terça-feira, outubro 09, 2012

O suflê - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 09/10


SÃO PAULO - O que de mais interessante ocorreu nas eleições paulistanas até aqui foi o caso de Celso Russomanno, cuja candidatura inflou e murchou como um suflê.

Várias hipóteses foram aventadas para explicar a ascensão e a queda. Elas incluem desde o conservadorismo do eleitor até o desgaste da política tradicional, passando por religião e inconsistência partidária. Esses e outros fatores devem ter influído, mas o que torna o fenômeno difícil de interpretar é o que os sociólogos chamam de problema micro/macro, ou como passamos das microescolhas dos indivíduos para os macrofenômenos que marcam a sociedade.

A dificuldade não é exclusiva dos cientistas políticos. Ela está presente em todos os ramos da ciência. O conhecimento das partículas subatômicas não nos esclarece muito sobre a química orgânica, ainda que moléculas sejam feitas de átomos, que são feitos de quarks, léptons etc.

Esses fenômenos têm em comum o fato de operarem sob o signo da emergência, propriedade de sistemas complexos que faz com que o todo exiba características diferentes das partes. Nenhuma peça de Boeing voa sozinha, mas interage com outras de forma tal que o aparelho decola.

O mesmo se dá com o eleitorado. Ninguém vota considerando só as feições do candidato. Alexander Todorov mostrou, porém, que voluntários olhando por um segundo para fotos de postulantes e apontando os mais bem-apessoados conseguiram acertar 68% dos resultados de eleições para o Senado dos EUA.

De modo análogo, poucos votam pensando apenas na economia. Ainda assim, o estado das finanças de um país é um bom preditor das chances de reeleição de um presidente. O indivíduo pode não responder tão diretamente aos dados do PIB e da inflação, mas reage a como votam seus amigos e vizinhos. Os padrões são tão entrelaçados e complexos que, às vezes, uma mudança inicial indetectável basta para estragar o suflê.

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