domingo, novembro 25, 2012

Um novo herói - ARTHUR XEXÉU


O GLOBO - 25/11

"Operação Skyfall", o 007 atualmente em cartaz, é certamente o melhor filme com o personagem de Ian Fleming dos últimos anos e, talvez, o melhor filme do agente secreto de todos os tempos. Quatro anos depois de sua última aparição no enigmático "Quantum of Solace" (tão enigmático que nem foi encontrado um título em português), a série reaparece rejuvenescida, embora "Skyfall" trate exatamente da maturidade de James Bond.

As aventuras protagonizadas pelo agente britânico com licença para matar já foram filmes de espionagem, quando eram estreladas por Sean Connery. Com o fim da Guerra Fria, tornaram-se comédias comandadas por Roger Moore. Viraram um produto meio híbrido, entre a comédia e o filme de ação, nos períodos em que o personagem foi vivido por Timothy Dalton e Pierce Brosnan. E pareciam inteiramente perdidas, sem um gênero específico, com maneirismos dos filmes de ação de nova geração, quando o espectador não entende muito bem o que está acontecendo e se empolga apenas com as explosões e correrias que se veem na tela, nos dois primeiros episódios que traziam Daniel Craig na pele do herói. Pois "Skyfall" redime o período Craig. É um filme de ação, é um filme de espionagem, dedica poucos diálogos e situações ao humor, atualiza-se com o terrorismo dos dias de hoje e acaba se transformando numa experiência cinematográfica fascinante.

O filme tem todos os clichês da série, mas dá uma rasteira em todos eles. Bond nunca foi tão vulnerável. Ele leva um tiro logo na primeira sequência, e, em 50 anos de vida, esta é apenas a segunda vez que o agente é atingido pelo inimigo (a outra foi em "007 contra a chantagem atômica", de 1965, ainda no período Connery). A vulnerabilidade do personagem tem a ver com a do ator que o interpreta. Embora já haja mais dois filmes da série em preparação, Daniel Craig tem se sentido pouco à vontade no papel. Aos 44 anos, ele acha que não tem mais idade para os desafios físicos de James Bond. Exagero do ator. Timothy Dalton tinha 45 anos quando fez Bond pela última vez, em "Permissão para matar". Pierce Brosnan já completara 49 em "Um novo dia para morrer"; Roger Moore, 58, em "007 na mira dos assassinos"; e Sean Connery, 53, em "Nunca mais outra vez".

Como em todos os 007, a primeira sequência é de tirar o fôlego, mas, pela primeira vez, acaba com o agente se dando mal. Também como em toda a série, há cenas em países exóticos, como Turquia e China, mas quase toda a ação se passa em Londres mesmo. Como de hábito, há um vilão temível, mas nunca houve em toda a franquia um vilão tão dúbio quanto o Raoul Silva de Javier Bardem.

Há as presenças de M, Q e Moneypenny, é claro. Mas M, que sempre surge em uma, no máximo, duas cenas, desta vez é praticamente a coprotagonista, aparecendo mais que qualquer Bond Girl. Como o papel é de Judi Dench, isso só traz mais qualidade ao filme. Q transformou-se num jovem nerd que também tem participação importante. E Moneypenny... bem, para quem ainda não assistiu ao filme, não vou revelar a surpresa. "Skyfall" traz ainda o veteraníssimo Albert Finney e o ótimo Ralph Fiennes, que, pelo jeito, estará nos próximos filmes da série também.

A direção de Sam Mendes trouxe um novo fôlego às aventuras do mais antigo agente secreto do cinema. "Skyfall" deixa, ao fim da projeção, a curiosidade de saber como serão os próximos filmes de 007. Para uma série que se mostrava debilitada, isso é sinal de que o filme é muito bom.

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