sábado, junho 02, 2012

‘Pibizinho’ de Mantega - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 02/06

Da boca para fora, Guido Mantega diz que o “pibizinho” de 0,2% no primeiro trimestre “é uma imagem no retrovisor”. Ou seja, daqui para frente, tudo vai ser diferente. Mas, no Planalto, o número fez ligar as sirenes do governo. Vai apressar novas medidas para tentar fazer a economia pegar no tranco.

‘Pibizinho’ de R10

A passagem de Ronaldinho pelo Flamengo também não rendeu bons contratos de publicidade para atleta e clube. O maior foi com a chinesa Moto Traxx. Quando o Fla foi hexa brasileiro, em 2009, de cada seis camisas vendidas, uma era de Adriano. Agora, em 2012, só uma de cada 26 foi de R10.

Cerveja quente

Para o setor, o aumento de 27% no imposto da cerveja e de 10% no do refrigerante deve elevar o preço final de 5% a 10%, bem acima do que calcula o governo. As fábricas preveem queda nas vendas, e menor geração de impostos, o que tornaria o reajuste da tributação inútil. É. Pode ser.

Lula no Rio

Lula vem ao Rio quarta agora. Vai inaugurar o BRT da Zona Oeste com Paes e participar de encontro com caciques do COI.

À la Zózimo

E Marconi Perillo, hein? Como se diz em Frei Paulo, o tucano parece mais sujo do que pau de galinheiro. Com todo o respeito.

Garota faz 50
Celso Fonseca, o músico, vai trabalhar na direção musical de um tributo a “Garota de Ipanema”, a canção, que faz 50 anos. A homenagem ao clássico de Tom e Vinicius, um dos hinos da bossa nova, é projeto grande para o segundo semestre.

A TURMA DA coluna celebra, neste finzinho de outono, a harmonia entre homens e animais. Apesar da máxima de que “o cachorro é o melhor amigo”, outros bichos, como estas aves, também são fieis companheiros do ser humano. As imagens não negam, repare. Ao lado, o advogado Marcos Halfim vira pista de pouso para o conforto de uma rolinha, no Jardim Botânico. Acima, o pescador, que labuta nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas, ajeita a rede observado por Nininha, a bela garça que costuma ganhar uns peixinhos do amigo. Que Deus as projeta, e a nós não desempare jamais

Se a moda pega
A notícia chamou a atenção do coleguinha e escritor Edney Silvestre. O governo de Nova York cassou a permissão de 26 empresas de ônibus que não davam segurança aos passageiros. “Isso vai salvar vidas”, disse o secretário de Transportes, Ray LaHood. Deve ser terrível... você sabe.

Upa, cavalinho

Dia 24 agora, na Inglaterra, a rainha Elizabeth II vai condecorar o banqueiro Eduardo Moreira, ex-Pactual, por seus “esforços para banir a violência no trato aos cavalos” no Brasil.

Peço a Deus
 Padre Omar, da Paróquia do Cristo Redentor, grava semana que vem com Diogo Nogueira o
clipe do samba “Peço a Deus”. É aquele que Mestre Marçal e Caetano gravaram em 1985.

Charme de Stefhany

O fã-clube da cantora piauiense Stefhany Absoluta (foto), aquela que surgiu como fenômeno na internet, lembra?, iniciou uma campanha no Facebook e no Twitter para que a musa faça uma ponta na novela “Cheias de charme”, da TV Globo. Veja em http://bit.ly/KRYlo5. A turma acredita que as pesonagens domésticas cantoras da trama são inspiradas em Stefhany. É. Pode ser.

Carnaval 2015

Segunda, Jorge Castanheira será reeleito presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio. Seu novo mandato na Liesavai até 2015.

De volta

O engenheiro Luiz Edmundo Costa Leite assume segunda agora a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Cabral, no lugar do deputado Alexandre Cardoso, que vai retornar à Câmara, em Brasília.

Viúvas de Ronaldinho

Do rubro-negro amargurado Maurício Menezes, mistura de jornalista e humorista: — Três setores da economia estão preocupados com a possibilidade de Ronaldinho Gaúcho sair do Rio: as casas noturnas, os grupos de pagode e os fabricantes de gel... Faz sentido.

Pra dizer adeus! - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 02/06

Ronaldinho Gaúcho praticamente não dormiu na noite de quinta-feira, depois de anunciar sua saída do Flamengo. Ontem de manhã, foi ao síndico reclamar da algazarra até altas horas da madrugada na vizinhança, sem se dar conta de que comemorava-se seu bota-fora do condomínio.


Se não vai deixar saudades no Flamengo, imagina no único pedaço onde, a julgar pelo que se ouvia nas casas próximas, a alegria de viver no Rio de Janeiro fluía entre amigos do pagode virado! Em nenhuma outra parte da cidade - nem na praia -, Ronaldinho deixou pegadas.

Fora do condomínio particular de seu espírito festeiro, o jogador interpretou nos últimos 17 meses esse personagem triste, contido e de frases feitas até na hora de dizer adeus à nação rubro-negra indignada com o custo/benefício do seu futebol: 'Em todos os lugares que vou, os torcedores me tratam com carinho!'

Coisa de quem não tem ido a lugar nenhum! Bronca da torcida do Flamengo à parte, o Rio dá adeus com absoluta indiferença a um cara que nem de longe chegou a conhecer.

Azar dos moradores do Santa Mônica Jardins, na Barra da Tijuca, esses que viram muito de perto o Ronaldinho que não ousou ser ele mesmo fora do condomínio! 

Agenda positiva

Ainda que não tenha esclarecido patavina sobre seu encontro com Gilmar Mendes, a presença de Lula no Programa do Ratinho serviu, no mínimo, para derrubar a audiência do reality show A Fazenda. Essas coisas a oposição não vê - ô, raça!

Mal comparando

A defesa de Demóstenes Torres deu a entender que, quando descobriu que Carlinhos Cachoeira era bicheiro, o senador ficou tão surpreso quanto Ronaldo Fenômeno ao se dar conta de que aquelas moças da Barra da Tijuca eram travestis! Seria, portanto, só mais um caso típico de falta de decoro involuntário!

Poder dos astros

Claro que a chanceler alemã Angela Merkel sabe direitinho onde fica Berlim no mapa, assim como o candidato republicano Mitt Romney tem a exata noção de como se escreve o nome 'América'. Ocorre que, com Mercúrio e Marte em quadratura, todo mundo está sujeito a cometer erros monumentais. Taí o Lula que não me deixa mentir!

Só o que faltava!

Cléo Pires está completamente

loura!

Workshop de presidente

Está explicado por que o senador Aécio Neves anda tão à deriva do debate político em Brasília. Ele começou a ensaiar pra valer o personagem de candidato à presidência da República. Passa os dias falando para o espelho! Cismou que isso tem a ver com Stanislavski.

Pechincha do Timão

De um diretor do Corinthians justificando o acerto de contas com Adriano (foto) em torno do R$ 1,8 milhão a que o jogador julgava ainda fazer jus, em acordo rapidamente costurado pelo clube depois que Ronaldinho Gaúcho foi à Justiça do Trabalho cobrar R$ 40 milhões do

Flamengo: 'O Imperador tá barato pra

caramba!'

Pacote e porta - CRISTOVAM BUARQUE

O GLOBO - 02/06


Os “pacotes” de curto prazo voltaram à rotina no lugar de políticas econômicas.

A razão disto está no entrelaçamento dos problemas de difícil desatamento que foram se acumulando e da resistência dos agentes econômicos a reorientarem os propósitos da economia brasileira, encontrando uma porta para novos tempos, ao invés de pacotes para manter o velho ritmo.

Estamos sequestrados pelo Real valorizado. Mantê-lo apreciado motiva desindustrialização, sua desvalorização eleva o custo dos insumos na produção nacional e dos preços dos bens importados.

Em uma economia aberta isso significa inflação. E escassez numa economia exportadora de bens primários e importadora de bens de alta tecnologia.

Estamos amarrados ao desempenho da indústria automobilística. A economia sofrerá se reduzirmos a produção e a venda de carros, mas para dinamizar a indústria de automóvel é necessário facilitar crédito e desonerar impostos, aumentando o impacto ecológico e o caos nas cidades.

E facilitar crédito leva à inadimplência, desonerar impostos gera problema de déficit e reduz investimento público, inclusive para as obras em infraestrutura urbana necessária para evitar o colapso, já em marcha, das cidades e estradas.

Os juros altos nos aprisionam há décadas, mas sua redução pode reduzir o fluxo internacional de divisas para o Brasil e insuflar crédito e consumo, com ameaça à estabilidade monetária, além do aumento ainda maior da inadimplência.

A exportação de “commodities” permite gerar superávits na balança comercial, mas implica em vulnerabilidade à demanda e à vontade de outros países, especialmente a China, devido à baixa elasticidade da demanda por esses produtos, e ao risco decorrente de novos produtores, especialmente na África.

O baixo investimento crônico em C&T nos faz escravos da baixa competitividade, por não produzirmos bens com características inovadoras, de alta tecnologia.

Nossos produtos levam a marca “feito no Brasil”, mas não “criado no Brasil”. Para sair dessa escravidão precisamos reformar drasticamente o frágil setor produtor de conhecimento, fruto de décadas de uma universidade divorciada do setor produtivo e do baixo investimento privado em inovação.

Somos viciados nos gastos públicos, sobretudo para custeio, com todas as suas consequências, mas reduzi-los têm implicações fortemente negativas sobre os serviços públicos e sobre a demanda agregada.

Somos prisioneiros da baixa capacidade de poupança por parte da população, porque o imediatismo da cultura de consumo, que caracteriza a economia brasileira, impede elevar a poupança agregada para o nível necessário; mas se dermos incentivos para aumentar a poupança vamos ter restrição de consumo e, em consequência, de crescimento.

Temos amarras legais e comportamentais que tornam difícil uma reorientação da economia: o corporativismo, que impede aos agentes políticos a visão do interesse nacional; a insegurança jurídica, que não permite estabilidade na antecipação das decisões tomadas pelos agentes econômicos; e também amarras constitucionais que podem transformar crises econômicas em institucionais, porque medidas simples exigem Propostas de Emenda à Constituição.

Uma forte amarra está na euforia que os últimos governos têm passado e que funciona como um falso vento que consegue soprar as velas do barco, até que se descubra que o vento é ilusório.

Enquanto prevalece o imaginário de que tudo está bem fica difícil perceber que a economia não vai bem e promover uma mudança de rumo. E com isso vamos adiando a busca de soluções, continuando com os pequenos ajustes dos pacotes.

A principal causa da opção por pacotes, ao invés de porta, está na miopia de olhar apenas para o curto prazo, no lugar de políticas de longo prazo, e na falta de vontade nacional para reorientar os rumos da economia.

Os pacotes são formulados de acordo com o cronograma eleitoral e não segundo as tendências das variáveis do processo econômico no país e no mundo.

Até outubro de 2012, busca-se passar a impressão de que há uma boa taxa de crescimento do PIB. Logo depois será tempo de pensar em 2014.

Ao invés de desatar o entrelaçamento de problemas, vamos adiando a construção de uma política de médio e longo prazo, que não apenas use “pacotes”, mas enfrente os entraves estruturais, abra a porta para um novo modelo de desenvolvimento, buscando a elevação do bem-estar, não necessariamente da taxa de crescimento, em equilíbrio com o meio ambiente e passar a produzir bens com alto conteúdo de conhecimento.

O risco calculado do ex-presidente - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 02/06

As frases de Lula revelam os planos do ex-presidente. O homem parece querer recuperar o tempo em que esteve em tratamento. Ele sabe que assim pode ser acusado de fazer campanha antecipada. É o menor dos problemas, quando o que está em jogo é o fato de ter escolhido o nome errado em São Paulo

Distante da Esplanada — das calcinhas encontradas no plenário da Câmara dos Deputados e de vibradores roubados em lojas na Asa Sul —, a campanha eleitoral parecia se mexer lentamente. Mesmo com um ou outro entrevero, as eleições seguiam discretas, quase caladas. Seguiam. Tudo mudou na noite de quinta-feira com a entrevista ao vivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira ao vivo desde que o homem encerrou o tratamento contra o câncer. O petista trouxe a disputa das urnas para o cotidiano ao fazer propaganda aberta para ele mesmo, para Dilma Rousseff e para o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. Tudo ao mesmo tempo.

Lula definiu todos os detalhes, desde a escolha do programa de televisão — o do Ratinho, do SBT — ao tempo que iria falar. E falou muito. Não poupou a voz nenhum pouco. Evidentemente, começou pelo câncer e, por tabela, a superação da doença. As frases foram pensadas letra por letra, sem deixar margem para questionamentos canalhas sobre o tratamento em hospital privado. No discurso do ex-presidente, todos os brasileiros deveriam ter acesso ao acompanhamento que ele teve. Se isso não é possível, não é culpa dele, mas sim da oposição, que derrubou o financiamento da saúde, a CPMF.

Os recados de Lula, entretanto, ainda estavam por começar. Primeiro endereçado aos eleitores de 2014: “Não há possibilidade de ter divergência entre a presidente Dilma e eu. Porque se tiver, eu me retiro. Serei cabo eleitoral para reeleger a presidente Dilma. A única hipótese de eu voltar a ser candidato é se ela não quiser. Eu não vou permitir que um tucano volte a presidir o Brasil”. Lula e o velho discurso messiânico estão de volta. Sem ele ou Dilma o país está perdido. Aqui não está claro, mas Lula concordaria com outro partido no poder para substituir o PT? A guerra é apenas com os tucanos?

Sim, a guerra é com os tucanos. Lula quer mais eleições ganhas pelo PT, independentemente da cor da legenda adversária, até porque o DEM e o PPS estão longe de alguma chance, e as demais são aliadas. O que ele fez ao citar os tucanos foi predefinir o adversário, algo natural. O impróprio é desconsiderar a saudável alternância de poder, jogá-la para o espaço — algo caro a países democráticos, como os da Europa. Lula e Dilma têm o direito de querer permanecer no poder. Até quando o eleitor quiser. E isso deve ser defendido por todos: a vontade do eleitor, e não a dos políticos. Saudemos as urnas.

A entrevista de quase uma hora não se completaria, no entanto, sem Fernando Haddad, que foi ao palco do programa para participar do show. Não precisou de muito esforço, um coadjuvante de luxo. A estrela, Lula, estava de volta à ribalta, a exaltar feitos e a queimar a oposição. Sem interlocutores contrários — e contando com as palmas do auditório —, o cara é imbatível. Até quem não gosta, é incapaz de discordar da capacidade do ex-presidente em encantar a plateia. Lula fez o filme de Haddad sem qualquer limite, a mais de um mês do começo oficial da campanha: “São Paulo precisa ter alguém com o entusiasmo que ele teve como ministro”, disse Lula.

Tal frase só pode ser explicada pelo receio de que Haddad perca a eleição. Há tempos Lula passou a ser visto como um bruxo político. As escolhas do ex-presidente pareciam mágicas, como a própria Dilma em 2010. Agora, o homem parece ter se equivocado. O ex-ministro ainda não decolou e, hoje, dá poucos sinais de que vai conseguir enfrentar o tucano José Serra. Por isso, a língua solta de Lula. Ele quer recuperar o tempo em que esteve em tratamento. Vai incensar Haddad até não poder mais. E, assim, corre o risco de receber sanções pela campanha antecipada. Mas isso é o menor dos problemas, quando o que está em jogo é o fato de ter escolhido o nome errado em São Paulo.

Outra coisa

É impossível se sensibilizar com a indignação explícita do deputado Silvio Costa (PTB-PE) contra o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). De tão estridente, parece algo falsificado, sem a emoção da revolta. E tudo ocorre no momento em que mais precisamos de alguma alma mais colérica de fato.

Se há algo de positivo na “explosão” de Costa, tal coisa passa pela avaliação de que as denúncias anestesiam integrantes da CPI do Cachoeira. “Não quer falar, tudo bem, é um direito constitucional”, dizem os integrantes da comissão de inquérito parlamentar. Qual o quê! O silêncio dos convocados é vergonhoso. Mas seria bem melhor ninguém se aproveitar de palanque político para se indignar.

Barbas de molho - ROBERTO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 02/06


É tempo de cautela e caldo de galinha, de não dar o passo maior que a perna, de botar as barbas de molho

Com o dólar a R$ 2 a agricultura ganha ou perde?

De maneira geral ganha, porque boa parte de nossa produção rural -a de exportação- tem seus preços estabelecidos em dólar. Ora, como o produtor brasileiro recebe em reais, quanto mais valorizado o dólar, tanto mais reais ele receberá por unidade produzida. Em outras palavras, ganha mais.

Mas há um risco embutido nessa questão: os agricultores estão, exatamente neste momento, comprando seus insumos para o plantio da safra de verão.

Grande parte deles é importada, e os preços já subiram em dólar, como é o caso das matérias-primas para fertilizantes. Portanto, os custos de produção vão aumentar.

Qual é o risco? É comprar insumos com o dólar valorizado e vender a produção com o real valorizado: isso seria ruim, provocaria o descasamento da renda -como já aconteceu outras vezes no passado-, levando ao endividamento os produtores que estiverem muito alavancados.

Felizmente, a situação das dívidas rurais hoje é muito menor do que em anos anteriores, como em 2004, por exemplo, quando aconteceu um movimento parecido com esse. Os últimos três anos permitiram certa capitalização do campo, e os produtores estão usando mais capital próprio e menos crédito.

Mas mesmo que os preços em dólar não caiam muito e o dólar não desvalorize, a tendência para a safra 2012/2013 é de redução das margens em relação aos últimos anos.

A isso se soma outra incerteza: a crise europeia. Ela está durando mais do que se imaginava há alguns meses e se agravando em outros países além da Grécia. Com isso, especuladores caíram fora do mercado agrícola e trataram de procurar outros ativos de menor risco, como o próprio dólar. E este também se valoriza com isso.

Mas pior será se a crise atingir a economia de países emergentes, causando retração do comércio e queda da demanda por alimentos. Não é muito provável que isso aconteça, mas é possível. E, se acontecer, os preços das commodities agrícolas cairão de verdade, em dólar, logicamente, e isso teria reflexos negativos na renda rural de produtores do mundo todo, inclusive aqui.

É bem verdade que os preços estão em patamares tão acima das médias históricas que precisam cair bastante para voltar a níveis que não cubram os custos de produção no Brasil.

Dessa forma, os riscos não são muito grandes. Mas o nível de incerteza é tanto neste mundo conturbado, a agricultura é por si mesma uma atividade tão arriscada que pode acontecer uma conjunção de fatores negativos, do tipo:

1) Os custos de produção sobem devido ao dólar valorizado;

2) O dólar desvaloriza na hora de vender a safra;

3) Os preços globais caem em dólar por causa da crise europeia aprofundada, reduzindo o consumo e a demanda por commodities agrícolas em geral.

Seria muito azar se isso tudo acontecesse, de modo que a probabilidade dessa conjunção é pequena. E seguramente não teremos La Niña na próxima safra. E como o nível de endividamento não é mais o que foi no passado, o setor está bem mais capitalizado.

Juntando tudo, não há razão para ser pessimista, ainda.

Mas que as margens vão diminuir, vão. Então, também não há razão para nenhuma euforia.
É tempo de cautela e caldo de galinha, de não dar o passo maior que a perna, de não fazer muita onda.
Ou, como se fala na roça: é tempo de botar as barbas de molho.

Até porque, os vetos colocados no projeto da Câmara dos Deputados sobre o Código Florestal -e mais a medida provisória editada para completar a legislação pertinente ao tema- criaram alguma incerteza a mais.

A medida provisória já está em vigor, mas poderá ser alterada ainda neste ano no Congresso, uma mecânica legislativa complexa.

Mas, eventualmente, a legislação definitiva pode até demorar um pouco mais, sem falar em outras possibilidades já aventadas, como Adin, mandado de segurança etc.
Mais molho para as barbas...

Genérico - SONIA RACY


O ESTADÃO - 02/06

Depois de o Bar Leo vender chope Brahma que não era Brahma, é a vez do doce de leite. A franquia do Café Havanna no shopping Pátio Higienópolis usa, em bebidas e quitutes, ‘dulce de leche’ SanCor. E não o seu próprio, como pode supor o consumidor. Indagados pela coluna, funcionários admitiram que só itens industrializados e o café expresso com doce de leite levam Havanna.

Os demais, como o famoso cheesecake (R$ 15), são preparados com o genérico, que, no Pão de Açúcar, custa R$ 4,99 (250 gramas). Já o original é encontrado nas lojas Havanna por R$ 17 (450 gramas).

Genérico 2
Questionado, Renan Ferraciolli, do Procon, explica: “Como o cardápio não especifica que usa marca diferente, é gerada uma expectativa legítima no cliente de que ele estaria consumindo doce de leite Havanna, o que pode configurar oferta enganosa”.

E finaliza: a empresa tem o direito de usar outra marca, mas deve informar, claramente, a decisão ao consumidor.

Mommy dearest
Tayyp Erdogan, primeiro-ministro da Turquia, referiu-se à presidente como “minha irmã Dilma”.

Erdogan explicou, durante encontro com Michel Temer em Istambul, que Dilma foi ao enterro de sua mãe na última visita oficial ao país – quando as reuniões entre os dois tiveram de ser canceladas.

E afirmou ter ficado muito tocado com o gesto.

Da próxima vez…
Walter De Gregorio só lamentou uma coisa em sua rápida passagem pelo Rio – onde participou do anúncio da tabela da Copa das Confederações. Mesmo hospedado em hotel à beira-mar, o diretor de Comunicações da Fifa não encontrou tempo na agenda para pisar na areia de Ipanema.

À coluna, De Gregorio antecipou: pretende trazer a família, no início de 2013, para passar férias no Brasil.

T de talento
A família Silvio Santos está para lá de feliz. A novela Carrossel, de Iris Abravanel, vive bom momento, dando 15 pontos no Ibope; Patricia Abravanel bate 10 pontos com seu programa Cante Se Puder; e SS continua vice-líder aos domingos.

Móveis e utensílios
A Hyundai Mostra Black e Valéria Baraccat, do Instituto Arte de Viver Bem, brindam, amanhã, parceria entre o evento e a ONG – que se dedica a pessoas com câncer de mama.

A mostra entrará com a colaboração de seus profissionais e fornecedores – que farão doações para a construção da Casa da Mulher.

Estante
A pedido de Bia Lessa, FHC listou os livros que mais o influenciaram em sua formação. A seleção estará nas estantes da biblioteca (de sete mil volumes) do projeto Humanidade 2012 – que acontece durante a Rio+20.

Entre outros, o ex-presidente citou Casa Grande e Senzala, O Capital e Raízes do Brasil.

Febre média?
De termômetro na mão, Guido Mantega mede. Estuda aumentar para mais de R$ 100 mil a renegociação de dívidas com pagamento parcelado de impostos.

Atenção, atenção
A Atento negocia compra da Tivit. Se tiver sucesso, assumirá a liderança do mercado brasileiro de call center – superando a Contax, do Grupo Oi.

Segurança
Celso Amorim está preocupado com os onze observadores brasileiros que cumprem missão militar na Síria. Falou a respeito com Kofi Annan, em Genebra.

Quatro patas
Domingo, dia 9, acontece a segunda etapa da Equitahorse, prova criada pelas irmãs Carla Vidal e Giovanna da Matta. Espera-se mais de 200 participantes na Hípica Bonanza, em Atibaia.

Na frente
Carlos Issa comanda, hoje, mais uma edição da Tarde Abstrata, na Galeria Logo – projeto experimental aberto a novos músicos.

Tem leilão de cavalos, hoje, no Haras Villa Hana, de Vera Diniz. Em Indaiatuba.

Telmo Rodríguez faz jantar no Clos de Tapas, a convite de Ciro Lilla. Segunda.

Alexandre Birman convidou artistas plásticos, como Isabelle Tuchband, Verena Matzen e Pedro Silva, para pintar sapatos em tela na reinauguração de sua loja. Terça.

DJ Zé Pedro reúne cantoras em tributo a Guilherme Arantes. Segunda-feira, no Teatro da Fecap.

Obama deu uma de romântico. Postou, em seu Facebook, uma foto abraçado aMichelle, tirada em 1992. Legenda? “Vinte anos depois, ela ainda dá abraços maravilhosos”.

O PIB patina (de novo) - O GLOBO


O GLOBO - 02/06

Investimento em queda e arrocho fiscal fazem país estagnar, já sob efeito da crise global


Fabiana Ribeiro, Henrique Gomes Batista, Clarice Spitz, Roberta Scrivano e Vivian Oswald

RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA

O ano de 2012 não começou bem para a economia brasileira. O IBGE divulgou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre de 2012 em relação aos três últimos meses do ano passado. Mesma taxa do trimestre anterior. Resultado influenciado por uma forte queda na agropecuária (-7,3%) e nos investimentos, que caíram 1,8% na esteira da crise global, a maior redução desde primeiro trimestre de 2009. O resultado não foi pior pelo desempenho do consumo das famílias, que cresceu 1%. Assim, o PIB somou R$ 1,033 trilhão no período - resultado aquém do esperado por agentes financeiros e pelo próprio governo.

- Nós não falamos nem em crescimento quando há 0,2% de alta, da mesma forma que não falamos em queda quando há uma baixa de 0,2%. O PIB ficou mais para estável - afirmou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

O resultado do começo do ano põe em xeque a eficácia das medidas de estímulo à economia, que estão sendo tomadas desde agosto do ano passado. As desonerações vieram junto com uma política fiscal restritiva, o que teve impacto forte nos números da economia. O governo fez as contas e concluiu que o país poderia ter crescido 0,4% no trimestre, em vez de 0,2%. Em tese, sem o arrocho fiscal, que segurou os gastos do orçamento, o crescimento teria sido o dobro.

Diante da taxa do primeiro trimestre, o resultado deste ano pode ser ainda pior do que o crescimento do ano passado, que foi de 2,7%. Analistas reviram ontem suas projeções e aumenta a expectativa de que a economia brasileira cresça perto de 2%. Mas, até para isso, o país precisa acelerar: se for mantida a velocidade do primeiro trimestre, o PIB cresceria apenas 0,8% neste ano, segundo as contas da LCA Consultores.
- É um ritmo muito fraco, que torna praticamente impossível fechar o ano com crescimento de 3%. Para isso, os próximos três trimestres teriam de crescer 1,7% em média. O PIB brasileiro completou o terceiro trimestre consecutivo de virtual estagnação -disse Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores.
Taxa de investimento caiu para 18,7%

O PIB brasileiro também foi fraco em relação ao primeiro trimestre do ano passado, crescendo 0,8%, o menor avanço desde o terceiro trimestre de 2009, praticamente metade das estimativas do mercado de 1,5%. Também na comparação, o investimento encolheu 2,1%, sendo o único item a se retrair sob a ótica da demanda. Com isso, a taxa de investimento do PIB, que era de 19,5% no primeiro trimestre de 2011, caiu para 18,7%.

Os analistas foram surpreendidos pela indústria e pela agropecuária. Após a produção industrial, divulgada na quinta-feira pelo IBGE, ter apresentado novos números negativos do segmento, o PIB indicou que a indústria chegou a crescer 1,7% no primeiro trimestre ante ao quarto trimestre de 2011 - acima, inclusive, dos serviços (0,6%). Mas, na comparação com o começo do ano passado, a alta foi de apenas 0,1%, com a indústria de transformação apresentando retração de 2,6%.

Fernando Bueno, dono da indústria Bitzer, que produz compressores para refrigeração comercial e de fábricas, amargou redução de 13% em seu faturamento no primeiro trimestre deste ano. O resultado até maio não mudou muito a tendência, com queda acumulada no período de 12%. Como seu produto é destinado a indústrias e unidades comerciais, ele atribui o menor movimento neste ano à escassez de investimento por parte dos seus clientes.

- A falta de perspectiva de ganho é geral. Sendo assim, meus clientes não estão investindo e não têm comprado novos compressores - disse Bueno.

Outra surpresa sai da agropecuária, com queda de 7,3% nos primeiros três meses do ano. Na comparação com igual trimestre do ano passado, a redução foi ainda maior, de 8,5%. De acordo com o IBGE, houve queda na produção nas safras de soja (-11,4%), arroz (-13,8%) e fumo (-15,9%), além de recuo na produtividade.

- Pelo que investimos, era para o país ter sua maior safra, mas por problemas climáticas, como a seca, teremos um ano ruim. Somente em soja, perdemos 8 milhões de toneladas, ou o equivalente à produção de Goiás - afirmou Rosemeire Santos, economista da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), temendo pelo setor: - Isso, somado à queda dos preços dos alimentos no mundo e com a inadimplência que está fazendo os bancos diminuírem os empréstimos, podem comprometer ainda mais os investimentos do setor.

Entidades já afirmam que a economia não deve conseguir crescer nem 3% neste ano. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) prevê alta entre 2% e 2,5% no ano. A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) não cravam um número, mas estimam que o incremento não chegará a 3%.

- O conjunto das medidas, ou seja, juro baixo, câmbio, redução do IPI e as desonerações, deve trazer algum resultado no segundo semestre. Creio que o segundo trimestre ainda virá fraco - avaliou Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi.

Setor bancário encolheu 0,8%
Dentro de serviços, o único setor a registrar taxa negativa foi o de intermediação financeira, segmento que corresponde a 11% do setor e 7,4% do PIB, e teve recuo de 0,8% na comparação anual. O segmento, que liderou o crescimento nos momentos de grande avanço do PIB, pode estar refletindo, segundo Rebeca, um crescimento menor do crédito, a queda dos juros que reduzem os lucros dos bancos e o aumento da inadimplência, que acaba elevando as provisões bancárias para empréstimos duvidosos. As atividades imobiliárias e de aluguel, por sua vez, ficaram praticamente estáveis, com alta de apenas 0,1%.

O IBGE divulgou também revisões na evolução do PIB no ano passado. No quarto trimestre de 2011, a taxa de expansão mudou de 0,3%, calculada anteriormente, para 0,2% na nova estimativa, em comparação ao trimestre anterior. No primeiro trimestre de 2011, a taxa de expansão mudou de uma alta de 0,6% para crescimento de 0,9%.

Números diferentes na indústria

Os números da indústria no PIB, que mostraram crescimento de 1,7% no trimestre frente ao fim do ano passado, surpreenderam os analistas. A Pesquisa Industrial Mensal, realizada pelo mesmo instituto, o IBGE, revelava retração no início do ano. Segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais, a indústria no PIB é mais abrangente, incluindo setores como construção civil e produção de água, energia elétrica e esgoto:
- No quarto trimestre do ano passado a indústria da transformação encolheu 3,1% sobre o mesmo período de 2010. O primeiro trimestre deste ano foi 2,6% menor que o primeiro trimestre de 2011. Isso mostra que neste trimestre, houve uma leve recuperação - disse.

Segundo Rebeca, em momentos de crescimento mais estável, essas diferenças não aparecem tanto. Quanto há turbulência, podem haver essas divergências. Esse descolamento, segundo o Ipea, não acontecia desde 1997.

ET não quer mais 'go home' - MARCELO RUBENS PAIVA


O ESTADÃO - 02/06


Dizem que devemos ver filmes americanos apenas para nos divertir: entretenimento puro de lógica aristotélica e trama mastigada com começo, meio e fim, que não deixa dúvidas ou final em aberto, produção tecnicamente impecável de efeitos mágicos, que torna o projetado mais fascinante do que o mundo ao redor.

Mas quem viveu em outros tempos costuma assistir para acompanhar as atuais noias da Corte e checar qual mensagem subliminar ela quer passar para a militância do mundo livre.

A indústria está conspirando em conluio com o império que mais se utilizou dela em tempos de guerra, ou... relaxa, se liga no tamanho da pipoca, lugar marcado, conforto da poltrona e esterilização dos óculos 3Ds?

Cinco das dez grandes produções atuais mostram que o mundo está por um fio. O planeta é geralmente ameaçado por mudanças climáticas, asteroides ou ETs. A distância da Guerra Fria trocou o pavor das bombas caírem em mãos erradas e mal-entendidos pela ciência dos erros da nossa industrialização, incapacidade de uma ação ou consenso coletivo e do terrorismo.

Nas outras cinco produções, são zumbis e vampiros que aparecem para atormentar a paz entre suburbanos reféns do mercado financeiro.

Todas seguem um mandamento: o cidadão periférico deve estar alerta à invasão clandestina e alienígena. E espelham a polarização da política local. Podem ser divididas em democratas e republicanas.

Democratas: a falência da ética devido à corrupção do mercado exige um poder centralizador, forte, que prioriza a diplomacia. Em Independence Day, exemplo de filme democrata, é o presidente quem lidera o esquadrão de caças a abater a nave inimiga após exaustiva negociação.

Republicanas: o cidadão comum se junta a seus pares e, com a excelência do arsenal privado, guardado na garagem da casinha do subúrbio ou na camionete, arregaça as mangas e parte pra luta, já que o Estado é incompetente. Marte Ataca e Guerra dos Mundos são dois exemplos de filmes republicanos. Como Armageddon, em que petroleiros são enviados ao espaço e salvam a humanidade ao pousarem num meteoro com perfuradoras e uma potente bomba.

***

A série de filmes Homens de Preto (MIB) é nitidamente democrata. Aliás, a melhor piada da versão em cartaz, a terceira, é quando o agente J (Will Smith), de terno e gravata, pega o achocolatado de uma menina, que diz baixinho para a mãe: "O presidente acabou de roubar o meu copo".

Ela é protagonizada por terráqueos funcionários públicos – um carteiro, profissional mais odiado pelos americanos, um policial e uma médica legista –, que trabalham numa organização com hierarquia e tentam entender a psique de diversos alienígenas. Criam regras para um convívio pacífico através da diplomacia, sem abrir mão do ferro e fogo se a paz universal for ameaçada.

Traduzindo: é como nos vemos no mundo globalizado, em que a diversidade ocupa os mesmos espaços, as grandes cidades, deve ser respeitada e, apesar das diferenças históricas, viver em harmonia.

MIB 3 desponta como a maior bilheteria do ano, superando Os Vingadores. Com roteiro genial de Ethan Coen (o mesmo de Beavis and Butthead e Madagascar), agente J e agente K voltam ao tempo, final dos anos 60, para salvar o planeta.

The Factory, coletivo de Andy Warhol no quinto andar do 231 East 47th Street, Manhattan, é frequentado por alienígenas. Mick Jagger é ser de outro planeta, cuja missão na Terra é procriar com o maior número de membros da nossa espécie. Todas as modelos são ETs, e agente J se pergunta como não havia reparado nisso antes.

Warhol é, na verdade, um agente da organização dos Homens de Preto, que, disfarçado com sua peruca loira, não sabe mais o que fazer para fingir que é artista. "Estou tão entediado que comecei a pintar bananas e latas de sopa. Me tirem daqui, não aguento mais ouvir sítar", pede aos colegas.

MIB 3 é a voz do movimento dos direitos civis, que deve ecoar graças ao Tea Party, movimento republicano conservador que não dá folga. E há uma correção protecionista: o carro do filme anterior, um Mercedes, foi trocado por um Ford Made in USA.

***

A imaginação não tem limites. Em agosto, estreia Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, ou "presidente by day, hunter by night" (presidente de dia, caçador à noite), como diz o slogan, filme que transforma o pai da nação e libertador dos escravos em escudo contra aqueles que querem o sangue dos concidadãos. Será que Lincoln luta contra a xenofobia para unir o país dividido ou apenas defende a poupança do cidadão comum dos sanguessugas de Wall Street?

Em Cowboys & Aliens, ETs atacam uma vilinha com vaqueiros, bêbados e renegados do Velho Oeste, que se juntam aos índios para derrotá-los. Neste caso, os ETs só queriam o nosso ouro. Uma espécie de Lehman Brothers verde em forma de barata.

***

A fixação pelos ETs voltou com tudo depois do 11 de Setembro. Seres de turbante, esquisitões, que falam outra língua e acreditam em outros deuses costumam fazer estrago na arquitetura da civilização.

O contato não é nada pacífico. Se nós, quando encontramos uma civilização mais fraca (ou menos armada), como astecas, incas, tendemos a dominá-las e afanar suas riquezas, os ETs mais evoluídos não seriam diferentes. ET não quer mais "go home".

Em Os Vingadores, atacam Nova York sem piedade. Em Battleship, naves alienígenas agem no Pacífico. Em ambos, há prédios e torres desabando, engolidas em si, e fumaça dos escombros atravessando ruas apertadas. Pânico e corre-corre lembram... Você sabe.

As mensagens subconscientes de Battleship são tão sofisticadas que penso em pedir ajuda aos universitários.

Dias de hoje. Americanos e japoneses fazem manobras militares perto de Pearl Harbor. Alienígenas nos atacam. Não estão pactuados com coreanos do Norte. Querem dominar o planeta e destruir todos, até os chineses.

O que há de mais moderno em tecnologia armamentista e naval não consegue repelir. O que consegue? Um navio museu da 2.ª Guerra, o encouraçado USS Missouri, ancorado no cais, que é colocado para funcionar em tempo recorde e pilotado pela galera de hoje e por veteranos, guias do museu, que usam gírias e táticas do passado. Deu pra entender a mensagem?

Talvez devêssemos respeitar nossos soldados de guerras antigas, analógicas, valorizar sua contribuição, afinal, são responsáveis pela paz e avanços do presente. Nossos?! Meu Deus, já estou me sentindo um deles. Melhor me preocupar mais com o sal da pipoca. Ou voltar pros enigmas do cinema alternativo.

Festival de erros - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém


O GLOBO - 02/06

O imbróglio Gilmar/Lula/Jobim é o maior “pot-pourri” de equívocos e desencontros da História republicana.
Lamentável sob todos os aspectos.
Não só pelas sequelas à harmonia dos poderes, mas, principalmente pelo rompimento em dominó da amizade entre seus atores.

Fim das suspeitas
Antes do desastrado encontro, realmente, emprenhado por áulicos, Lula parecia acreditar mesmo nos boatos de que Gilmar tinha dívidas a acertar com a CPI do Cachoeira.
Depois da reunião no escritório de Jobim, Lula saiu convencido e aliviado: a contundente negativa de Gilmar não permitia dúvidas.

Levemente estranho
Gilmar, é verdade, achou esquisita aquela conversa, mas não deu a ela a importância que daria muito depois.

Descompasso
Então, o que houve de tão grave para Gilmar só reagir dias depois do encontro?
A informação atrasada de que Lula suspeitara da sua viagem a Berlim.

À luz do dia
Onde Lula errou?
Na mania do ser humano de ouvir o galo cantar, sem saber onde.
Lula sabia que o galou cantou em Berlim. Mas acreditou no que venderam a ele: viagem secreta para se encontrar com Demóstenes.
Se o ex-presidente tivesse ligado antes para o embaixador Everton Vieira Vargas, saberia que a passagem de Gilmar e Demóstenes por Berlim teve a chancela da própria representação do governo brasileiro na Alemanha.
Os dois estavam na lista de convidados de Vargas para um almoço, às 13 h, do dia 20 de abril de 2011, na embaixada brasileira.
Viagem mais secreta que essa seria impossível.

Jobim anuncia rompimento com Gilmar
Eu sabia que essa confusão toda sobraria para alguém.
Gilmar Mendes e Jobim haviam concebido um interessante projeto de resgate da memória da Constituinte. Haveria, na segunda-feira passada, a gravação de um depoimento do próprio Jobim. Ele não apareceu. Tentei saber. E ele, sem se fazer de rogado:
— Acabou! Não tem mais sentido esse projeto!
— Por quê? — perguntei desolado.
— Não, não, acabou! Não falo mais com esse cara! Depois do que ele fez, não quero mais conversa!
— Mas os senhores são tão amigos! — ponderei.
— E esse assunto acabou! Não falo mais sobre isso! E eu insistindo:
— Dizem que o senhor teria confirmado tudo a amigos — provoquei.
— Não quero saber disso! Esquece. Eles que são brancos que se entendam — respondeu-me um já quase estourado Nelson Jobim.
Diante do conselho desse mulatão, resolvi então recolher meus flaps.
Fui para o primeiro bar da esquina, discutir futebol com meus irmãos de cor Heraldo Pereira e FH.

Menos um
Os maiores perdedores dessa confusão são os próprios réus do mensalão.
Conhecido pelos votos eminentemente técnicos, muitos dos quais já favoreceram o PT, Gilmar, agora, necessariamente terá que proferir um voto político.
Para não deixar a impressão de que capitulou.

“Ah, os homens!”
Como as mulheres são diferentes.
No dia 26 de abril, enquanto os maridos Gilmar e Lula se estranhavam, Guiomar Mendes e Letícia da Silva trocavam presentes.

Copa
Ulysses Guimarães gostava de repetir seu ídolo André Malraux: “Ninguém vai ao Rubicon para pescar”.
Vivo, certamente completaria:
“Lula não foi ao encontro de Gilmar só para comer goiaba da fruteira de Jobim”.

Termômetro
Almeida Castro, o Kakay, voou ontem para Paris.
Deve ficar por lá a semana toda.
Descansando.

Viagem
Comitiva de líderes da Câmara fez o mesmo. Mas para Pequim, em missão presidida por Marco Maia. 

“Pupu! Au!”
Dilma, a vovó fofa, permaneceu quase o dia todo no Alvorada, na companhia do netinho.
Por ser o último dia da visita, Dilma optou em ficar brincando de esconde-esconde com Gabriel — a diversão preferida de avó e neto.
Dilma, fantasiada de presidente.
E, Gabriel, de Michel Temer, de quem vovó vive fugindo de se encontrar.

Sangue nas mãos - SÉRGIO AUGUSTO


O Estado de S.Paulo - 02/06


Se ela fosse uma vampira, já poderia ter sido liquidada com uma estaca no peito. Mas guerra é guerra - e a Civil Espanhola continua perturbando até hoje a vida de quem nasceu muitos anos depois de seu término oficial, em 1939. Sua última baixa foi o ex-juiz Baltasar Garzón, nêmesis dos falangistas com sangue nas mãos, profissionalmente executado meses atrás, sob aplausos da direita e de quem teme pagar por crimes cometidos até mesmo em nome de Deus.

Minto. Sua última baixa foi a História; ou, melhor dizendo, o rigor histórico.

No verbete sobre Francisco Franco no Dicionário Biográfico Espanhol da Real Academia da História, o ex-ditador não é tratado como tal, mas como um estadista tout court. Seria um erro de avaliação venial fosse o dicionário um empreendimento editorial privado, financiado por viúvas do franquismo, não uma obra monumental bancada pelo erário, que em quatro anos de execução consumiu € 6,4 milhões.

Historiadores, acadêmicos, políticos e jornalistas vinham protestando contra a omissão do qualificativo "ditador" desde maio de 2011, quando saíram os primeiros 25 dos 50 volumes da enciclopédia, ainda sem prazo para ser concluída pelos milhares de especialistas contratados para o projeto. "Uma ofensa à inteligência e à cultura democrática", assim sintetizou um furioso historiador madrilenho a impressão generalizada de seus pares. Ano passado, o ex-presidente Zapatero suspendeu a subvenção temporariamente, mas com a volta do Partido Popular ao poder, mais € 193 mil foram aprovados, em março deste ano. O PP, vale lembrar, foi fundado na década de 1970 por Manuel Fraga Iribarne, ex-ministro de Franco e seu herdeiro ideológico.

Na semana passada, a Real Academia pôs uma pedra sobre a discussão: nenhuma alteração será feita no verbete sobre Franco, capciosamente entregue a uma figura suspeitíssima, o historiador Luis Suárez Fernández.

Ex-integrante do regime franquista, membro da Fundação Francisco Franco e presidente da Irmandade do Vale dos Caídos (aquele mausoléu-monumento kitsch construído com o suor de 14 mil prisioneiros republicanos, onde o ditador repousa o sono eterno), Fernández não podia ter sido sequer cogitado para o serviço. A seu ver, Franco montou "apenas" um regime autoritário, mas não totalitário, tese somente defensável se omitidos os julgamento sumários e as execuções impostos pelo ditador, durante e depois da Guerra Civil.

Dos muitos relatos que li sobre a mais terrível guerra intestina do século 20 (Hemingway, George Orwell, vários espanhóis), nenhum me impressionou mais que o recente The Spanish Holocaust, do hispanista britânico Paul Preston. São 700 páginas de puro horror, fascinante narrativa e acachapante documentação. O subtítulo da edição em inglês (Inquisição e Extermínio no Século 20), além de evocar procedentes similaridades com o modus operandi do Santo Ofício, é mais abrangente que o da tradução espanhola (Ódio e Extermínio Durante a Guerra Civil e Depois), bem mais objetivo. O segundo advérbio faz a diferença. A fúria genocida dos vencedores não respeitou os tempos de paz. A ditadura franquista durou mais do que os 34 anos em que Franco esteve efetivamente no comando do país.

Preston dedicou a vida a pesquisar e devassar a Guerra Civil espanhola e seus protagonistas. Escreveu uma biografia devastadora de Franco (El Grand Manipulador), comparando-o aos tiranos de seu tempo (Stalin, Hitler, Mao) e a cesaristas mais recentes, como Fidel. Desmontou a visão hagiográfica que o apresenta como um gênio militar e político, que salvou os espanhóis do comunismo e da 2.ª Guerra, abrindo as portas do país para a modernidade.

Cauteloso, astucioso, manipulador, Franco inventou para si diversas máscaras: de legionário cinematográfico, estilo Beau Geste, a "pai da pátria", a derradeira do estoque. Tímido, feio, baixinho, mirrado, voz estridente, refugiou-se na fantasia. Tinha um lado panaca, que às vezes se sobrepunha aos demais. Em 1940 comprou de um vigarista austríaco o segredo de uma "gasolina instantânea", extraída da água de um rio espanhol. Embora aficionado de loterias, jamais, que se saiba, comprou um bilhete premiado.

Friamente cruel, era implacável com os inimigos. E com quem dele discordasse. Ainda estava no Marrocos, aquecendo os motores para invadir a Espanha e derrubar o governo republicano democraticamente eleito em fevereiro de 1936, quando mandou fuzilar um legionário que se queixara da qualidade do rancho servido no acampamento.

O ditador demorou um bocado para dar seu último suspiro, em novembro de 1975. Durante três meses, o comediante Chevy Chase abriu seu telenoticiário no Saturday Night Live com a seguinte manchete: "Premier Francisco Franco is still seriously dead". Entrava semana, saía semana, e o premiê espanhol "continuava seriamente morto". Hilário. Foi a única coisa engraçada que o generalíssimo involuntariamente produziu na vida.

O franquismo não foi enterrado com o caudilho porque, lastimavelmente, sobreviveu ao criador. Prolongou sua agonia até, pelo menos, o frustrado golpe do tenente-coronel Antonio Tejero Molina, em 23 de fevereiro de 1981. Molina invadiu a Câmara dos Deputados, em Madri, para melar na marra a transição da Espanha para a democracia. Acabou atrás das grades. Esse ato de patética truculência caudilhesca é o tema do último romance de Javier Cercas, Anatomia de Um Instante, que a Editora Globo acaba de traduzir e o autor, que ganhou merecida fama internacional com uma ficção ambientada na Guerra Civil, Os Soldados de Salamina, virá lançar na próxima Flip.

O café e a longevidade - DRAUZIO VARELLA

FOLHA DE SP - 02/06


O efeito protetor foi diretamente proporcional ao número de xícaras ingeridas diariamente


Antes do primeiro café da manhã, sou um arremedo de mim mesmo.

Assim que acordo, sou capaz de executar tarefas mecânicas e de correr duas horas seguidas, mas qualquer esforço intelectual antes da xícara de café com leite é um fardo insuportável. Meu cérebro permanece em modo contemplativo até a cafeína cair na circulação.

No meio da manhã, já em plena atividade, sinto uma necessidade louca de repetir a dose; pouco mais tarde, a vontade retorna, irresistível. Se não soubesse que a cafeína tem vida longa no organismo, a ponto de o cafezinho das cinco da tarde interferir no sono da noite, seria daqueles que só vão para a cama depois de tomar o último.

Por culpa desse efeito estimulante, tomar café não faz parte do assim chamado estilo de vida saudável. Como a cafeína está ligada a aumentos do LDL (o "mau" colesterol) e a elevações transitórias da pressão arterial, sempre houve suspeita de que pudesse aumentar a incidência de doenças cardiovasculares, como os infartos e os derrames cerebrais.

Os resultados dos estudos já realizados, no entanto, foram heterogêneos e inconsistentes com essa hipótese. Pelo contrário, alguns mostraram existir relação inversa entre o consumo de café e o aparecimento de doenças inflamatórias, diabetes, derrames, infartos e ferimentos acidentais. Mas, até aqui, nenhum inquérito populacional havia conseguido relacionar os níveis de consumo diário com a mortalidade.

Para responder se quem toma café vive menos tempo, um grupo americano dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) acaba de publicar o estudo mais completo sobre o tema.
Por meio de um questionário, foram incluídos na pesquisa 229.119 homens e 173.141 mulheres saudáveis de ambos os sexos, com idades entre 50 e 71 anos. A avaliação inicial compreendia 124 itens relacionados com o estilo de vida e a dieta: consumo de vegetais, frutas, gordura saturada, carne vermelha ou branca e o total de calorias ingeridas.

Dos participantes, 79% tomavam café de coador, 19% café instantâneo, 1% expresso e 1% não especificou o modo de preparo. De acordo com o número de xícaras tomadas diariamente, o grupo foi dividido em dez categorias.

Comparados com os que não tomavam café, entre os consumidores havia mais fumantes, mais gente que tomava três drinques ou mais por dia e ingeria quantidades maiores de carne vermelha. Também tendiam a apresentar nível educacional mais baixo, a praticar menos exercícios extenuantes e a comer menos frutas, vegetais e carne branca. Por outro lado, havia menos casos de diabetes entre eles.

Durante os 14 anos de seguimento dessa população, foram a óbito 33.731 homens e 18.784 mulheres.

De início, os dados pareciam mostrar que o consumo de café estaria associado ao aumento da mortalidade. Depois de eliminar fatores como cigarro (especialmente), sedentarismo e obesidade, entretanto, ficou claro haver uma relação inversa: quanto mais café, menor o número de mortes.

Além de diminuir a mortalidade geral, tomar café reduziu a mortalidade por diabetes, doenças cardiorrespiratórias, derrames cerebrais, ferimentos, acidentes e infecções. As mortes por câncer não foram afetadas.

O efeito protetor foi diretamente proporcional ao número de xícaras ingeridas diariamente. A diminuição mais acentuada da mortalidade aconteceu no grupo de seis xícaras ou mais por dia: redução de 10% nos homens e de 15% nas mulheres. Essa associação foi independente da preferência por café descafeinado ou não, sugerindo que a proteção não ocorre por conta da cafeína.

Caro leitor, você deve estar cansado de ler artigos pseudocientíficos que apregoam as vantagens de determinados alimentos. A internet está abarrotada de sites e de mensagens que se propagam feito vírus, exaltando os benefícios do alho, do limão, da alface, do tomate orgânico, da berinjela, e por aí vai.

O estudo que acabei de apresentar foi aceito para publicação na "The New England Journal of Medicine", a revista médica de maior circulação, porque é o mais completo já realizado sobre o assunto.

Na manhã em que recebi a revista, fazia frio. Quando terminei a leitura do artigo, tomei o segundo café. Uma hora mais tarde, enquanto escrevia a coluna, tomei o terceiro. No final, o quarto, só para comemorar.

A resistência artística no país LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 02/06

Professora de história da arte, Claudia Calirman analisa em livro que será lançado este mês nos EUA os caminhos da produção de três artistas durante os anos de repressão no Brasil


A curadora e historiadora de arte carioca Claudia Calirman acaba de se tornar vizinha do dissidente cego chinês Chen Guangcheng, que se instalou no mesmo complexo de edifícios do bairro nova-iorquino do Greenwich Village, onde ela mora. Se forem apresentados, é fácil prever um tema da conversa: como resistir com integridade a uma ditadura? A resistência que interessa à carioca é a dos artistas plásticos atuantes no Brasil, especificamente três nomes que seguiram carreiras consagradas; eles são o foco de Brazilian Art Under Dictatorship - Antonio Manuel, Artur Barrio, and Cildo Meireles (Arte Brasileira sob a Ditadura: Antonio Manuel, Artur Barrio e Cildo Meireles), livro que sai no dia 29 pela Duke University Press. Claudia Calirman é professora de História da Arte do John Jay College of Criminal Justice, em Manhattan. A ideia da obra veio de uma série de conversas com o crítico Frederico Morais, um curador que não se ausentou do País durante a ditadura. "Foi ele que me chamou a atenção para a narrativa individual dos três", lembra a autora.

Claudia não romanceia a trajetória dos artistas, que analisa no período entre 1968 (AI-5) e 1975. As ações dos três, escreve, eram mais mundanas do que heroicas. O heroísmo, diz, reside na distância que eles percorreram com a arte e do que realizaram com ela. "Eles partiram de um começo que incluía nomes como Hélio Oiticica e Lígia Clark e atravessaram o pior momento da ditadura", comenta.

Leia a seguir a entrevista exclusiva de Claudia Calirman ao Sabático.

Você destaca, no livro, a escassez de documentação jornalística sobre as ações dos artistas plásticos da época, por causa da censura.

Sim, é um ponto importante porque você vê muita gente perguntar "então, já viu uma Coca-Cola do Cildo Meireles? Viu o trabalho do Antonio Manuel nas bancas de jornal?" Não havia cobertura convencional. E os próprios artistas viam o que faziam como ações rápidas. Não é como hoje, quando há tanto trabalho performático, consciente da câmera, com a expectativa do registro.

Sua tese é que a resistência representada por este grupo de artistas plásticos se situava longe do dogma ideológico e do nacionalismo?

Não havia um movimento organizado. Esses artistas não se agruparam. Faziam sua arte e, de vez em quando, expunham juntos. E eram censurados juntos. Mas não há um rótulo, como "geração AI-5". Acho que o teatro foi mais organizado, até ser violentamente perseguido no período do AI-5. Tivemos a Tropicália na música. Acho que as artes visuais foram menos perseguidas porque eram menos expostas.

Você cita outro marco, o boicote à Bienal de São Paulo, em 1969, que nem foi muito percebido pelo público por causa da censura. Por que acha que o boicote teve outro efeito?

O boicote internacional começou em Paris, com o critico e curador Pierre Restany, se espalhou pela Europa e chegou aos Estados Unidos. Foi um esvaziamento, que ficou conhecido com a Bienal do Boicote. Por isso mesmo, outros eventos locais, como o Salão da Bússola, começaram a ter mais importância, já que, até então, a Bienal dominava como vitrine do que acontecia na arte.

Coloque em perspectiva o trabalho do Antonio Manuel, que fez a performance em abril de 1970, no MAM-Rio, quando estava nascendo a body art.

Vejo mais o ato do Antonio Manuel de tirar a roupa no MAM naquele dia como um gesto espontâneo e não como uma estratégia de expressão. Ele - seu corpo - havia sido recusado pelo Salão de Arte Moderna. O fato de que ele apresentou o próprio corpo como obra de arte é mais importante do que o gesto de tirar a roupa. Como ficar nu provocou escândalo, ficamos com a memória de ser o fato relevante. Por ele ter tentado se inserir na exposição como uma obra, este momento é que se relaciona com a body art.

Em 2010, causou grande repercussão aqui a instalação da Marina Abramovic, em que ela passava o dia sentada no MoMA e convidava o visitante a se sentar à sua frente e fixar o olhar no seu. Qual a diferença que o contexto político faz para o artista quando a ousadia estética encontra o estado policial?

É um aspecto importante. Em momentos de repressão, a arte acaba por reinventar formas de expressão. É de novo a frase do Oiticica, "da adversidade vivemos". E a produção artística enfrenta um obstáculo maior na autocensura, quando a criatividade do artista entra em conflito com sua autopreservação. Você vê exemplos de arte mais efêmera em situações de restrição à liberdade, como na União Soviética e China. Mas quero notar que a Marina teve que lidar com a questão institucional, corporativista do museu e fez várias concessões para fazer a exposição. E esta forma de restrição tende a ser mais branda no Brasil.

E como você vê a trajetória do Antonio Manuel saindo dos anos da ditadura?

Não quis, intencionalmente, fazer a ponte com os dias de hoje; espero que outros sigam com essa narrativa. É um ótimo pintor que se interessa pelas questões da pintura. Livre da repressão política, ele evolui para a abstração geométrica que vemos hoje.

O aspecto efêmero da obra do Artur Barrio é um desafio maior ainda para a memória do trabalho dele naquele período?

Vamos lembrar que, além de ter representado o Brasil na última Bienal de Veneza, ele ganhou, em 2011, o prêmio Velázquez de Artes na Espanha, que mostra que passou a ter reconhecimento internacional. O desafio para quem pesquisa é o fato de o Barrio não ter interesse em preservar o trabalho. Faz questão de destruir e não acredita em reprodução da obra. Acha que uma foto da obra deve ser identificada como "registro" do trabalho. Não quer que seu trabalho seja distorcido por certas formas de representação.

Um ponto em comum entre os três artistas é a juventude deles, quando é decretado o AI-5. Barrio com 23 anos, Manuel, 21, Meireles, 20. Há algo em comum na memória que eles têm daquele tempo?

São três personalidades muito distintas, que passaram por processos de evolução diferentes. Mas todos olham para aquele momento, inequivocamente, como o passado. O artista sempre quer se firmar no presente. Na verdade, foi um pouco difícil trazer a conversa para aqueles anos que, em parte, gostariam de esquecer.

E não têm uma ideia romântica do período.

Não, veem como um momento que tiveram que atravessar, fazendo uma arte tão marginal. Não era pintura, escultura, não se vende. Como sobreviver? Senti que precisam manter certa distância daquele tempo.

Entre os três, o Cildo Meireles é o que articula mais intelectualmente a questão da história e da identidade do Brasil, certo?

Com certeza. Acho que o Cildo se preocupa com a questão da trajetória narrativa da arte brasileira. Ele valoriza artistas como Oiticica, Ligia Clark, o neoconcretismo, mesmo não fazendo parte de movimentos, porque morava em Brasília. E ele veio para Nova York no fim dos anos 60. Cildo acha importante criar uma genealogia contínua da arte brasileira. Acho que o Manuel e o Barrio são mais interessados em rupturas. O Manuel era muito amigo do Hélio Oiticica e teve uma relação de trabalho com ele, que vem mais da arte construtivista, do Dada.

Você lembra no livro como a arte conceitual criou uma resposta à ditadura.

Sim, mas havia uma diferença de expressão conceitual. Nos Estados Unidos, era uma arte mais ligada à linguagem, a palavras. No Brasil, você toma como exemplo a Coca-Cola do Cildo Meireles, é mais uma estratégia, como também era a distribuição dos dólares. Os artistas tiveram que procurar estratégias conceituais para se opor ao regime, evadindo a censura. Aquela nota de 1 cruzeiro com a inscrição "quem matou o Herzog?". Todo mundo sabia que o Vladimir Herzog tinha sido assassinado na prisão. A pergunta é pura retórica, para espalhar uma dupla consciência.

Há uma tendência nos Estados Unidos de romantizar a experiência do perseguido por um regime autoritário. De exacerbar a condição de vítima. E você afirma que a criatividade desses artistas não existia por causa da ditadura.

Achei importante dizer isso. Não se pode elevar um artista por causa do contexto político. Lembro do samba do Chico Buarque, Apesar de Você. A arte efêmera estava acontecendo em outros países. No Brasil, ela adotou um caráter mais político, mas havia a emergência de uma linguagem internacional, na performance, na body art, no conceitualismo. E sim, apesar da ditadura, eles continuavam a produzir, mas não por causa dela.

Ressaca na economia - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 02/06

Taxa de juros, expansão de crédito e consumo já não parecem capazes de reativar crescimento; falta eficiência para recuperar investimentoA alta do PIB de apenas 0,8% no primeiro trimestre (em termos anualizados) confirmou prognósticos de que a recuperação da economia permanece lenta, a despeito de todos os estímulos do governo.
Com tal resultado, fica inviabilizado um crescimento superior a 3% em 2012, como quer o Planalto. Para superar essa marca, a economia precisaria avançar no ritmo de 6% no restante do ano. Torna-se cada vez mais plausível que o crescimento em 2012 fique abaixo do colhido no ano passado (2,7%).
A letargia ataca tanto consumo quanto investimento, que não conseguem retomar o impulso de anos recentes. Do lado do consumo, apesar da boa situação de emprego e renda e das vendas de produtos básicos, como alimentos, o setor de bens duráveis está estagnado.
O mercado de automóveis é o caso mais crítico. Sofre com altos estoques e certo esgotamento de crédito. A inadimplência mantém-se em alta, e as vendas permanecem fracas. Com sorte, a redução recente do IPI ajudará as montadoras a vender o que têm no pátio, mas não se vislumbra aumento de produção no horizonte.
De modo geral, o comprometimento da renda das famílias com juros e amortização de crédito parece atingir limites, que impedem uma nova onda de consumo.
Do lado do investimento, a queda anualizada de quase 8% no primeiro trimestre (em relação ao anterior) é decepcionante -sobretudo diante dos juros básicos, já no mínimo histórico, e dos numerosos incentivos recentes.
É certo que parte do resultado fraco no trimestre decorre de fatores pontuais, como a queda na produção de caminhões após a adoção de novo padrão de motores. Mas não se pode tapar o sol com a peneira: mesmo depois de mais de R$ 300 bilhões em créditos do BNDES desde 2008, o investimento continua abaixo de 20% do PIB, quando deveria ser no mínimo 25%.
A dificuldade de muitos setores com aumentos de custos, maior concorrência externa e demanda contida, além do mau cenário global, reduz a disposição dos empresários a pôr o pé no acelerador.
Uma grande ajuda viria com mais investimento público, mas aqui os problemas parecem cada vez mais intratáveis. Obras de infraestrutura empacam na incapacidade gerencial para pôr bons projetos de pé sem que incorram em problemas com os tribunais de contas e a burocracia infinita.
Novamente fica claro que o Brasil encontra dificuldade para crescer mais que 3% ao ano. Remover as amarras estruturais ao investimento -em especial no governo, uma máquina ineficiente e perdulária- é a única saída para remediar tal quadro.

Cortina de fumaça - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 02/06

Desde que a CPI decidiu convocar para depor o governador Agnelo Queiroz (DF) que os petistas estão empenhados em esconder o que aconteceu. Acusam o culpado de sempre, o PMDB, pela decisão. Os fatos, no entanto, apontam para a responsabilidade do PT. Os petistas não procuraram os representantes do PP e do PSC para tentar evitar o depoimento. “Ninguém do PT pediu nada. Se o Agnelo quiser reclamar, que se dirija ao partido dele”, afirma o deputado Hugo Leal (PSC-RJ).

O PMDB e o PT fugiram da raia
Os maiores partidos do Congresso, o PT e o PMDB, estão na defensiva na CPI.Ambos eram contra a quebra do sigilo da Delta, mas votaram a favor. Isso ocorreu porque o PT não queria arcar com o ônus dessa decisão. No dia anterior, exigiu que o PMDB assumisse o encaminhamento contrário. Como os peemedebistas não tiveram peito de fazê- lo na reunião da CPI de terça-feira, os petistas se sentiram liberados. O primeiro a votar, o senador José Pimentel (CE), disse: “Como não há ninguém contra, eu voto ‘sim’.” Os outros petistas votaram “sim”, à exceção do deputado Cândido Vaccarezza (SP), que disse “não”.

O líder Jilmar Tatto (PT), com seu jeito Tatto de ser e, às vezes, faltando tato, fez insinuações sobre posicionamentos do PMDB dentro desta CPMI. Os integrantes do PMDB votaram exatamente igual ao PT” — Luiz Pitiman (PMDB-DF), deputado federal

PACOTE AMBIENTAL. A presidente Dilma anuncia terça-feira os programas Recicla Brasil e Brasil sem Lixão dentro do pacote do Dia do Meio Ambiente, preparado pela ministra Izabella Teixeira. Serão editados seis medidas provisórias, um decreto e um projeto de lei para facilitar o acesso aos recursos genéticos da flora e da fauna. O pacote também prevê a criação de novas áreas protegidas e institui política de produção orgânica.

ConcertaçãoPara evitar a tentação de uma revanche, o PMDB optou por não indicar o deputado Paulo Piau (PMDBMG), relator do Código Florestal, que sofreu vetos da presidente Dilma, para a função de relator revisor da MP do Código Florestal.

O canto da sereia
O PSB é cético quanto às chances de o deputado Márcio França (PSB-SP), que está reassumindo, concorrer à presidência da Câmara. “O PSB não tem número para bancar uma candidatura”, resume seu vice-presidente, Roberto Amaral.

Nova identidadeSônia Vaz Monteiro Bordoni, mulher do jornalista Luiz Carlos Bordoni (que recebeu da Alberto & Pantoja, empresa-fantasma, pagamento da campanha de Marconi Perillo em 2010), mantinha perfil no Facebook até quinta-feira com o nome completo e local de trabalho: o Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás. Ontem de manhã, retirou o Bordoni de seu nome e o local de trabalho da página. À tarde, em seu Facebook, registrou: “Vida louca vida”, trecho de música de Lobão. E, em seguida, comentou: “O bicho tá pegando...”

Frente ampla
O grupo da Câmara que analisa a revisão das dívidas dos estados com a União propõe mudança na Lei de Responsabilidad Fiscal. Os governadores Geraldo Alckmin, Sérgio Cabral, Antonio Anastasia e Tarso Genro apoiam.

Pragmatismo

O PSD fez aliança nas capitais para as eleições municipais com os candidatos dos governadores Geraldo Alckmin (SP), Jaques Wagner (BA), Marcelo Déda (SE), Eduardo Campos (PE), Cid Gomes (CE) e Roseana
Sarney (MA).

OS TUCANOS estão irritados com a atuação da Polícia Federal e do Ministério Público no escândalo Carlos Cachoeira. Consideram que eles tentam repetidamente vender a tese de que o governador Marconi Perillo (GO) era do grupo do contraventor.

OS REPRESENTANTES
 do PSOL na CPI são os únicos que continuam trabalhando e levantando informações com o objetivo de levar o governador Sérgio Cabral (RJ) para depor na Comissão.

O JORNALISTA
 Wladimir Gramacho deixou a empresa de assessoria e consultoria FSB. Ele vai trabalhar no Planalto na área de pesquisas de opinião e imagem.

SER OU NÃO SER - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 02/06

A nova montagem da peça "Macbeth" teve pré-estreia anteontem no Teatro Vivo, na Vila Olímpia. A direção é de Gabriel Villela e o elenco conta com Marcello Antony e Claudio Fontana, entre outros. Também foram ao teatro conferir o espetáculo as atrizes Walderez de Barros e Isabella Bernardi e o ator Rubens Caribé.

SOBRE TRILHOS
O Ministério Público de SP aguarda somente a justificativa do sindicato dos metroviários para o descumprimento da liminar de Justiça que exigia que a categoria mantivesse o metrô funcionando com 100% da frota nos horários de pico e 85% nos demais na greve do dia 23 de maio, para entrar com uma ação contra a categoria. A promotoria pedirá 1/30 de salário mínimo por cada pessoa afetada com a paralisação naquele dia.

CADÊ O MAQUINISTA?
Já o presidente do sindicato dos metroviários de SP, Altino Melo de Prazeres Júnior, diz que a categoria agora quer discutir o risco que a linha 4-amarela oferece. "Ela não tem operador de trem, é só no automático. Vamos passar um abaixo-assinado para a população", diz. "Foi o maquinista que salvou os passageiros no acidente entre os trens da linha vermelha", fala. A assessoria da linha 4 diz que a "automação permite níveis de eficácia dificilmente obtidos pelos sistemas convencionais, especialmente em segurança".

DESILUSÃO?
O novo show de Marisa Monte trará megaprojeções (algumas ocupam o palco inteiro) de obras de artistas plásticos. Serão 15 vídeos para as 22 músicas apresentadas, de nomes como Tunga e Thiago Rocha Pitta. A curadoria é de Luisa Duarte. A turnê "Verdade Uma Ilusão" chega a SP no dia 21.

BARRADO NO BAILE
A Comissão de Justiça da Câmara de SP vetou projeto de lei que restringia o uso de vias públicas, como a avenida Paulista, para manifestações. O vereador Carlos Apolinário (DEM), autor da proposta, culpa o "lobby gay" na Câmara, por causa da Parada. "Mas a medida atinge também a Marcha para Jesus", diz. Ele recorreu. Caso seja derrotado mais uma vez, tentará reapresentar a ideia ainda neste ano. Afirma que não tentará a reeleição.

TEM GANSO NO POLO
O craque Paulo Henrique Ganso, do Santos, vai se arriscar hoje como jogador de polo. Ele, que passou recentemente por uma cirurgia no joelho, dará o toque inicial na partida final da São José Copa Ouro Audi Polo, em Indaiatuba (SP). Pelas regras do esporte, o lance inicial é do juiz, montado a cavalo. Ganso estará a pé.

BRUNA
A ex-garota de programa Raquel Pacheco, conhecida como Bruna Surfistinha, faz curso de produção musical para "realizar a vontade de discotecar apenas versões musicais criadas por mim". Ela quer investir agora na carreira de DJ e num programa na internet -em pré-produção e previsto para estrear no próximo semestre.

Pacheco estará hoje, Dia Internacional das Prostitutas, no lançamento do livro "Amor na Zona", em BH.

CLÁSSICOS
O empresário Vittorio Rossi Jr. ofereceu jantar em sua casa, em Higienópolis, para Katharina Wagner, descendente dos compositores Richard Wagner e Liszt. Ela visitou SP para discutir a vinda ao país do coro do Festival de Bayreuth, especializado em Wagner, em 2013. Entre os convidados, o diretor do Sesc, Danilo Miranda, Aurea Vieira, relações-internacionais do Sesc, a fotógrafa Anna Mariani e o coreógrafo Ivaldo Bertazzo.

SOMOS TÃO JOVENS
Os apresentadores Daniella Cicarelli e China foram ao show "MTV ao Vivo - Tributo à Legião Urbana" com Wagner Moura, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, no Espaço das Américas. A cantora Céu também estava lá.

CURTO-CIRCUITO

O Vanguart apresenta hoje show com a participação dos cantores Thiago Pethit e Marcia Castro, no Sesc Belenzinho, às 21h. Classificação: 12 anos.

A AACD realiza hoje sua festa junina, das 11h às 20h, no Clube Escola Ibirapuera. Entrada gratuita.

O Arraial no Museu acontece hoje, das 10h às 22h, no Museu da Casa Brasileira. Livre.

O Dia da Comunidade Italiana é celebrado na segunda, em sessão solene promovida pelo deputado Vitor Sapienza, às 20h, na Assembleia Legislativa.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA