sexta-feira, julho 27, 2012

A mãe do consumidor - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 27


Está todo mundo se juntando à campanha dos direitos de quem consome. Pra frente, presidente Dilma!



MUITO BOM dia. Estou aqui hoje para sujeitar algumas coisas a regulamento, a começar pela forma como você lê. Percebo que a senhora veste trajes íntimos. Isso lhe parece certo, minha senho­ra? Quanto ao senhor, que história é essa de manusear as joias da coroa enquanto se informa? Compostura é bom e todos gostam.

Venho enviada pela excelentíssi­ma senhora Dilma Rousseff, presi­dente da República, e (porque o pu­blicitário João Santana assim de­terminou) agora também agente honorária e militante do Procon.
Meu nome é doutora Barbara e minha missão é dar sentido ao que está desordenado.

Tome o uso indiscriminado de imagens do mensalão no horário eleitoral. Estou aqui para acabar com essa fuzarca. Quer publicar fo­to do Silvinho Pereira chorando? Vai ter que se ver comigo. Usar imagens do Zé Dirceu dizendo "na­da a declarar"? Sou eu que libero. Pois é, sou mais um dinossauro de colar de pérolas vindo do Planalto para morder calcanhares.

Ora, não é verdade que na Olim­píada de Londres o espectador não pode nem mesmo entrar no estádio vestindo camiseta com logotipo do concorrente do patrocinador do evento? Então. Quem detém os di­reitos de imagem sobre o Delúbio e o Dirceu sou eu. (Bem, na verdade, eu só estou aqui cobrindo pela Ere­nice que sofreu um probleminha de superexposição e logo volta).

Também fui incumbida pela nos­sa presidente divina a zelar por ou­tras áreas muito importantes. Dil­ma Procon, a mãe do consumidor, se insurge, ao seu lado, contra a TIM a TAM e o TUM.

Espere. Creio ter cometido aí um pequeno engano. Deveria ter dito: "A TIM, a TAM e o pum". É isso. A presidente acha de péssimo tom esse negócio de pum. Não que ela pretenda multar, não, nada disso. Não há nenhuma sanção prevista no caso do pum. Mas, na ocorrência de alguma infelicidade, caso você esteja no mesmo recinto que ela, prepare-se para ter o dedo apontado na sua fuça e ser intimidado até as lágrimas. Já no caso da TIM e da TAM, a questão é bem mais grave.

Em se tratando da TIM, irregula­ridades a parte, fica desde já estabe­lecido que as regras foram muda­das no meio do caminho. E ponto.

Fazer o quê? Chamar o Bud Spen­cer e o Terence Hill para discutir com Dilmão? No caso da TAM, se do céu caírem canivetes e bigornas em forma de chuva torrencial, a companhia aé­rea estará terminantemente proi­bida de se queixar com São Pedro e será obrigada a acomodar sem he­sitação todos os passageiros dos voos cancelados em hotéis cinco estrelas. Assim fica determinado por mim e por euzinha.

Vamos poupar a presidente de acordar e ver aquelas fotos de sa­guão de aeroporto superlotado na primeira página do jornal, ouviu bem, dona TAM? E quem não cou­ber nos hotéis deve ser alojado na arca de Noé. Depois eu volto para lidar com as senhoras Gol, Claro etc. -não pensem que a conversa parou por aqui. Por ora, a única dispensa­da é a Vivo porque eu acho aquele bonequinho do logotipo uma graça.

Outro dia me deu um clique e eu liguei pro Gilberto e disse assim: "Oi, Kassab-Caçamba, xóia? Não sei achar a saída para a rua quando vou ao cinema no shopping Frei Caneca. É como se estivesse no la­birinto da Alice no País das Maravi­lhas. E nunca consigo estacionar nas vagas tamanho PP dos shop­pings de São Paulo. Que tal ajudar a mim e a Dilma na campanha mora­lizadora para o consumidor se sen­tir melhor?" Não é que, na mesma hora, o prefeito se dispôs a ajudar? É uma corrente pra frente que esta­mos formando, uma coisa mágica.

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