sexta-feira, dezembro 14, 2012

O bolo do PT para Dilma - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 14/12


Enquanto Dilma Rousseff comemora o aniversário de 65 anos nesta viagem a Moscou, a vida do governo está ruça. E o bolo preparado para a presidente é indigesto. O dia ontem terminou com uma penca de ações no Supremo Tribunal Federal contra a votação que concedeu urgência urgentíssima para análise do veto dos royalties do petróleo na próxima terça-feira. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva driblou os jornalistas em Barcelona. E, para completar, tudo indica que o grupo do ex-ministro José Dirceu cansou de dividir o poder interno no partido e vai procurar retomar espaços. Começou há dois dias com a vitória de André Vargas (PT-PR) sobre Paulo Teixeira (PT-SP) para concorrer à vice-presidência da Câmara no que vem.

O placar de 48 votos a 37 dentro da bancada em favor de André Vargas, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), ala majoritária, indica que ainda existe um predomínio do grupo de Dirceu. Esse mesmo segmento se prepara para, em fevereiro, eleger o deputado José Nobre Guimarães, do Ceará, líder da bancada no início de 2013. E, internamente, têm-se a impressão de que as tendências começam novamente a se movimentar, no sentido de ocupar espaços e o CNB, desta vez, não está disposto a ceder terreno.

O que acendeu a luz amarela no grupo foi a resistência do partido em seguir para as ruas em favor de Dirceu. Avaliam internamente que existe uma ação deliberada para enfraquecer o PT. Em conversas reservadas, há quem diga que estava tudo pronto para que o julgamento do mensalão e seus efeitos terminassem, no mais tardar, no início de 2013. Ainda que o partido passasse pela dor de ver parte de seus líderes atrás das grades, daria para seguir em frente, sem que esse caldeirão continuasse cheio.

Ocorre que, quando o PT pensou que estava terminando o conteúdo dessa panela, surge o novo depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público no jornal O Estado de S.Paulo, reaproveitando a raspa do tacho, o tempero e o restinho de molho do mensalão, para cozinhar Lula. Diante das novas revelações — ainda que Marcos Valério seja condenado e chamado de “pilantra” por aliados de Dilma —, o tempero “mensalão” ainda vai à mesa, deixando o sabor das ações sociais do governo Dilma em segundo plano. E com a panela borbulhando, o CNB prefere ocupar espaços a negociar o chamado “revezamento”. A única exceção que eles se permitem é a reeleição de Rui Falcão para presidente do partido, em novembro do ano que vem, que, até aqui, é apresentada nas conversas do CNB como líquida e certa.

Enquanto isso, na ala Maia…

No PT, nada ocorre sem levar em conta a terceira Lei de Newton, a da ação e reação. Portanto, há quem vislumbre que nada será tão tranquilo na bancada quanto parece. Esta semana, por exemplo, houve apelos para que o presidente da Câmara, Marco Maia, procedesse um pedido de vista à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de devolver o mandato do deputado Chico das Verduras (PRP-RR). A ideia era a de que o suplente, Francisco Araújo, do PSD, permanecesse no exercício do mandato. Assim, o PSD teria um deputado a mais e o candidato Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) mais um voto garantido na disputa para o comando do parlamento. Maia deu posse a Chico das Verduras e não atendeu aos apelos do PSD, um partido que está fechado com a candidatura de Alves.

Dentro do Congresso, essa atitude do presidente da Casa foi vista como um movimento no sentido de mostrar que não é intenção de Maia deixar tudo muito fácil para o grupo do partido que se mostra fechado com Henrique Alves. Há, dentro do PT, quem esteja insuflando Júlio Delgado (PSB-MG) porque acha que, como a maioria do CNB já fechou com Alves, ao lado de Delgado as outras alas teriam mais influência. Se Dilma não abrir o olho, em breve a briga de tendências do PT por espaço político pode respingar em seu governo. E tudo o que ela não precisa no momento é o PT alvoroçado. Já chega a disputa entre PSB e PMDB. Mas essa é outra história.

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