terça-feira, março 12, 2013

A perigosa primazia da política eleitoral - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/03

Contaminar com a campanha antecipada 2013, ano estratégico para a economia, pode tornar acidentado o enfrentamento de problemas no Congresso


Por ser movido à base de perspectiva de poder, político costuma raciocinar dentro de horizontes de tempo delimitados pelo calendário eleitoral. Nada de ilegítimo nisso. Há quem trabalhe com uma perspectiva histórica mais ampla ou menos, mas as urnas são e sempre serão um balizador-chave. Porém, quando a preocupação eleitoral se torna prioritária e passa a ser determinante em decisões de governo, a administração entra em terreno acidentado. Ao decidirem antecipar a campanha de 2014, o ex-presidente Lula, o PT e a presidente Dilma, candidata à reeleição, avançaram o sinal.

E o erro já produziu pelo menos um efeito negativo na própria base de Dilma: o desgarramento do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que deve ter acelerado a execução do seu projeto para 2014 tão logo constatou que o PT decidira começar o jogo eleitoral mais cedo.

Um primeiro efeito concreto Dilma já colheu, na oposição aberta do governador à essencial medida provisória de modernização dos portos, nó a ser desatado para ajudar a abater o famigerado “custo Brasil”. Sem a antecipação da campanha, Eduardo Campos poderia não recuar nas críticas à MP, mas talvez não fosse tão ostensivo a ponto de aceitar se reunir com o líder da campanha de corporações sindicais contra as necessárias mudanças portuárias, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), Paulinho da Força.

Deixar 2013, um ano estratégico para a economia, ser contaminado por embates político-eleitorais pode tornar o caminho do Planalto ainda mais acidentado no enfrentamento de problemas sérios no Congresso. Para garantir “governabilidade” e palanques em 2014, o governo passa a cometer outros erros. Como criar o 39º ministério apenas para abrigar o PSD do neoaliado Gilberto Kassab. Ora, é impossível ter uma equipe coesa, eficiente, ágil com dezenas de ministros. E o novo ministério, da Pequena e Média Empresa, terá uma agenda de trabalho já bem atendida por diversos segmentos da máquina do Estado. Mais um desperdício

E tão exótico quanto o ministério em si é a escolha para ocupá-lo do vice-governador da administração tucana de São Paulo, Guilherme Afif, numa prova viva da degradação do quadro partidário brasileiro, em que não faltam legendas e escasseiam projetos sérios, consistentes de poder.

Para completar o cenário do vale-tudo eleitoral precoce, noticia-se que Dilma reabilitará o senador Alfredo Nascimento (AM-PR), escorraçado do Ministério dos Transportes por motivos desabonadores. O mesmo caminho de volta às boas graças do Planalto está sendo percorrido por Carlos Lupi (PDT), outro com passagem nada exemplar pelo ministério de Dilma, no Trabalho. Também em nome da reeleição. A incongruência maior é o inchaço de uma ministério já obeso e a reabilitação de políticos clientelistas — para usar um termo elegante — acontecerem quando o governo necessita de uma máquina pública mais eficiente, ágil e profissional.

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