quinta-feira, março 21, 2013

Comércio externo estagnado - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 21/03

Não será pelo comércio com o exterior que a economia vai crescer mais forte este ano. A balança comercial carrega um déficit de US$ 5,5 bilhões até a terceira semana de março e a corrente de comércio está 1,9% menor que a do mesmo período de 2012. A exportação caiu 10%, e a importação subiu 5%. O setor de petróleo e derivados tem um rombo de US$ 2,6 bilhões em menos de três meses.

O déficit do setor de petróleo e derivados deve ficar, ao longo do ano, em US$ 11 bilhões, segundo projeção da RC Consultores. Se a conta for feita só com os derivados, o déficit será de US$ 17 bilhões.

Quando o assunto é crescimento econômico, mais importante que olhar para o saldo da balança é ver o que está acontecendo com a corrente de comércio, ou seja, a soma das importações com as exportações. O crescimento das importações também é sinal de vigor econômico porque contribui para a estatística do PIB via consumo e investimentos. É justamente esse dado que preocupa, porque até agora há retração de 1,9% na comparação com o mesmo período de 2012, e no ano passado já houve queda em relação a 2011.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que mesmo com tudo isso o ano fechará com saldo positivo de US$ 14 bilhões. O problema é a previsão de estagnação da corrente de comércio, em US$ 465 bi.

A RC Consultores estima que o déficit do setor de petróleo vai subir - no ano passado foi de US$ 9,2 bilhões - porque haverá aumento de importação de petróleo bruto e a produção interna ficará estagnada, reduzindo a exportação. Olhando apenas para os derivados, o rombo encostará em US$ 17 bilhões.

O motivo já se sabe: o consumo de combustíveis aumentou muito com a venda de carros e o Brasil não é autossuficiente na produção de derivados. Além disso, o subsídio à gasolina acabou desestimulando o setor de etanol. A única saída tem sido aumentar importações.

O rombo dos derivados vai continuar pelos próximos anos porque a Petrobras não tem condições de aumentar a produção local de derivados a curto prazo. O Plano de Negócios da empresa para o período 2013 e 2017 mostra os erros dos últimos anos, de permitir a interferência das razões políticas nas decisões de investimento, como nas escolhas da localização de refinarias longe dos centros consumidores.

O caso mais explícito de interferência política foi a Refinaria Abreu e Lima, que tem como sócia a venezuelana PDVSA. Foi uma decisão tomada pelos então presidentes Lula e Hugo Chávez. Os venezuelanos não cumpriram a parte deles, e a morte de Chávez deixa ainda mais incerto o futuro da empresa. Isso sem falar no fato de que a refinaria estava orçada em US$ 2 bilhões e já está em US$ 17 bi. A entrega da obra está atrasada. O cenário é o mesmo com as refinarias Premium I e Premium II, no Nordeste, longe dos centros de consumo, que podem ter cronogramas adiados.

Com um déficit tão grande em derivados, a esperança vem mesmo da exportação das commodities agrícolas e minerais. O problema é que o embarque da safra recorde de soja está atrasando, segundo José Augusto de Castro. A razão é a de sempre: gargalos logísticos do país. Há filas quilométricas de caminhões, porque os terminais de descarregamento estão superlotados. Nos portos, navios ficam parados à espera da carga que não chega no prazo combinado. Já há notícias de cancelamento de contratos por parte dos chineses, que consideram como calote a entrega fora do prazo. Neste mês de março, até a terceira semana, o embarque de soja, em toneladas, está 14% menor que no mesmo período do ano passado, com queda de 42% no farelo de soja. E o Brasil colheu uma supersafra.

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