade; para isso contribuiu a simplicidade nos gestos, a naturalidade nas palavras, a intimidade de quem se dirigia a irmãos, sem falar na imanente autoridade moral de sua invulgar personalidade, marcada pela nota de humildade.
Para concluir, sem fazer previsões, que não sei fazê-las, nos poucos dias decorridos desde a escolha do papa Francisco, os sinais que o vêm acompanhando me parecem lisonjeiros. Laus Deo.


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