sábado, dezembro 29, 2012

Dilma entre a gestão e a política - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO -29/12


A presidente herdou do segundo governo Lula o descompromisso com reformas estruturais, mas algumas se tornam cada vez mais prementes, como a do INSS



A presidente Dilma vira fio desencapado quando lhe é feita alguma pergunta sobre problemas no setor elétrico. Ministra de Minas e Energia, responsável pela área durante quase todo o primeiro governo Lula, até assumir a Casa Civil, na turbulência do escândalo do mensalão, Dilma parece se sentir atingida toda vez que se abordam as incertezas existentes na área. É um positivo sinal de defesa da autoestima, mas que não tranquiliza quem depende de energia — todos.

Foi sintomática a reação da presidente, ao tratar do assunto, em café da manhã com jornalistas, quinta, no Planalto. Por coincidência, naquele mesmo momento, suados passageiros ainda tentavam embarcar no aeroporto do Galeão, no Rio, atingido por um apagão na noite anterior, cuja responsabilidade o governo tende a jogar sobre a Light, para proteger a há tempos desacreditada estatal Infraero. (Impossível de ser inocentada na conversão de um outro aeroporto em sauna, o Santos Dumont, por falhas constantes no sistema de ar-condicionado).

Com a ênfase característica, a presidente afasta qualquer risco de apagão no país — embora já hajam ocorrido alguns em amplas regiões do país nos últimos meses — enquanto defende o novo modelo que impõe a “modicidade tarifária” aos concessionários, na renovação de concessões. Nas estatais federais, a presidente, representante do sócio controlador, ordenou a aceitação dos termos para renovar as concessões, apesar da grita dos acionistas minoritários. Se as novas tarifas não conseguirem sustentar as empresas, o Tesouro as bancará, num perigoso retorno a um passado em que o contribuinte sustentava sem saber estatais deficitárias. Até tudo explodir em inflação.

Neste dois primeiros anos de governo, metade do mandato, o uso da mão pesada do Estado neste caso simboliza bem o estilo da gestão Dilma na economia: ações tópicas, sem sintonia fina, que, juntas, resultam no retraimento do setor privado, temeroso em assumir riscos em projetos de investimento. Aquele escolhido para ser um “campeão nacional”, com livre acesso a Brasília e aos financiamentos do BNDES, não reclama. Mas uma economia bastante diversificada como a brasileira precisa de políticas amplas, horizontais.

Se, em questões técnicas, a presidente demonstra ser refratária a críticas, inamovível em suas convicções, mesmo que não se saiam bem nos testes de aplicação prática, nestes primeiro dois anos de poder ela tem revelado razoável e até supreendente habilidade política.

Na entrevista de balanço de 2012, deixou claro manter-se distante dos ministros que indica para o Supremo, como precisa ser, defendeu, como de praxe, seu partido, o PT, e sem cair na armadilha de discutir agora as eleições de 2014, uma indesejada antecipação de agenda.

Um dever de casa para Dilma em 2013 seria transpor para a administração da economia a capacidade de se adaptar às situações e entender os problemas que demonstra na política.

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