domingo, agosto 19, 2012

Fatiados & aliados - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/08


Em tempo de mensalão em fatias no Supremo Tribunal Federal (STF), a palavra virou moda na política. Os petistas, por exemplo, tratam tudo agora como fatias. É fatia do eleitorado, fatia de aliado e fatia de sindicatos que puxam greves e por aí vai. A forma como o governo Dilma Rousseff decidiu lidar com os movimentos grevistas dos servidores públicos deixou os petistas fatiados entre a administração comandada pelo partido e as categorias que por muito tempo servem de base ao PT. Especialmente no Distrito Federal e no Rio de Janeiro, onde vive a massa dos servidores federais. Existe um mal-estar no partido que se considera derrotado independentemente do desfecho dessa queda de braço.

O PT e seus aliados sempre se mostraram solidários às categorias em greve. Agora, essa solidariedade está tão fatiada quanto o julgamento do mensalão. Os grevistas, aos quais os petistas são ligados, apostam em manter a greve. O Ministério do Planejamento, comandado pelo PT, considera que vai sufocar as paralisações cortando pontos e exigindo o retorno ao trabalho, levando as categorias a aceitar a proposta de reposição inflacionária de 18% com pagamento em três anos. No meio dessa praça, está o partido.

Para o PT de Brasília não poderia ser pior. Afinal, a sensação que se tem é a de que grande parte dos sindicatos começa a migrar para legendas que tentam resgatar a origem partidária, em especial, o PSol, que vem crescendo no embalo daqueles que têm me mente o antigo jeito de ser e de viver do PT. A volta às aulas da UnB, por exemplo, vem no rastro de uma briga política em torno das eleições da categoria. Em outros setores, ouve-se diariamente os sindicalistas reclamando do Partido dos Trabalhadores, que antes era mais solidário e agora diz apenas que se deve aplicar a lei. Ou seja, os sindicatos, antes aliados, agora podem se voltar contra o partido que ajudaram a levar ao poder. Ninguém duvida que, logo ali, na próxima eleição, o PT perderá mais um naco da sua base.

Por falar em aliados...

Alguns episódios em política se repetem a cada eleição. Em 2010, o então ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, deixou a pasta para ser candidato a governador da Bahia. Ele e o presidente da República desfrutavam de uma relação cordial, contavam piadas juntos, riam, trabalhavam com alegria, era tudo muito bom. Tão bom que Geddel tinha convicção de que Lula não iria forçar a mão pró-Jaques Wagner. Errou. Na hora do vamos ver, Lula jogou seu peso em prol de Wagner.

Guardadas as devidas proporções e personagens, uma vez que Geddel não era digamos, o dono do partido, o mesmo ocorre agora com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Campos aposta na sua relação com o ex-presidente para afastar o peso da imagem de Lula e da presidente Dilma de campanhas como a de Recife, Belo Horizonte e Fortaleza. Especialmente, depois que o próprio Eduardo jogou seu peso político para fazer a vontade do PT em São Paulo na campanha de Fernando Haddad.

Os petistas são unânimes em citar as cidades onde o PT e o PSB são adversários como aquelas prioritárias para o engajamento de Lula. Também falam da necessidade de colocar nesses locais a participação da presidente Dilma Rousseff, ainda que indiretamente. Com Lula na tevê e nas rádios, a ideia é fazer com que ele cite a presidente Dilma. A lógica dessas citações é a de que, se ele indicou Dilma e o eleitorado tem a sensação de que está dando certo, o mesmo vale para o município. A diferença é que, nas cidades, o eleitor não precisa de ninguém que lhe diga o que funciona e o que está errado. Geralmente, em pleitos municipais, citações desse tipo não têm tanto efeito. Vamos ver se agora terão.

Por falar em causa & efeito...

Os peemedebistas têm sentido falta do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) nas reuniões para definir estratégias político-partidárias e conversar sobre cenários e conjunturas. Jader, entretanto, depois de tantos problemas, está recolhido em tratamento de saúde. E já avisou que só quer exercer este mandato de senador. Não será candidato a mais nada. Em tempo: seu mandato vai até 2018, quando ele completará 74 anos. Ou seja, se aposentará mais novo do que José Sarney (PMDB-AP) que, aos 82 anos, comanda o Senado.

A forma como o governo Dilma Rousseff decidiu lidar com os movimentos grevistas dos servidores públicos deixou os petistas fatiados entre a administração comandada pelo partido e as categorias que por muito tempo servem de base ao PT.

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