domingo, outubro 28, 2012

A guilhotina é o ioiô da tragédia - FABRÍCIO CARPINEJAR

ZERO HORA - 28/10


“Boa tarde! Há 4 meses me envolvi sexualmente com um homem comprometido, desde então tem sido um relacionamento ioiô, sempre peço um tempo pra ele quando vejo que meus sentimentos estão me dominando. Não me abro com ninguém a respeito disso. Agravantes: é meu chefe, 30 anos mais velho, meu primeiro envolvimento sexual foi com ele, trabalho com sua namorada. Grande abraço. Yasmin”

Querida Yasmin,

Quem dera fosse uma relação ioiô, seria um elogio, é um caso guilhotina, feita para sua cabeça rolar. Juntou todas as adversidades numa só pessoa, todas as proibições num único tirano.

Mistura a cena profissional com a amorosa, cria situações de chantagem (da parte dele, de sua parte), não se abre porque não tem ninguém como expor os personagens da novela, ainda convive com a namorada dele e vê o romance dos dois se desenrolar na sua frente.

Sua trama produz ciúme, inveja, prepotência e humilhação, o lado pantanoso do amor. Não há sentimentos nobres, destinados à escolha e à independência.

Como vai crescer numa relação dessas?

O inferno nem mais a cumprimenta: procurou alguém que pudesse ser seu pai (trinta anos mais velho), seu chefe, seu professor, anulando por completo seu discernimento crítico. É uma filha, uma escrava, uma aluna da tortura.

São tantos complexos que somente comprando um divã parcelado em suaves prestações.

Sofre um excesso de dependência que leva à paralisia. Você pede um tempo para não pressionar de propósito. Estabelece um falso limite, pois prevê o mais drástico dos desfechos.

O que deve ocorrer é perder o emprego, acabar sozinha e reduzir a pó seu grupo de amigos, já que seus colegas suspeitam de suas vantagens e benefícios pela proximidade com o patrão. Ainda que não fale nada do que vem ocorrendo, é o centro da mais famosa fofoca no expediente. Ao ganhar uma promoção, mesmo que mereça, será alvo de piadas e do descrédito. Nunca saberá se a namorada do amante descobriu o triângulo amoroso e puxa conversa por hipocrisia ou amizade.

O carimbo de sua carteira profissional é uma lágrima azul. Sua alegria é ser infeliz. Seu projeto de vida é acumular culpa. Nem percebeu que não deseja o melhor para sua vida, mas o pior.

Optou por ser leal a um ditador, apagar sua personalidade, frustrar planos de ascensão na carreira e no plano emocional.

Quem você deseja superar com tamanha tristeza? Sua mãe?

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