quinta-feira, agosto 30, 2012

A história de um mensaleiro - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/08


SÃO PAULO - João Paulo Cunha, no fim das contas, tinha uma certa razão ao se comparar a Getúlio Vargas. Assim como o presidente, ele também entrou para a história, ainda que pela porta dos fundos. É o primeiro brasileiro a ser condenado por corrupção pelo STF por crime cometido no exercício da presidência da Câmara dos Deputados.

Metalúrgico e líder sindical, João Paulo tem uma biografia que preenche umas três ou quatro páginas de um livro de bolso. Fundador do PT em Osasco (SP), foi vereador e deputado estadual, cargos nos quais, ironicamente, destacou-se pela fiscalização dos atos do Executivo, encaminhando à Justiça diversas acusações de mau uso do dinheiro público.

Na Câmara dos Deputados, muitos anos antes de o PT usar caixa dois como argumento de defesa no julgamento do mensalão, João Paulo cobrou uma fiscalização mais rigorosa, pela Justiça Eleitoral, do financiamento das campanhas políticas.

Com o "Lula-lá", virou presidente da Câmara e passou a ser saudado em Osasco como o "orgulho do PT". No auge da sua vida pública, fez críticas pontuais ao governo ("o Fome Zero é um programa bom, mas está sendo mal gerenciado. Precisamos tomar providências"), chegou a ocupar interinamente a Presidência da República e a anunciar sua disposição em disputar o governo paulista.

Quando seu nome foi envolvido no mensalão por ter recebido R$ 50 mil da conta do publicitário Marcos Valério, ele afirmou que o dinheiro era do PT e apresentou uma defesa bastante singular, afirmando ter "convicção" da sua "honestidade". Afinal, desde quando honestidade é uma questão de opinião?

Embora simbólica, a condenação de João Paulo Cunha não deve colaborar para a melhoria das práticas políticas no Brasil. A corrupção é a regra. Mas, ao menos, há um efeito educativo. Dificilmente algum político vai ter, como ele, a cara de pau de mandar a própria mulher ao banco para sacar uma propina.

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