domingo, março 17, 2013

Ata do Copom - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 17/03

É o 1º sinal de que há risco de que o choque de oferta de alimentos tenha elevado o patamar da inflação


Quinta-feira da semana que passou foi dia de ler a ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil).

No documento foram apresentadas as justificativas da decisão tomada na semana anterior de manter a taxa básica de juros, taxa Selic, parada em 7,25% ao ano.

Trata-se de complexo exercício de interpretação de texto. Entre a ata de uma reunião e a da anterior há ajustes mínimos que sinalizam as mudanças de entendimento do Copom com relação à conjuntura econômica e ao processo inflacionário em particular.

Evidentemente sempre corremos o risco de enxergar nas entrelinhas da ata nosso entendimento (ou nossos desejos) do processo inflacionário, e não o entendimento do Copom.

A grande importância para os participantes do mercado financeiro em particular e para a sociedade em geral em ler corretamente a ata é antecipar da melhor forma possível os movimentos futuros do Copom e, consequentemente, prever com mais correção a trajetória da taxa de juros.

No meu entender, a alteração mais importante foi a introdução do texto: "Embora essa dinâmica desfavorável (da inflação) possa não representar um fenômeno temporário, mas uma eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado, o Comitê pondera que incertezas remanescentes -de origem externa e interna- cercam o cenário prospectivo e recomendam que a política monetária deva ser administrada com cautela".

Entendo que a possibilidade de "a dinâmica desfavorável representar eventual acomodação da inflação em patamares mais elevados" é o primeiro sinal claro dado pelo Copom de que há risco de que o choque negativo de oferta de alimentos do ano passado tenha se consolidado e elevado estruturalmente o patamar da inflação.

O Copom não está certo desse fato, o que justifica não aumentar a taxa básica agora, mas está ciente de que ele pode ter ocorrido.

Segue, portanto, a decisão: "Diante disso, avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 7,25% ao ano, sem viés".

Na reunião anterior, o parágrafo que apresentava a decisão não tinha o aposto "avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação".

Meu entendimento é que, se houver novas informações até as próximas reuniões de que ocorreu o processo de consolidação da inflação em patamares mais elevados, um ciclo de alta de juros iniciar-se-á.

Minha dificuldade é que, devido aos patamares elevadíssimos já observados nos indicadores de difusão da inflação, fico com dificuldade em saber exatamente o que será necessário para o Copom se convencer de que a inflação está em patamares estruturalmente mais elevados.

A possibilidade que resta é que a preocupação maior do Copom hoje é com a atividade econômica, que tem apresentado recuperação muito tímida, apesar de o mercado de trabalho viver seu melhor momento das últimas décadas.

A próxima reunião do Copom será em 15 de abril, e a seguinte, em 29 de maio, mesmo dia de divulgação pelo IBGE do PIB referente ao primeiro trimestre de 2013.

Se o produto vier forte -em torno de 0,8 ou 1% ante o trimestre anterior-, devemos esperar o início de um ciclo de alta de juros.

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