segunda-feira, outubro 01, 2012

Golpes sortidos - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 01/10


RIO DE JANEIRO - Em agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros, insatisfeito com os poderes que lhe assegurava a Constituição, mandou ao Congresso uma carta renunciando ao cargo -na convicção, dizem, de que seria imediatamente reconduzido nos braços do povo que o elegera um ano antes. Mas bastou a Jânio se levantar da cadeira para que o presidente da Câmara dos Deputados se sentasse nela, como previsto. O Congresso aceitou a carta e a renúncia. O povo limitou-se a assistir.

Enfim, se já era presidente, para que dar um golpe em si mesmo, na duvidosa expectativa de voltar como um superpresidente? Jânio viu coisas onde elas não existiam e, provavelmente, em dobro.

A 13 de março de 1964, uma sexta-feira, seu sucessor, o presidente João Goulart, fez um comício gigante diante da Central do Brasil, para defender as reformas -agrária, urbana, tributária- que tentava emplacar em seu governo. Queria demonstrar força. Quem não se impressionou foi seu antigo colega de governo, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que perguntou: "Se já é presidente, para que fazer comício?".

Duas semanas depois, Jango, como o chamavam, foi deposto pelos militares. O comício não lhe serviu de nada, exceto para assustar seus inimigos -que enxergaram nele a preparação para um golpe e o pretexto de que precisavam para o seu próprio golpe.

Nos dois casos, as vítimas desses golpes reais ou imaginários foram presidentes da República, em pleno exercício do mandato e formalmente trajados para tal. Bem diferentes do ex-presidente Lula, que, segundo seus correligionários, está sendo objeto de uma tentativa de golpe, com o julgamento desse mensalão que tanto o estomaga. Mas como se depõe um ex-presidente?

Não se pode mandá-lo para casa, porque é lá que ele já costuma estar. Só se o obrigarem a vestir o pijama.

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