sexta-feira, agosto 03, 2012

O BOLÃO DOS ADVOGADOS DOS RÉUS DO MENSALÃO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 03/08

"O Marco Aurélio [Mello] subiu no telhado", diz um dos principais advogados do mensalão enquanto vê o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) atirar na direção de outro magistrado, José Antonio Dias Toffoli, na edição do "Jornal Nacional" de anteontem.

Os defensores dos principais réus do caso estão com os olhos grudados na tela da TV Globo. Reunidos no bar da cobertura do hotel Naoum, eles veem Marco Aurélio dizer que será "triste" e "constrangedor" para o STF decidir se Toffoli pode ou não julgar o caso -ele foi advogado do PT no passado.

Marco Aurélio era até então computado como voto eventualmente favorável aos principais réus. Ele já tomou posição impopular em vários processos e sempre criticou ministros que votam "com a turba". Ao dar a entrevista à Globo, no entanto, o ministro sinalizava, na opinião de vários advogados, que votará pela condenação.

E Toffoli? Aguentaria a pressão do "Jornal Nacional" ou se declararia impedido de julgar, perguntavam-se alguns. "Ele é um pouco medroso", opinava um deles. "Não é, ele vai votar, sim", dizia outro. Toffoli era considerado voto certo pela absolvição. "Nós podemos cair num paradoxo de ele ficar no julgamento, mas ficar fraco e condenar um monte de gente", afirmava um terceiro.

A cobertura do Naoum vai ficando cada vez mais cheia. Vários advogados chegam para se juntar aos ex-ministros Márcio Thomaz Bastos e José Carlos Dias e aos advogados Arnaldo Malheiros Filho e Celso Vilardi, hospedados lá. Alguns tomam uísque. Outros, cerveja ou água.

O "JN" é o tema da conversa. Muitos deles consideram que as reportagens longas e diárias, em que as acusações contra os réus são repetidas várias vezes em horário nobre, podem influenciar mais alguns ministros, que teriam "medo" do telejornal, do que as defesas que farão de seus clientes no tribunal.

Dez advogados saem para um restaurante. Thomaz Bastos, Dias e Malheiros ficam no hotel. Querem dormir cedo.

Num táxi, a caminho do jantar, os palpites se avolumam. Delúbio Soares dificilmente escapará da condenação. Alguns réus terminarão o mês presos e algemados. Mas pelo menos uns dez serão absolvidos.

Sob a condição de não terem seus nomes publicados, os advogados dão à coluna suas opiniões sobre os votos de cada ministro no caso do principal réu: José Dirceu.

A ministra Cármen Lúcia? "Essa condena até Papai Noel na véspera de Natal", opina um advogado. "Eu já acho que ela absolve até Judas na véspera do enforcamento", palpita o taxista, provocando risos gerais.

O ministro Joaquim Barbosa? Condena. Carlos Ayres Britto? Condena. Marco Aurélio Mello? "Ele não subiu no muro, ele já se atirou da janela. Condena todo mundo", prossegue o advogado.

O ministro Ricardo Lewandowsky? "Ele vem com um grande voto. Vai dar a volta por cima." Todos concordam. Toffoli? Absolve. Luiz Fux? Absolve. "Mas ele é meio vaidoso", opina outro.

Em relação aos demais, as opiniões se dividem.

A ministra Rosa Weber? Mistério. "Não sei. Todos achavam que sim, absolveria, pela ligação com a presidente Dilma Rousseff. Mas ela me recebeu com uma frieza glacial", diz um dos defensores. "Tá todo mundo assustado, porque ela chamou o juiz Sergio Moro para auxiliá-la. Ele é muito duro, condenador", afirma outro.

O ministro Cezar Peluso? "Pau", diz um advogado. "Ele odeia o José Dirceu." Quando já estava indicado para o STF, Dirceu quase teria conseguido convencer o então presidente Lula a trocá-lo por outro candidato, o juiz Dirceu Aguiar Cintra. "Quem não deixou foi o Márcio [Thomaz Bastos, então ministro da Justiça]." Outro discorda: "Ele é garantista, vai dar um voto bom, vai surpreender".

Ministro Gilmar Mendes? Considerado até o começo do ano um voto favorável, passou a ser uma dúvida entre os advogados depois de se desentender com o ex-presidente Lula e de ser atacado por petistas. "É um baita juiz, garantista. Se um dia eu fosse acusado, queria ter o ministro Gilmar como meu julgador. Mas, hoje, para nós, é uma incógnita."

E enfim o decano, Celso de Mello. É quase um consenso que o ministro é "o melhor", "o mais independente", "o menos vaidoso". Sobre seu voto, no entanto, ninguém arrisca nem sequer um palpite.

DA HORA

A atriz Giovanna Ewbank foi conferir o lançamento de uma coleção de relógios numa joalheria anteontem, no shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia. A apresentadora Ana Luiza Castro também esteve no coquetel.

FILOSOFAR EM ALEMÃO

O livro "Saraminda", do senador José Sarney (PMDB-AP), ganhará versão em alemão. A Fundação Biblioteca Nacional deu bolsa de US$ 5.000 para a editora Königshausen & Neumann traduzir o título. O site de Sarney reproduz crítica em que o antropólogo Claude Lévi-Strauss fala do "poderoso lirismo" da obra sobre uma mulher negra "que domina todos a sua volta".

NEGÓCIO DA CHINA

"O Aleph", de Paulo Coelho, também entrou no programa de tradução de obras brasileiras -será reescrito em mandarim. Mais autores traduzidos: Machado de Assis e Clarice Lispector.

TELÃO DA JUSTIÇA

O bar Ilha das Flores, no Morumbi, exibe hoje o julgamento do mensalão em um telão. Um dos fregueses do local é o advogado de José Genoino, Luís Fernando Pacheco. Colegas de Pacheco combinaram de se encontrar lá para assistir à sua performance na TV Justiça.

BANDO DE LOUCOS

O Timão voltará ao cinema com "1976 - O Ano da Invasão Corintiana", da produtora Canal Azul. A obra contará o episódio em que cerca de 70 mil torcedores viajaram ao Rio para ver um jogo contra o Fluminense (deu empate: 1 a 1).

Consulta com pai de santo e farra de jogadores no motel estão entre as pistas que o diretor Ricardo Aidar pretende investigar no documentário. O filme tem orçamento de R$ 2 milhões.

ESQUECERAM DE MIM

Na terça à noite, gritos foram ouvidos na Câmara Municipal de SP. A Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal foram chamadas. Descobriram que o funcionário responsável pela biblioteca havia trancado a sala com uma pessoa lá dentro. O esquecido foi Alexandre Matias Junior, advogado que trabalha com o presidente da Câmara, o vereador José Police Neto (PSD-SP).

A MEDUSA É DELE

A exposição "Caravaggio e seus Seguidores" foi inaugurada anteontem em SP, no Masp. A mostra traz 22 obras do artista italiano e de alguns pupilos dele. Estavam no evento o italiano Alberto Zoffili, dono da primeira versão da pintura "Medusa". A colecionadora Maria Lúcia Segall também passou pelo coquetel.

CURTO-CIRCUITO

Os músicos Curumim e Lucas Santtana se apresentam hoje no Cine Joia, na Liberdade, a partir das 21h. Classificação etária: 18 anos.

O estilista Oskar Metsavath, da Osklen, e Emicida estão no The Creators Project, que acontece hoje e amanhã, no espaço Moinho Eventos, na Mooca.

Maria Pia Finocchio dirige de hoje a domingo apresentação de 70 grupos regionais no Memorial da América Latina. Livre.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA

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