sábado, dezembro 15, 2012

Declaração de guerra - EDITORIAL ZERO HORA


ZERO HORA - 15/12


As tensões provocadas pelas denúncias do operador do mensalão poderiam ter sido menores se o ex-presidente Lula não insistisse em simplesmente considerá-las como mentira, quando a gravidade dos fatos apontados exige explicações convincentes.

Acirra-se de forma preocupante o confronto entre as forças políticas que controlam o governo e a oposição no país, especialmente depois que vieram a público denúncias envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao ver seu principal líder fustigado por suspeitas que não se dispõe a explicar satisfatoriamente, o Partido dos Trabalhadores mobilizou-se para uma guerra _ declarada abertamente por alguns de seus líderes _, assumindo o papel de vítima de um suposto complô do qual fariam parte rivais políticos, a imprensa e até o Supremo Tribunal Federal (STF). Numa reação epidérmica, uma comissão do Congresso controlada por aliados do governo chegou a trocar a convocação do criminoso condenado Marcos Valério de Souza pela do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso _ um gesto irracional e absolutamente desvinculado da realidade.
Diante do impacto provocado pelo conteúdo das denúncias e da dimensão que o assunto tomou a esta altura, a estratégia de subestimar os fatos, adotada por militantes petistas, ou de supervalorizá-los, como insiste parte de integrantes da oposição _ em ambos os casos motivados por interesses eleitorais _ é a pior das alternativas. O que veio à tona até agora é o fato de que, depois de condenado e antes de tomar conhecimento de sua pena, o operador do mensalão teria levado ao Ministério Público denúncias que já eram do conhecimento em alguns meios, mas que ainda não haviam sido formalizadas. Uma delas é a de que despesas pessoais do ex-presidente da República teriam sido bancadas pelo esquema. Outra, que o PT cobrava uma espécie de "pedágio" de agências prestadoras de serviços ao Banco do Brasil. Alguém, fora do círculo de pessoas envolvidas de alguma forma com episódios denunciados, poderia imaginar que a melhor saída é simplesmente ignorá-los?
Certamente, sobram razões para desconfianças em relação ao conteúdo e a possíveis motivações das denúncias. O próprio Ministério Público tem agido com cautela, até mesmo para evitar prejuízos ao final do julgamento do mensalão. Ainda assim, insistir em teses como a de que o depoimento deve ser arquivado, sob alegações como a de que o ex-presidente está blindado pelo legado deixado ao país, é negar o direito à sociedade de tomar conhecimento do que constitui de fato verdade e do que não merece crédito. Tudo isso só contribui para alimentar ainda mais o clima de guerra e para reforçar a sensação de impunidade no país.
As tensões provocadas pelas denúncias do operador do mensalão poderiam ter sido menores se o ex-presidente Lula não insistisse em simplesmente considerá-las como mentira, quando a gravidade dos fato apontados exige explicações convincentes. A sociedade não tem como se conformar, nesse caso, com explicações de ministros do governo que o sucedeu, convocados às pressas para a missão, muito menos com alegações batidas e inaceitáveis como a de que tudo não passa de conspiração da imprensa.

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