domingo, fevereiro 10, 2013

Um desconfortável Banco Central - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 10/02

Inflação, como previsto, começa a assustar em 2013, mas governo aposta que ela será menor que em 2012. Mas é bom saber que Tombini não goste desta situação


O esperado aumento da pressão inflacionária neste início de ano se confirma em grande estilo, com o IPCA de 0,86% em janeiro, ou 6,15% nos doze meses anteriores, apenas 0,35 ponto percentual do teto da meta anual de 4,5%, já não alcançada há três exercícios. É a mais elevada taxa em janeiro desde 2003, quando o recém-empossado governo Lula se viu diante de um choque de inflação provocado pela alta do dólar durante a campanha eleitoral, subproduto dos temores dos mercados e de parte da sociedade com a chegada do PT ao poder.

À época, numa demonstração de maturidade, o governo aplicou os remédios monetários (juros) e fiscais (gastos) adequados, e os índices cederam. Hoje, a conjuntura é diferente e mais complexa.

Em outros tempos, o BC já teria elevado a taxa básica de juros, de 7,25%, a mais baixa desde a criação da Selic. Mas o momento é outro. A economia cresce em ritmo lento — na melhor das hipóteses, 3,5% este ano, e muito em função da baixa base de comparação de 2012 — e há a aposta do BC e governo em que o segundo semestre será menos ingrato, com a inflação do ano fechando abaixo dos 5,8% de 2012.

Um parêntese: mesmo assim, um índice alto, não só, mais uma vez, acima da meta de 4,5%, como, por exemplo, à frente da inflação do emergente mais próximo do Brasil no continente, o México (3,6% no ano passado, mais que a meta de 3%, e com um crescimento bem maior, 4%, contra cerca de 1% do Brasil).

O BC de Alexandre Tombini conseguiu o feito de, contra a maioria das expectativas, fazer um corte histórico nos juros, por antever, com eficiência, a degradação da economia mundial, com a entrada da Europa em parafuso. BC e governo dão todos os sinais de que farão o máximo para manter os juros baixos. Mas Tombini acaba de reconhecer que “a situação não é confortável”. Em “bancocentralês”, significa que a autoridade monetária, apesar de visões em contrário, não abrirá mão do seu mandato para preservar o poder aquisitivo da moeda, já erodido pela inflação elevada dos últimos anos. E é bom que assim seja.

Os alimentos continuaram a pressionar os índices. Porém, prevê-se uma descompressão daqui para frente. Não deverá haver nova seca histórica nos Estados Unidos, e o Brasil colherá uma supersafra de grãos. Um reajuste mais baixo do salário mínimo, por sua vez, poderá pôr rédeas curtas nos preços dos serviços. São em pontos como estes que se baseia o governo para ostentar algum otimismo. Mas até que os ventos soprem a favor, a quadro piorará, com taxas talvez bem acima do teto de 6,5%. Qual a dimensão dos estragos que os mecanismos de indexação existente nas economia farão, não se sabe.

Além disso, é certo que o BC — como tem sido norma — continuará sem a ajuda do Ministério da Fazenda na contenção dos preços, por ele ser um gastador incorrigível. Neste contexto, é bom um BC desconfortável.

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