quinta-feira, novembro 01, 2012

Síndrome do dia seguinte - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 01/11


SÃO PAULO - Nada como o dia seguinte a uma eleição. "Inimigos" restabelecem relações, medidas represadas durante a campanha para não prejudicar correligionários são adotadas e aquilo que era "urgente" para o candidato vira "assim que possível" para o eleito. É a política no seu momento de liquefação.
Há anos a Prefeitura de São Paulo reclama que é necessário renegociar a dívida da cidade, "impagável", segundo a expressão de Kassab. Pois foi só Haddad ganhar a eleição que o governo federal encheu o peito para anunciar que aceitou modificar o seu indexador. Por que só agora Dilma resolveu se mexer?
A mesma pergunta vale para Alckmin. Até outro dia, seu governo dizia que a estratégia de combate à violência era a correta e que havia muita lenda em torno do PCC. Acabada a disputa, horas depois, resolveu assumir que a cidade vive um momento de "maior estresse" e mandou 600 policiais ocuparem uma das principais favelas de São Paulo, reduto da facção criminosa, de onde teriam partido ordens para matar PMs. Por que ele demorou tanto para agir?
Kassab foi outro que deu uma bela aula de esperteza política. Não esperou nem um dia Serra esfriar e já pulou para o barco do PT. Apesar de ter sido duramente atacado por Haddad nos últimos meses, não hesitou em declarar que vai dar apoio "incondicional" ao sucessor. Incondicional?
O próprio Haddad não escapou da síndrome do dia seguinte, quando as verdades começam a pipocar. O petista, que chegou a anunciar em março que o PT iniciaria uma mobilização para acabar o quanto antes com a taxa de inspeção veicular, disse, na segunda-feira, que depende da compreensão dos vereadores e que a medida pode ficar para o segundo ano de governo. Segundo ano?
Mas se a taxa era tão injusta e desnecessária como ele dizia na campanha, por que o eleito não pede para Kassab mandar hoje mesmo um projeto à Câmara propondo seu fim? Afinal, o apoio é incondicional, não é?

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