sexta-feira, junho 15, 2012

A última que morre - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 15/06


Uma semana e meia. Ou seja, desde anteontem até o fim da semana que vem. É esse o prazo - que muita gente diria ser lamentavelmente otimista - que a ONU deu a si mesma para estabelecer metas que garantam a salvação do planeta contra o seu pior inimigo.

Se o assunto aqui fosse um filme de ficção científica, esse inimigo seria um monstro de algumas toneladas, vindo de uma galáxia distante, aparentemente invulnerável e com inesgotável apetite por bípedes falantes.

Nada disso: desta vez a ameaça é muito mais séria. Os inimigos somos nós mesmos.

Estamos falando de uma iniciativa solenemente intitulada de Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Começou esta semana, no Riocentro. Como todo mundo sabe, a espécie que domina o planeta - você, eu e o resto do pessoal - mantém sua hegemonia consumindo recursos naturais com extraordinário apetite. Só recentemente descobrimos que esses recursos não são, imaginem só, inesgotáveis.

A conferência da ONU - que atende pelo apelido de Rio+20 - parte de uma premissa que ninguém discute: o tempo é curto. Os sintomas de uma tragédia são tragicamente visíveis. Incluem aquecimento global, redução das reservas de água doce, escassez de alimentos. E todos eles se tornam mais graves com o crescimento da população do planeta: já somos sete bilhões e, dentro de 40 anos - um tempinho à-toa -, seremos nove bilhões. Sem um aumento de 70% na produção de comida, vamos começar a morrer de fome. Primeiro, os pobres e miseráveis, claro. Mas depois, inexoravelmente, você e eu - o que é inaceitável, evidentemente.

O principal objetivo da Rio+20 - além de reafirmar os princípios do desenvolvimento sustentável, o que não passa de blá-blá-blá - é encontrar formas de ampliar o crescimento econômico sem prejudicar o meio ambiente. Alguns pessimistas diriam que isso seria algo parecido com comer um bife sem mastigar nem engolir.

Mas é preciso reconhecer que o simples fato de que esta é a maior reunião patrocinada pela ONU até hoje indica, pelo menos, que há consenso sobre a gravidade e a urgência do problema. O que não chega nem perto de garantir o êxito da conferência - mas a esperança, como sabemos, é a última que morre de fome.

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