quinta-feira, janeiro 31, 2013

As escolhas da vida - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 31/01

Os jovens da boate Kiss não tiveram escolha. Estavam dentro da “garrafa” quando o incêndio começou e muitos acabaram morrendo por causa da imprevidência alheia. Na política, entretanto, em especial na redoma do plenário do Senado, as escolhas começaram. E, nesse sentido, vale observar o caminho do PSB. O partido de Eduardo Campos não esconde mais sua intenção de empurrar o PMDB para o escanteio da política. O “não” público a Renan Calheiros, classificando a candidatura dele de “clandestina” e “subterrânea”, foi seu terceiro ato nessa direção.
O primeiro ato foi a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) a presidente da Câmara. Algo que começou como um projeto solo, sem respaldo do partido, virou aos poucos um teste do que é possível atingir fora da estrada principal da política representada pela aliança PT-PMDB. O segundo veio há poucos dias, quando Eduardo Campos declarou de viva voz que a expressão do PMDB no acordo político com o PT era maior do que a representada na sociedade. Ontem, a reunião da bancada de senadores contra a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) a presidente do Senado foi o terceiro movimento. E devidamente combinado com a direção partidária.
Esse conjunto de ações não deixa dúvidas. O controverso PMDB de Renan, José Sarney, Henrique Eduardo Alves, Eduardo Cunha, Sandro Mabel, Valdir Raupp e Michel Temer virou o mote para o PSB se diferenciar dos demais dentro da base de apoio do governo Dilma Rousseff e, no futuro, buscar a porta de saída. Isso no caso de não conseguir, até 2014, tirar os peemedebistas do lugar preferencial no governo e ser “obrigado” a construir o discurso de Eduardo Campos em uma candidatura alternativa à da presidente Dilma Rousseff.
Parte dessa tendência do PSB pode ser observada num artigo do vice-presidente do partido, Roberto Amaral, desta semana, sob o título A sobrevivência do velho no novo. Amaral fala dos avanços obtidos nos 10 anos de um governo de centro-esquerda no país, mas ressalva: “Estamos ainda a pagar um preço absurdamente elevado pela governabilidade, o nome elegante da construção da base de apoio parlamentar, preço que impede o avanço político”. E vai mais além: “O governo, acossado pela crise de 2005 (mensalão), optou pela composição a mais ampla possível — e elástica tanto do ponto de vista do espectro ideológico quanto do padrão ético —, abrigando sob suas asas desde a esquerda (…) a partidos como o PP de Maluf, o PTB de Roberto Jefferson, e as armadilhas dos soi-disant evangélicos, enfim, uma malta que tem sua grande homenagem no velho e notório PMDB”.
Os planos socialistas, entretanto, esbarram na realidade. Ontem, os senadores do PMDB se preparavam para confirmar a candidatura de Renan Calheiros a presidente do Senado. Ele, inclusive, elabora um plano de governo com auxílio de senadores como Vital do Rego (PMDB-RN). Fora do script, por enquanto, além do PSB, estão o PDT, o PSol e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), cuja posição deve ser acolhida pela bancada do PSDB, partidos insuficientes para derrotar Renan.
O PT, que terá a primeira vice-presidência do Senado sob o comando de Jorge Vianna, do Acre, deve apoiar o peemedebista porque não quer confusões com a bancada de Sarney e Renan no Senado. Além disso, se a situação se complicar para Renan mais à frente, o PT sempre poderá dizer que cumpriu o acordo e que senador alagoano se enroscou nas próprias pernas. E, de quebra, o presidente da Casa seria petista.
Para completar, a presidente Dilma, até aqui, não deu um único sinal de que pretende mudar de parceiro eleitoral ali na frente ou mesmo escantear os peemedebistas. O PMDB ainda é o partido com maior número de prefeitos e uma grande bancada de deputados federais. A avaliação é a de que, se o mensalão passou por sobre o Planalto sem sequer estragar o penteado presidencial, a aliança com o controverso PMDB também passará. Ou seja, o quadro atual é o de que Dilma fez a sua escolha, o PMDB. Eduardo Campos também fez a sua, de não dar asas ao PMDB. Ali na frente, leia-se em 2014, cada um terá a chance de rever essas opções. Mas essa hora ainda não chegou. Primeiro é vencer 2013, um ano que já vem sendo classificado por muitos como o ano trágico. E não é só por conta da tragédia de Santa Maria, onde a dor não passa. Na política, as agruras de muitos estão apenas começando.

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