sábado, outubro 13, 2012

O que entra em jogo em uma guerra contra o Irã - SHLOMO BEN-AMI

O Estado de S.Paulo - 13/10



Teerã com arma nuclear ameaçaria a segurança dos EUA



Uma guerra com o Irã não é inevitável, mas a segurança nacional americana ficaria seriamente ameaçada por um Irã com armas nucleares. A discussão pública de uma ação militar se resume, com frequência, à retórica e à política partidária. Nós estamos propondo um debate fundamentado e não partidário sobre as implicações para os Estados Unidos de uma nova guerra no Oriente Médio.

Thomas Jefferson disse: "Em uma nação republicana, cujos cidadãos são movidos por razão e persuasão, e não pela força, a arte de raciocinar se torna de primeira importância". Na publicação Weighting Benefits and Cost of Military Action Against Iran ( Pesando custos e benefícios de uma ação militar contra o Irã), publicada este mês na internet, mais de 30 ex-funcionários de alto escalão do governo americano e especialistas regionais se reuniram para invocar a arte do raciocínio. Nós não concordamos integralmente com o relatório, mas compartilhamos entendimentos de sua mensagem.

Participamos da iniciativa por acreditar que uma discussão com base em fatos objetivos, custo-benefício, oportunidade, capacidades e estratégia de saída deveria reger qualquer decisão de uso da força militar.

Nossa posição é consistente com a política de outros presidentes, por mais de uma década, de manter todas as opções sobre a mesa, incluindo o uso de força militar, aumentando a pressão sobre o Irã enquanto trabalhamos em uma solução política. Como as consequências de um ataque militar são muito significativas para os interesses americanos, procuramos garantir que o leque de objetivos seja compreendido.

Se os EUA atacarem, poderão retardar por vários anos a capacidade do Irã de construir uma arma nuclear. Se o objetivo for danificar em grande escala a capacidade de armamentos do Irã, Washington pode ter um sucesso considerável. No entanto, sem um grande número de soldados em solo, duvidamos que ataques militares americanos lançados do ar - mesmo que suplementados por outros meios, como aviões não tripulados, operações secretas e ciberataques - poderiam eliminar a capacidade do Irã de construir uma arma nuclear, desestabilizar o regime ou obrigá-lo a capitular às exigências americanas.

Agentes da inteligência americana declararam que o Irã já possui o know-how e boa parte da tecnologia para construir uma arma nuclear. Americanos e israelenses, no entanto, concordam que os líderes iranianos ainda não tomaram a decisão de construir uma.

O governo americano, contudo, indicou que, se o Irã produzir urânio enriquecido no teor suficiente para uma arma e construir uma bomba, a opção militar precisa ser considerada. O secretário de Defesa, Leon Panetta, disse que os EUA teriam pouco mais de um ano para empreender a ação necessária "se o Irã decidir precipitar a construção de uma arma nuclear. Acreditamos que haveria tempo de advertência suficiente para responder."

Embora não seja a única maneira de alcançar esses objetivos, um ataque americano demonstraria a credibilidade do país como um aliado de outras nações na região e desorganizaria por vários anos as ambições nucleares do Irã, provendo espaço para outras soluções potencialmente de mais longo prazo. Um ataque também deixaria claro o pleno comprometimento dos EUA com a não proliferação nuclear quando outras nações considerarem medidas nessa direção.

Preço. Os custos são mais difíceis de calcular do que os benefícios em razão da incerteza sobre a escala e o tipo de reação iraniana. O Irã, provavelmente, retaliará diretamente, mas também buscará uma resposta assimétrica, incluindo um aumento da atividade terrorista e de operações secretas, além de usarem substitutos como o Hezbollah. Um aumento no preço do petróleo poderá manter o mercado instável durante semanas ou meses e paralisar a economia global.

O conflito também poderá sofrer uma escalada na direção de uma guerra regional envolvendo Síria, Hezbollah, palestinos e outros Estados e grupos terroristas árabes. Embora um ataque liderado pelos EUA ao Irã possa ser silenciosamente bem recebido pelos líderes de muitos Estados árabes, e certamente por Israel, ele provavelmente será recebido com hostilidade por grande parte dos muçulmanos da região.

Quando aceitou o prêmio Nobel da Paz, o presidente Barack Obama descreveu sabiamente o dilema que os Estados Unidos enfrentam como uma grande nação: "parte de nosso desafio é conciliar essas duas verdades aparentemente irreconciliáveis - que a guerra é, às vezes, necessária, e a guerra, em algum nível, é uma expressão da loucura humana." / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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