sábado, setembro 15, 2012

De Alice pra Gabriel - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 15/09
Prezado Gabriel: Como não tenho o seu e-mail, resolvi usar o lugar onde meu avô escreve (ele deixa eu usar tudo que é dele) pra fazer um pedido à sua Vó Dilma, que eu soube na creche que manda no país (vou falando e ele vai escrevendo). Me contaram que ela manda mais do que meus três avôs, minhas três avós, minha bisavó e meus pais juntos. Me disseram também que ela é brava, durona. Mas deve ser lá pros ministros dela, não pra você, não é mesmo? Avô e avó foram feitos pra agradar a gente, pra fazer nossas vontades, tudo que a gente quer. O que seria de nós se não fossem nossos avós, hein? Mas também o que seria deles sem nós? Pai e mãe são muito chatos: querem que a gente coma tudo, que durma na hora certa, que não chupe bala e nem beba refrigerante, tudo aquilo que a gente pode fazer na casa de nossos avós, onde nada é proibido.
Como moro pertinho de minha Vó Mary e meu Vô Zu, eles vão me buscar na creche quase todo dia, e a gente conversa muito. Tudo eu quero saber o porquê. Por que eleição? Por que candidatos? Eles me explicaram direitinho e eu também queria votar. Mas eles disseram que só quando eu for bem mais grande. Mas na minha turma a gente também brinca de escolher. Eu tenho alguns candidatos a me namorar, mas eu escolhi um só, e a professora não se meteu. Já sua avó está se metendo pra ajudar quem é do partido dela. Repete pra ela o que às vezes ouço de mamãe: "Não faz isso que é feio." É o que eu queria que você pedisse a ela.

Quando você vier ao Rio, me procura. Eu já disse que tenho namorado, não podemos "ficar". Também porque sou mais velha, tenho quase três anos e você, dois, é um pirralho. Mas podemos ser bons amigos e eu posso te levar na praia e no teatro. Um beijo na bochecha, não na boca, da Alice. Meu avô manda recomendações à sua avó.

Triste e desprezado ministério da cultura! Uma cai pelo que fez de melhor: a denúncia da precária situação financeira da Pasta. A outra sobe não por suas qualidades, mas pelo que de pior se dispôs a fazer: servir de moeda de troca política, embora negando, claro.

Nina, moça viajada, é na verdade uma tonta, ou pensa que a gente é. Além de desconhecer a existência de cheque e transferências bancárias, não sabe que os bancos possuem cofres onde ela poderia guardar em segurança as fotos que fez de Max e Carminha se beijando e que escondeu na casa dos outros. Sua ignorância de coisas elementares faz de Adauto um gênio.

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