quarta-feira, agosto 01, 2012

Samba da cotista doida - MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

FOLHA DE SP - 01/08


SÃO PAULO – Morena ruiva, morena jambo, branca melada, branca morena, alva escura, clarinha, pálida, branquiça, agalegada, averme lhada, bugrezinha escura, quase-negra, mista… Essas são algumas das mais de 130 cores de pele autodeclaradas pela população em 1976, em pesquisa organizada pelo IBGE. Diante de tanta variedade, o instituto acabou por consolidar o uso do feioso termo "pardo" para rotular -e empobrecer- a festa de semitons da miscigenação brasileira.

Desconhecia o levantamento, que me foi revelado pela artista Adriana Varejão, com quem conversei para uma reportagem da revista "Serafina". Ela prepara um trabalho baseado nessa variedade cromática e poética que emergiu da pesquisa.

Percorrer a curiosa lista de tonalidades faz pensar sobre a opção política de setores da esquerda e do governo petista de usar a polarização branco x negro como espelho da divisão social no país. Como muitos já bem argumentaram, as cotas raciais são uma contrafação fora de lugar das duvidosas políticas conservadoras norte-americanas, que trouxeram algum benefício para a classe média negra e nada fizeram para promover os mais pobres.

No Brasil, parece mais adequado compensar o desfavorecimento socioeconômico -e não "racial". A institucionalização do racismo não é a melhor ideia se a ideia é justamente eliminá-lo. Ou será que não é?

Agora, o Congresso nos ameaça com o bizarro projeto da deputada Nice Lobão (PSD-MA). Prevê que metade das vagas das universidades federais seja repartida entre negros, pardos e indígenas na mesma proporção demográfica constatada pelo IBGE. E tal contingente, para se beneficiar, terá de ter feito seus estudos em escolas públicas.

É o samba da cotista doida. Grosseira falta de compreensão sobre o papel da universidade e das políticas compensatórias. Melhor criar logo uma loteria federal de diplomas. A megassena universitária!

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