sexta-feira, dezembro 14, 2012

Petróleo desafia teoria da gravidade - PAULO RABELO DE CASTRO

Brasil Econômico - 14/12


A demanda mundial por petróleo está rigorosamente estagnada. A recessão nos principais países consumidores não é inteiramente compensada pelos avanços de consumo nos Brics e noutros mercados emergentes. Por enquanto, a renda per capita decrescente em vários países avançados faz o consumidor controlar sua despesa de combustível. Contribui para isso um fator que extrapola as forças de um mercado livre: a OPEP, organização de países produtores de petróleo, que há muitas décadas funciona como um cartel bem organizado para controlar e insuflar o preço do barril para os produtores do óleo bruto. Desde as duas elevações brutais de preço na década de 1970 a OPEP segue desafiando com sucesso a teoria da gravidade, pois consegue sustentar os preços do barril muito acima dos custos de produção. Com isso, centenas de bilhões de dólares — quiçá alguns trilhões! — têm sido desviados dos bolsos dos consumidores para os cofres dos fornecedores ao longo das últimas quatro décadas, à exceção dos anos 1990. Estamos vivendo quase uma estagnação produtiva planetária e, no entanto, os preços não cederam significativamente. Vieram abaixo de 50 dólares, sim, por um curto período no começo de 2009, mas rapidamente as cotações do tipo Brent voltaram a níveis acima de 100 dólares, assim permanecendo por estes anos de crise. Os fundos de hedge têm ajudado a OPEP, ao usar parte da liquidez das reservas ociosa dos bancos para especular na posição comprada e, assim, manter a impressão de que falta óleo no mundo.

Recentemente, os mercados têm se dado conta de um dado novo, o aumento da oferta de petróleo propiciada pela entrada em operação de vastos campos de xisto, cuja tecnologia de exploração comercial só ficou viável com novos métodos de extração por injeção hidráulica (“fracking”) até então desconhecidos. A dura rocha do xisto, em Montana, North Dakota e Texas, vai alterar a paisagem e a geografia econômica do petróleo no mundo. A produção americana passou de 7 milhões de barris/dia, após muitos anos estagnada, num avanço percentual sem paralelo na história petrolífera dos EUA. Há otimismo de que venha a passar a produção da Arábia Saudita, de 10 milhões/dia, em poucos anos. O cartel, que hoje controla o jogo geopolítico e obriga os EUA a uma dispendiosa presença militar no Oriente Médio, vai ter seu poder moderado e, eventualmente, desmantelado pela nova realidade do xisto. A extensão do impacto de uma autossuficiência dos EUA no petróleo ainda não está bem medida. Sabemos que é enorme, já deslocando para o mercado americano companhias petroquímicas brasileiras antes engajadas no programa brasileiro de novas refina-rias e complexos petroquímicos, por exemplo. Este é um cenário que a própria Petrobras não demonstra manejar com conforto. Nem o pré-sal brasileiro estaria a salvo de uma forte revisão da rentabilidade projetada de sua futura exploração, a depender da força da gravidade atuando sobre os preços do petróleo no futuro não distante. Nenhum ente público, ávido por uma parcela desse pré-sal deveria contar com a receita extraordinária dele advinda como favas contadas. Mas é o oposto disso que ocorre agora.

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