quarta-feira, janeiro 02, 2013

Já fico feliz se em 2013... - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 02/01

... o Rio, apesar das mazelas, continuar lindo e adorável — só que um pouco menos quente


"Gracias a la vida, que me há dado tanto" (Violeta Parra), me dando mais do que eu merecia, contento-me com pouco. Assim, já fico feliz em 2013...

• Se Alice superar a sua crise existencial por causa do ciúme do irmãozinho Eric. Sei que esse sentimento de perda é natural e inevitável, mas nem por isso é menos sofrido para ela.

• Se os mensalões do PSDB e do DEM forem
julgados pelo Supremo Tribunal Federal com o mesmo critério e rigor com que foram tratados os aloprados do PT. Não por represália, como querem alguns, mas por uma questão de equidade e justiça.

• Se o governador e o prefeito impedirem que o metrô — bem-vindo a Ipanema — seja usado como pretexto para a devastação da Praça N. S. da Paz, paraíso das crianças, idosos, bebês e cadeirantes. Especula-se que o motivo seria a construção de um desnecessário shopping subterrâneo. O bairro está satisfeito com o comércio de rua que tem.

• Se o tricolor repetir o brilhante desempenho de 2012.

• Se Eduardo Paes olhar com cautela para o que se pretende construir em torno do Porto
Maravilha, sua obra magna. Com ela, se não errar, ele vai ficar na história do Rio como um novo Pereira Passos, que abriu a Avenida Central, ou o Carlos Lacerda, que fez o Aterro do Flamengo.

• Se nosso sistema de saúde e de educação deixar de ser a vergonha nacional. Se uma criança de 10 anos com uma bala perdida na cabeça não levar oito horas para ser atendida num hospital municipal do Rio.

• Se eu não precisar embarcar (ou desembarcar) no aeroporto Galeão-Tom Jobim ou Santos Dumont num dia de calor.

...o Rio, apesar das mazelas, continuar lindo e adorável — só que um pouco menos quente
• Se não voltar aquele tempo em que se cantava: "Rio, cidade que me seduz, de dia falta água, de noite falta luz"

• Se a presidente não der entrevista chamando de "ridículo" o risco de racionamento, quase ao mesmo tempo em que cerca de 1 milhão de moradores da região metropolitana e da Baixada Fluminense eram vítimas de apagões.

• Se as autoridades conseguirem impor a ordem no caos do nosso trânsito de cada dia — inclusive das bicicletas que em geral não respeitam as calçadas nem o sinal vermelho.

• Se o pôr do sol no Arpoador continuar sendo um dos espetáculos mais bonitos da natureza, merecedor dos aplausos diários dos banhistas.

• Se o Rio, apesar das mazelas, continuar lindo e adorável— só que um pouco menos quente.

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