quarta-feira, outubro 17, 2012

Fiasco em Viracopos - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 17/10


Um avião cargueiro de 130 toneladas derrapou ao pousar, teve o pneu estourado e tombou na única pista do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP).

Até ser retirada, a aeronave provocou o fechamento do aeroporto, que permaneceu interditado durante quase 46 horas, de sábado a segunda-feira. Nesse período, cerca de 500 voos foram cancelados e pelo menos 25 mil passageiros ficaram prejudicados.

Ocorrências dessa natureza são comuns no mundo inteiro -até aí, pouco há de realmente excepcional. Por esse motivo, a Organização Internacional da Aviação Civil recomenda que os aeroportos tenham um plano de remoção rápida para desobstruir a pista e minimizar os transtornos a passageiros.

O que chamou a atenção em Viracopos não foi, portanto, o bloqueio da pista, mas a demora para remover o cargueiro e reabrir o local para pousos e decolagens. Estima-se que a falta de experiência possa ter atrasado a operação em pelo menos 15 horas.

Sem dúvida não ajudou o fato de não haver em Viracopos um "recovery kit" -conjunto de equipamentos capaz de remover aeronaves-, mas as empresas aéreas não são obrigadas a possuir tais itens. Isso não as isenta, entretanto, de providenciar o maquinário.

Foi o que fez a Centurion Cargo, operadora do avião. O kit foi alugado da TAM e precisou ser deslocado de uma distância de 140 km até Campinas. Após uma primeira tentativa fracassada no domingo, a empresa conseguiu retirar a aeronave só na segunda-feira.

Que a demora tenha ocorrido em um dos dez aeroportos mais importantes do Brasil é motivo de preocupação. Em 2011, 7,5 milhões de passageiros utilizaram Viracopos, cujo movimento tem crescido de forma acelerada nos últimos anos.

Assim como outros aeroportos brasileiros, Viracopos tem apenas uma pista (a segunda estava prevista há quase uma década, mas só deverá sair em 2017). Isso torna ainda mais essencial ter agilidade para executar o plano de remoção.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) abriu um procedimento administrativo para investigar a atuação da empresa aérea e do aeroporto nesse acidente. É imprescindível descobrir os motivos da demora e apontar providências para evitar sua repetição.

Um país que vai sediar dois dos maiores eventos esportivos do mundo não pode tolerar fiascos como esse na área de infraestrutura. Acidentes acontecem, mas é preciso estar preparado para eles.

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