sábado, outubro 06, 2012

Sobre eleições e partos de raposas - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 06/10


É improvável que algo, de ordem comercial ou espiritual, funcione sem pesquisas. Em política, são tais estatísticas que determinam os passos de um candidato. Sem um instituto confiável a guiar um marqueteiro, até mesmo a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva teria embicado, principalmente depois do escândalo dos aloprados e, antes, do mensalão. Cada movimento do petista era monitorado pelo staff da campanha e, depois, cruzado com levantamentos do partido. O instinto de Lula sempre contou com os números.

Assim, é inexorável a importância das pesquisas ao longo de campanhas. Mas o quanto é possível se equivocar com levantamentos — qualquer pessoa, das mais ou menos experientes? O exemplo mais recente dos erros está na eleição à prefeitura de São Paulo. Duas semanas atrás, analistas políticos, que agora já devem ter apagado mensagens nas redes sociais, acreditavam piamente na vitória de Celso Russomanno (PRB). Queriam furar as notícias jornalísticas com as análises. Chutes são chutes e, em boa parte das vezes, vão para fora.

A dúvida de parte desses analistas era apenas saber quem iria ao segundo turno. A depender dos ventos e dos números principais da pesquisa, apostava-se em José Serra (PSDB) ou em Fernando Haddad (PT) como favoritos para enfrentar Russomanno. A um dia da eleição em São Paulo, ninguém com juízo perfeito é capaz de cravar o resultado. Com os três candidatos embolados nas pesquisas, quem apostava em Russomanno eleito agora é capaz de considerar que o camarada nem mesmo passe do primeiro turno. É mais um chute, pois.

Analista político é o sujeito que entende de tudo, de construção de bomba atômica à arte de fazer penico, passando por parto de raposa — um dos mais complexos, segundo entendidos. O eleitor, por sua vez, é o camarada pronto a desmentir o analista político. O que se apresentou em São Paulo foi uma certa precipitação dos resultados quando eles ainda eram maturados pelo eleitor. E uma certa torcida às avessas de tucanos e petistas. Caso Serra não vá, melhor Russomanno. Se Haddad não chega, melhor Russomanno.

Há uma máxima sobre a dificuldade de nacionalizar uma eleição municipal. Ao escolher prefeitos e vereadores, o eleitor estaria muito mais preocupado com os problemas da própria rua, como postos policiais e de saúde, buracos no asfalto ou até mesmo uma quadra de esportes. Assim, não haveria chance de a CPI do Cachoeira atrapalhar petistas ou tucanos — ou até mesmo integrantes de DEM, PTB ou PRB. Algo semelhante ocorreria com o julgamento do mensalão dificultar a vida do PT, principalmente nas capitais.

Tentações

A tal máxima, sobre nacionalizar as eleições, é sempre uma tentação para analistas — e jornalistas, evidentemente. E vá lá, é possível, afinal, estamos a apenas dois anos da campanha presidencial. O problema é que, em boa parte das vezes, o eleitor vota no candidato a prefeito do PRB não para mandar recados a Lula e críticas ao mensalão. Ou para fulminar Serra. Assim, nesses casos, qualquer análise distante fica prejudicada. Resta avaliar a cristalização das pesquisas, que mudam e provocam a derrota dos apostadores aventureiros.

Para chegar a resultados mais ou menos precisos, como se sabe, é necessário combinar pesquisa com conhecimento sobre uma cidade, a geografia, os humores do cidadão. Assim, não adianta dizer que o eleitor de São Paulo é indecifrável. Alguém que vota em Pitta, Maluf ou Kassab não pode saber o que quer. E, por isso, vai eleger também Russomanno. Balela. É pouco ou quase nada para explicar algo, principalmente pesquisas feitas ao longo de uma campanha. Agora, é esperar os resultados de amanhã. Definitivos, pois.

Outra coisa

No Recife, o comando da campanha de Geraldo Julio (PSB) apostou na queda de Humberto Costa (PT) desde o primeiro momento. Um dos integrantes do staff do governador Eduardo Campos — mentor de Geraldo — chegou a prever que a eleição acabaria ainda no primeiro turno. Amanhã, com a abertura das urnas, saberemos se tal avaliação se confirma. Uma certeza, qualquer analista tem: Eduardo Campos é o camarada que sai mais fortalecido das urnas. Como isso será aproveitado pelo governador pernambucano é outra coisa, que até mesmo um bom especialista em pesquisa — ou um mero chutador de resultados — não saberá responder.

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