segunda-feira, dezembro 24, 2012

Choque gerencial - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 24/12


Terminado o Campeonato Brasileiro, o derradeiro evento do calendário anual do futebol do país, as comemorações por conquistas obtidas em campo ficam restritas a algumas equipes. É do jogo, faz parte da saudável competição que movimenta os clubes em busca dos troféus que enchem de justo orgulho as torcidas. Fora dos gramados, no entanto, prevalece uma realidade que — diferentemente dessa dinâmica de premiações de uma minoria vitoriosa com a bola nos pés — é compartilhada, se não por todas, mas pela maioria absoluta das agremiações brasileiras: as dificuldades de manter saudáveis as finanças, honrar compromissos, investir no fortalecimento de suas estruturas e crescer.

A gestão dos clubes brasileiros, de maneira geral, é marcada por administrações amadorísticas ou incompetentes (e não poucas vezes as duas coisas), em que interesses pessoais de dirigentes costumam se sobrepor às necessidades das agremiações. Os chamados cartolas não têm por hábito se guiar pela coerência orçamentária. Dessa forma, as contas anualmente apresentadas aos conselhos administrativos não passam de peças de ficção.

O resultado desse desapreço pela eficiência administrativa é visível na penúria dos clubes e no pouco (ou quase nenhum) empenho de suas diretorias em saldar dívidas e preservar o equilíbrio orçamentário, princípio básico, inescapável, da eficácia gerencial. O padrão é empurrar obrigações para a frente, de preferência como herança maldita para administrações subsequentes (que, por sua vez, não hesitam em preservar o protocolo e, também elas, se “livram” dos problemas jogando-os para o futuro).

O tamanho dessa irresponsabilidade é medido em somas impagáveis. Somente com a Previdência Social o contencioso dos clubes brasileiros chega a R$ 4 bilhões. No Rio, por exemplo, as quatro grandes agremiações — Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco — permanecem atoladas em dívidas, e não só as previdenciárias, que inviabilizam grandes investimentos. Mesmo o Fluminense, campeão brasileiro e com forte patrocinador, está com o pires na mão, dependendo de empréstimos para fechar a conta do ano. Emblemático.

Isso significa que, administrativamente, o esporte profissional é inviável no país do futebol? Não, por óbvio. De maneira geral, as receitas dos clubes crescem, mas o endividamento é tão grande que acaba por comprometer os ganhos.

O futebol brasileiro necessita, urgentemente, de um choque gerencial, com a adoção — à maneira das bem-sucedidas experiências de clubes europeus — do modelo de clube-empresa. Com isso, criam-se novos parâmetros de gestão, profissionalizando de fato esse esporte e buscando em outros setores econômicos exemplos de administração lucrativa. Assim administradas, as agremiações se fortaleceriam, modernizariam as estruturas e permitiriam que os dirigentes respondam civelmente por dolos administrativos, o que não ocorre atualmente — um estímulo à irresponsabilidade.


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