terça-feira, dezembro 11, 2012

Valeu a intenção - ROSELY SAYÃO

FOLHA DE SP - 11/12


Comprar o que a criança já espera garante a satisfação e não dá trabalho; mas dá para fazer diferente


Neste final de ano, muitas crianças e jovens vão ganhar presentes, muitos presentes. Um sempre é pouco para eles, acostumados à fartura de mimos. Pelo menos dois, da mesma pessoa, é o que eles esperam.

E, de preferência, que sejam presentes saídos da lista de desejos -em geral, eles fazem a lista e dão aos pais.

Essa lista, aliás, deixa pais e parentes aliviados. É que comprar o que a criança já espera é uma garantia de satisfação para quem recebe, além de não dar trabalho algum para quem presenteia.

Nesses períodos em que as pessoas, em geral, não têm tempo disponível para usar com o outro, esse costume oferece um grande conforto.

Ao mesmo tempo, entretanto, há muitas crianças que irão ganhar presentes natalinos originais e criativos -ninguém terá igual.

É que os pais delas decidiram investir tempo, paciência e imaginação para confeccionar as lembranças especiais que darão aos filhos.

Uma coisa esses pais têm em comum: a dúvida a respeito da reação dos seus filhos quando receberem o presente. Vários deles acham que as crianças podem ficar decepcionadas e frustradas.

É que, em tempos de consumo desenfreado e lançamentos mil nesta época do ano, é claro que as crianças competem entre si sobre quem irá ganhar isso ou aquilo que se torna, não mais que de repente, um objeto de desejo de um grupo enorme.

Mesmo assim, esses pais acham que vale a pena. "É um modo de mudar um pouco o valor que minha filha passou a dar aos presentes que ganha", escreveu uma mãe.

Ela não sabe como foi que começou essa história: conta que a filha, de oito anos, sempre que recebe um presente pergunta quanto custou.

Essa mãe deseja que sua filha passe a valorizar, mais do que o preço do objeto recebido, a dedicação que a pessoa gastou para elaborar aquele presente.

Todos esses pais estão dispostos a correr o risco de receber caras feias, choramingos e recusas em troca do presente que darão.

É que todos eles têm uma convicção: a de que valerá a pena começar a mudar essa cultura de consumo em que a criançada entrou.

Vou citar alguns exemplos para inspirar os pais que têm vontade de fazer algo diferente para presentear os filhos neste final de ano.

Um casal que adora a arte da fotografia decidiu fazer um álbum de fotos temáticas da família desde o nascimento da filha, que tem nove anos. Os temas dos capítulos são bem interessantes: as cenas familiares mais desastradas, os momentos felizes, os choros, as tristezas, o espanto etc. Esse presente talvez não seja tão valorizado agora pela garota, mas um dia ela olhará para ele com ternura e gratidão.

Outra mãe decidiu aprender e fazer, em pouco mais de um mês, um vestido para cada uma das filhas, bordado com motivos desenhados pelas meninas quando eram bem menores.

Há também um casal cuja filha está interessadíssima nas letras. Eles compraram para ela livros com títulos que começam com todas as letras do nosso alfabeto, de A a Z.

Foi uma empreitada difícil, segundo a mãe, mas que deu em troca muita satisfação aos pais por terem conseguido realizar aquilo a que se propuseram.

E há uma quantidade enorme de pais que construíram brinquedos com sucata. Eu acho que eles se inspiraram nos próprios filhos.

Criança inventa brinquedos maravilhosos, não é verdade?

Considero esses pais corajosos, dedicados e, acima de tudo, amorosos. Eles aproveitaram uma boa oportunidade para investir no convívio familiar.

E eu aposto que, independentemente da reação de momento das crianças na hora da surpresa, eles estão colaborando para a construção de uma memória afetuosa do relacionamento entre eles e os filhos.

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