sexta-feira, outubro 12, 2012

Inflação merece mais atenção do Banco Central - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 12/10
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir ainda mais as taxas básicas de juros, desta vez em 0,25 ponto percentual, não chegou a surpreender, pois o Banco Central tem pautado as decisões mais no cenário internacional do que na trajetória de curto prazo dos índices de inflação. O relatório pessimista do Fundo Monetário Internacional (FMI) acerca das dificuldades de recuperação das economias em crise reforçou os prognósticos sobre mais este corte nos juros básicos no Brasil, e os negócios no mercado financeiro se anteciparam à queda.

Mas tudo indica que esse processo de afrouxamento será interrompido. Três dos oito diretores que votam na reunião do Copom foram favoráveis à manutenção dos juros básicos no patamar de 7,5%, e isso deve levar o Banco Central a adotar uma postura mais cautelosa daqui para a frente. Embora o BC insista, em comunicados e nas declarações do seu presidente Alexandre Tombini, que continua apostando na convergência dos índices de inflação na direção do centro da meta (4,5%), ainda que não em trajetória linear, o comportamento dos preços tem se mostrado preocupante (o mercado tem feito projeções crescentes da inflação para este ano; a última, 5,4%). Esses índices não foram turbinados apenas por uma alta de hortigranjeiros. Cotações internacionais de outros alimentos que o Brasil exporta sofreram considerável valorização, e os preços domésticos acabaram acompanhando a tendência.

Mesmo com o baixo crescimento da economia brasileira este ano (estima-se 1,6%), no setor de serviços vários segmentos permanecem aquecidos, ocasionando uma elevação no custo da mão de obra, com reflexos em diferentes cadeias produtivas. Não se pode dizer que exista um ambiente confortável no que se refere à inflação doméstica. Se, por um lado, as taxas reais de juros no Brasil estão mais próximas da realidade do mercado internacional, no que se se refere à inflação somos hoje quase um ponto fora da curva.

A política monetária sozinha certamente não resolverá essa questão, que tem a ver também com desequilíbrios estruturais crônicos da economia brasileira que não são atacados como deveria. No entanto, a política monetária pode evitar que a inflação se distancie do centro da meta (4,5%). Nesse sentido, é bom que o Banco Central, após a reunião do Copom, tenha anunciado, em comunicado, na sua linguagem peculiar, que as taxas básicas de juros deverão permanecer nesse novo patamar por um tempo razoável, até que a inflação dê mostras de arrefecimento.

Na semana que vem, os detalhes dessa decisão serão conhecidos, pela divulgação da ata da reunião do Copom, e tomara que as explicações sejam suficientemente convincentes para quebrar expectativas negativas que vêm aumentando no mercado financeiro.

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