quinta-feira, fevereiro 21, 2013

O Estado gerencial e o fordismo tupiniquim - RUDÁ RICCI

O ESTADO DE S. PAULO - 21/02
São dois projetos distintos e muito nítidos. A gestão FHC trouxe elementos da lógica e da estrutura organizacional empresarial para o interior do Estado. Não adotou a cartilha neoliberal que, aliás, é extremamente pobre, mas a lógica do Estado gerencial, que se alimentou de alguns elementos neoliberais. Já a concepção lulista estaria mais próxima do que a Escola da Regulação Francesa denominou de "fordismo". Um fordismo tardio, já que seu declínio nos EUA e Europa teve início a partir do choque do preço do petróleo na segunda metade dos anos 1970.

O fordismo tardio adotou os seguintes instrumentos anticíclicos: Estado central controlador e concentrador de recursos públicos para investimento (o que esvaziou a autonomia dos municípios e gerou total dependência de convênios federais); BNDES como banco de fomento de grandes projetos; Bolsa Família e aumento real do salário mínimo e da renda média dos trabalhadores e criando potente e voraz mercado consumidor.

Politicamente, instalou-se a lógica neocorporativa no País, em que centrais sindicais e organizações da sociedade civil passaram a ser financiadas e a participar ativamente das deliberações e instâncias governamentais (estatais, agências reguladoras) e consolidou-se a coalizão presidencialista - em que grande parte dos partidos se envolve diretamente na gestão do aparelho de Estado.

Essa potente estrutura de Estado diminuiu sobremaneira os espaços de qualquer oposição política. A inserção social ocorreu pelo consumo e não pela ampliação de direitos ou pela política, o que apartou ainda mais a lógica política da lógica social. Quase totalidade dos partidos está, hoje, controlada por parlamentares e não pela sociedade civil. Os deputados, inclusive, acabaram se tornando príncipes deste fordismo tardio, mediando convênios entre prefeituras e agências federais. Como se percebe, o fordismo tardio tupiniquim é muito mais articulado e poderoso que a agenda dos anos de gestão tucana. Avança socialmente, mas atualiza a lógica política clientelista que marca a História da República brasileira desde seus primórdios.

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