terça-feira, janeiro 15, 2013

Acabou a desculpa para o Brasil não crescer - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 15/01


Quem analisa a economia com um olho na estrada e outro no retrovisor é incapaz de reconhecer no cenário projetado para o Brasil em 2013 o mesmo país de três anos atrás. Naquele momento — mais precisamente em 2010 —, o governo jactava-se de que o Brasil ia muito bem, obrigado. E fazia questão de dizer que os países desenvolvidos estavam mergulhados numa crise que acabaria por levá-los para o fundo do poço. Hoje, o cenário é outro.

O mundo parece recuperado ou, pelo menos, estar saindo da situação de maior apuro, enquanto o Brasil, na melhor das hipóteses, parece empacado. Segundo um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado ontem, as perspectivas de crescimento do Brasil este ano são menos otimistas do que a de países que sofreram as consequências mais agudas da crise (conforme mostra a reportagem da pág. 6). Para 2013, a maioria dos países do mundo (inclusive os da Europa) esperam taxas de crescimento superiores às projetadas para o Brasil. Nos Estados Unidos, a expansão deve ser consistente: cerca de 2,5% em 2013 e pelo menos um ponto percentual acima disso em 2014.

Caso as hipóteses de um crescimento mais robusto da Europa, dos Estados Unidos e da China se confirmem, cairá por terra a desculpa que apontava a crise internacional como o maior obstáculo ao crescimento brasileiro nos últimos anos. Sim. Muito embora existisse em 2010 a crença generalizada de que o Brasil ia bem em meio à crise mundial por haver adotado um modelo de crescimento baseado na inclusão social, o fato é que o país não teve forças para crescer nos últimos dois anos.

A opção por um modelo fiscal estúpido, um monte de picuinhas políticas e outros problemas na mesma linha tiraram a competitividade da indústria e impediram que o país atraísse os recursos necessários para financiar o crescimento. Enquanto esse modelo persistir, a economia brasileira só crescerá quando os países desenvolvidos estiverem em expansão.

Por essa razão, a provável reação da economia mundial é a melhor notícia que o Brasil poderia receber neste momento em que o cenário ganha ares nebulosos. Mais do que os programas de distribuição de renda, a expansão do crédito e o estímulo ao consumo por meio de renúncias fiscais, o que assegurou o crescimento em 2010 foi o modelo baseado na exportação de commodities.

Tanto isso é verdade que, no ano passado, o governo fez tentativas de expandir o consumo muito mais ousadas do que as de 2009 e 2010. Só que a economia não reagiu. Com a China e a Europa crescendo, as vendas de minério de ferro, de soja e de outros alimen-tos devem crescer. E, como isso, todo o resto. Será mais uma oportunidade de consertar o que está errado para que o país deixe de depender tanto das commodities para crescer.

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