sábado, dezembro 01, 2012

Confirma-se o esgotamento dos incentivos ao consumo - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 01/12

Estímulos aos investimentos serão bem-vindos, porém o governo precisa, tanto quanto isso, reconquistar a confiança do empreendedor privado



O frustrante desempenho da economia no terceiro trimestre do ano, confirmado pelo crescimento de apenas 0,6% do PIB no período, em relação aos três meses imediatamente anteriores, reforça o diagnóstico de que se esgota o ciclo de incentivo ao consumo, como mola propulsora do país. E se torna cada vez mais grave a anemia dos investimentos, e não apenas públicos.

Ao comentar os dados do PIB divulgados pelo IBGE, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou, é claro, a crença na retomada do crescimento, culpou o mau desempenho do setor de serviços pelo resultado — em função da área financeira, devido em parte à inadimplência — e apressou-se a anunciar para breve medidas de estímulo aos investimentos.

A intenção é acertada, resta saber se dará certo desta vez. Todo o atual quadro da conjuntura econômica confirma a carência crescente de investimentos para a economia voltar a crescer. Nesta semana, o Copom manteve os juros básicos em 7,2%, o nível mais baixo desde a criação da Selic. Para isso, foram necessários dez cortes consecutivos na taxa. O governo também cortou impostos (IPI) sobre bens de consumo, criou estímulos ao crédito (por exemplo, na redução de depósitos compulsórios dos bancos) e ampliou a desoneração de folhas de pagamento. Mesmo que a política monetária, quando acionada, leve um tempo para surtir efeito, está claro que a ação dos juros sobre o nível de atividade, nestas circunstâncias, também tem limites. E eles estão próximos.

A taxa de investimento, também calculada pelo IBGE, completou o quinto trimestre consecutivo em queda (desta vez, menos 2%), não bastasse já estar em nível insatisfatório (19% do PIB, quando o ideal é algo na faixa dos 25%). Foi a maior redução desde o primeiro trimestre de 2009 (menos 11,7%), quando a economia estava atordoada pelo impacto da crise mundial deflagrada em fins de 2008, em Wall Street.

Para complicar, conspira contra a retomada dos investimentos não apenas a propensão do governo a gastar bem mais em custeio do que na infraestrutura do país, mas também intervenções desastradas do Planalto no mundo dos negócios. Tem sido ruidosa a pressão oficial para que concessionários de energia elétrica reduzam a rentabilidade para garantir um corte de 20% na conta de luz. Em vez de agir com mais vigor no elevado peso dos impostos sobre o consumidor de energia, o governo atua contra as empresas.

Um erro, pois deteriora o ambiente de negócios em todos os setores. E não adiantam resmungos porque o valor em bolsa de companhais elétricas caiu mais da metade, ou que a Petrobras (com combustíveis congelados) passou a valer menos que o fabricante de cervejas Ambev. Deveria é ser entendido o recado de que essas empresas não poderão financiar os investimentos no mercado com facilidade.

Serão bem-vindas quaisquer medidas de incentivo aos investimentos. Mas, tanto quanto isso, o governo precisa voltar a ter a confiança dos empreendedores privados.

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