quinta-feira, novembro 15, 2012

O buraco na cerca - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 15/11


Conhecedora da habilidade do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em angariar potenciais aliados e dos movimentos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em direção a 2014, a presidente Dilma Rousseff se dedica a cercar o seu terreno. Na semana passada, foram o PMDB e o PSB. Nos últimos dias, recebeu o PSD de Gilberto Kassab e o PP capitaneado pelo senador Francisco Dornelles, primo de Aécio. Quando a presidente voltar da viagem à Europa, será a vez do bloco PTB, PR, PSC e PPL, que reúne 14 senadores.

Esses encontros têm sido marcados por conversas recheadas de análises econômicas, políticas e acenos para o futuro. No fundo, os parlamentares não têm mais dúvidas de que o objetivo é um só: evitar que Aécio comece a “pescar” desde já alguns partidos entre aqueles que fazem parte do portfólio governista. E, de quebra, tirar de Eduardo Campos qualquer razão para buscar um voo solo em 2014.

Quem participa dos eventos, diz encontrar uma Dilma muito mais solta, leve no trato político. Em comparação com a rodada de encontros do ano passado, os parlamentares e comandantes partidários consideram que ela está bem melhor agora. Mais segura nessa seara. Portanto, em termos de partidos, por enquanto, ela segurou muitos aliados. Se segurar os eleitores via aprovação do seu governo, muitos consideram que a largada para a campanha reeleitoral estará pavimentada.

Enquanto isso, na porta do Planalto…
O problema, entretanto, não é esse. Esta semana, ao mesmo tempo em que concluiu as conversas com os maiores partidos da base e “incluiu” o PSD de Kassab, Dilma deixou um buraco na cerca. Os prefeitos que vieram a Brasília em busca de verba para quitar as contas deste ano saíram de mãos abanando e com promessas que, como me disse um deles, “não tapam nem o buraco do dente”. Não houve acenos para compensar a perda de receita com a redução do IPI. Apenas o anúncio da liberação de R$ 1,5 bilhão até o final do ano para obras em andamento. O resultado foi a porta do Palácio do Planalto apinhada de prefeitos, muito sentados no chão. A grande maioria não conseguiu sequer entrar no Planalto e teve que se contar com as fotos na portaria.

Atualmente, esses prefeitos, muitos deles reeleitos, não poderão fazer muita coisa. O mais urgente é fechar o ano sem deixar as contas no vermelho. Mas, na próxima campanha, a conversa será outra. Com os prefeitos insatisfeitos, a presidente dificilmente terá muita gente trabalhando em prol da sua campanha “na ponta”, ou seja, no corpo a corpo com o eleitor. É aí que o bicho vai pegar. Os prefeitos, Dilma não conquistou.

E na sede do PT…
A nota que a Executiva do partido lançou ontem sobre o julgamento da Ação Penal 470 foi mais veemente do que imaginavam seus próprios integrantes. Até então, o partido não havia se pronunciado de forma tão contundente a respeito do caso. Soa como uma declaração de guerra ao Supremo Tribunal Federal (STF). Até então, o PT dizia que o mensalão tinha CPF e que o partido não tinha relação com o caso. Agora, com a dosimetria das penas conhecida, o partido dá uma guinada e diz, oficialmente, o que era ouvido apenas aqui e ali. Lula agiu para que essa nota fosse feita. Afinal, se 2014 começou, os petistas não querem deixar o julgamento como mais um “buraco na cerca”, capaz de fazer escoar os votos. Nesse quesito, já bastam os prefeitos e os percalços nas obras de infraestrutura.

Por falar em infraestrutura…
O governo está com dificuldades de conseguir quórum para votar a Lei Orçamentária de 2013 na Comissão Mista de Orçamento. Se continuar assim, mais uma vez, essa lei importantíssima será votada a toque de caixa pelos congressistas, naquela briga sem fim por recursos para as emendas dos políticos. Como sempre, não teremos uma análise profunda dos projetos inscritos na lei, tampouco seu cumprimento à risca pelo Poder Executivo. No fundo, o que se vê, é o Congresso fazendo de conta que aprecia todo o Orçamento e o governo fazendo de conta que cumpre o que sai do Parlamento. É pena.

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