quarta-feira, novembro 14, 2012

O fôlego do comércio - MÍRIAM LEITÃO


O GLOBO - 14/11

O varejo vai crescer menos no ano que vem. A projeção é da Confederação Nacional do Comércio. A inadimplência cairá de forma gradual e só no final de 2013 ficará abaixo da média histórica. As contratações no setor serão menores: 220 mil, contra 300 mil este ano. O endividamento subiu, o crédito para financiamento está mais apertado e o fim do IPI reduzido deve desestimular o consumo.

Apesar do número fraco divulgado ontem pelo IBGE, alta de 0,3% em setembro, o acumulado de 2012 está forte, com crescimento de 8,9%. Deve fechar o ano com alta de 8,5%, segundo estimativa do economista Fábio Bentes, da CNC. Um número muito bom, ainda mais se levarmos em conta o crescimento magro do PIB, de 1,5%. Do segundo para o terceiro trimestre, as vendas ficaram mais fortes, saindo de 0,9% para 2,3%.

O comércio tem conseguido manter o ritmo, mesmo com o esfriamento da economia. No ano passado, isso também aconteceu. O PIB subiu 2,7%; o varejo, 6,7%. Para 2013, a CNC prevê 6,5%.

O que tem mantido as vendas são o mercado de trabalho e o crescimento da renda. Mas ventos contrários começam a soprar também para o comércio e, por isso, a desaceleração.

O endividamento das famílias está em nível recorde e a inadimplência ainda não caiu, embora há muito tempo os economistas digam que a tendência é de queda. O comprometimento da renda mensal com o pagamento de dívidas chegou a 22% em agosto. Em janeiro de 2005, o primeiro dado da série, estava em 15%. A dívida que as famílias carregam, em relação à renda de 12 meses, também é recorde e atingiu 44%. Era de 18% em 2005.

Na realidade, o orçamento é mais apertado, porque esses percentuais não consideram as dívidas não financeiras, como carnês de lojas, atrasos em conta de luz, água, telefonia, TV a cabo.

A CNC teme os efeitos da alta do IPI sobre os preços no ano que vem. O governo tem mantido o imposto reduzido, mas a arrecadação fraca este ano e o não cumprimento da meta de superávit primário tornam mais difíceis novas prorrogações.

Separação forçada
Desde a crise de 2008, comércio e indústria não andam juntos. A separação entre os dois é cada vez maior, como mostra o gráfico abaixo. De 2000 a 2008, a tendência entre eles era a mesma. Com a crise, a indústria perdeu competitividade, enquanto o varejo manteve as vendas fortes.

Indústria x comércio
O descompasso entre indústria e comércio divide o setor têxtil. A associação do varejo têxtil (Abvtex) emitiu nota de repúdio ao pedido da associação da indústria (Abit) para que o governo aumente salvaguardas contra produtos importados. Ou seja, o comércio prefere as fronteiras abertas, enquanto a indústria quer mais barreiras.

VENDAS PARA A CHINA. As exportações do agronegócio brasileiro para a China foram de US$ 16,5 bi em 2011, uma alta de 126% em relação a 2008. No primeiro semestre deste ano, o país exportou US$ 10,7 bi. O Conselho Empresarial Brasil-China acha que a migração do campo para as cidades melhora o perfil de consumo dos chineses e beneficia as nossas exportações.

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