sexta-feira, março 29, 2013

A fé perseguida - LUZ GARCIA

O GLOBO - 29/03

Deus me livre de falar mal de religião, qualquer que seja ela. Sou testemunha - quem não é? - dos benefícios da fé para a paz de espírito de muita gente que, sem ela, estaria condenada à inquietação e ao desespero. Não é por acaso que a história das religiões acompanha a humanidade desde os seus primeiros capítulos.

É óbvio, no entanto, que a crença só é legítima quando voluntária. Não importa que seja transmitida pelos pais aos filhos como uma obrigação - um dever [o adjetivo é inevitável) sagrado. Pelos pais, devo repetir: nunca pelo Estado.

A religião imposta por governos costuma ser um instrumento de poder que nada tem a ver com a verdadeira fé - que é voluntária e individual. O Estado controla aqueles deveres e costumes que têm a ver com a sua própria eficiência, nos serviços que presta à sociedade.

Como toda a forma de poder, qualquer imposição além disso é ditatorial: transforma o Estado em senhor, e não servidor da sociedade. E pode usurpar poderes que pertencem à família, e não aos agentes e agências do governo.

Por essas razões óbvias, tem extrema gravidade a denúncia do jornal de domingo: em 51% das escolas públicas, orações e músicas religiosas (católicas, claro) são parte dos currículos. O que é, de saída, ilegal: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação define a educação religiosa com matéria facultativa. Na maioria das escolas não há atividades alternativas para estudantes que não queiram assistir às aulas de religião. Não é difícil imaginar que os não católicos, em muitos casos, sejam vistos como párias por colegas ou mesmo por professores.

Pior que isso, há registro de casos de professores que condenam, na sala de aula, os adeptos de outras religiões, como o candomblé. A professora Stela Caputo, que pesquisa o problema há mais de 20 anos, denuncia os óbvios efeitos negativos da discriminação sofrida por umbandistas e adeptos de outras religiões: "A maioria esconde a religião que ama... um sofrimento que marca para sempre..."

Ela tem razão. E os responsáveis pelas escolas públicas são omissos ao não tomarem conhecimento do problema.

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