sexta-feira, junho 08, 2012

França e Alemanha: divergências - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 08/06



A chanceler alemã Angela Merkel deu uma lição de "boa gestão financeira" para a França do presidente François Hollande.

O presidente francês, desde sua eleição, repete que a Europa não conseguirá evitar o desastre financeiro recorrendo apenas à austeridade. Ao rigor deve ser acrescentado um outro elemento, "o crescimento".

A palavra de Hollande encontrou muito eco na zona do euro. Todos os países que obtiveram ajuda da União Europeia ou do Fundo Monetário Internacional (FMI) foram obrigados a adotar planos econômicos drásticos e quase suicidas: Grécia, Portugal, Espanha e Itália cortaram gastos, aumentaram impostos, reduziram salários, acabaram com os desperdícios, e o efeito foi automático, mecânico: a redução do crescimento. E, principalmente, a revolta dos pobres.

Esses países, portanto, adoraram Hollande, esse socialista que deseja que a Europa elabore planos não só para reduzir despesas, mas também para intensificar sua produção. A Alemanha, até agora, evitou assumir uma posição nesse debate. Mas esta semana ela o fez, por meio de um relatório do ministério alemão da Economia intitulado "Mais crescimento na Europa: empregos, investimentos, inovação".

O título do estudo parece, em princípio, aprovar as teses de Hollande, pois refere-se a "mais crescimento na Europa". Contudo, lendo suas páginas, observamos que, na realidade, Berlim rejeita, completa e cruelmente, a posição francesa e permanece aferrada à doutrina de Merkel: economia, austeridade, equilíbrio orçamentário, vigorosa redução das despesas, etc. Quanto ao crescimento, veremos mais tarde, quando as finanças públicas da Europa estiverem totalmente reabilitadas.

Bons alunos. O estudo alemão examina as medidas que, face à crise, os "bons alunos" do mundo ocidental aplicaram: Canadá, Finlândia, Alemanha, países bálticos. E explica o ponto comum a todos esses países: "por meio de uma consolidação favorável ao crescimento, os déficits foram reduzidos. Um crescimento vigoroso foi possível por causa das reformas do mercado de trabalho e resultou num aumento sustentável do número de empregos".

Em resumo, à receita de Hollande, de "atenuar a austeridade com estímulos ao crescimento", Merkel responde com sua receita mágica: "Austeridade! E mais austeridade. E o crescimento virá". O aviso de Merkel é dirigido não só para a França, mas para todos os países que, como a Grécia, não suportam mais a camisa de força, as algemas, as pulseiras eletrônicas, as câmeras de vigilância, a que a Europa foi submetida sob o reinado Merkel-Sarkozy.

Para deixar claro e afirmar que, apesar da chegada de um socialista na França, a salvação só pode vir do liberalismo, Merkel insiste: "É preciso tornar as empresas europeias mais eficientes, através das privatizações. É preciso liberar as forças do crescimento, especialmente liberalizando em todos os Estados o tráfego ferroviário."

Essa lição é um vexame para a França. E tanto mais porque, até agora, durante suas três semanas de governo, Hollande tem se contentado em fazer gentilezas para as classes desfavorecidas: aumento do salário mínimo, aumento da subvenção escolar, retorno da aposentadoria à idade de 60 anos no caso daqueles que começaram a trabalhar muito jovens. Por outro lado, para fazer economia, até aqui ele não forneceu nenhuma pista.

Uma única ideia foi apresentada para financiar esses "presentes" para as classes desfavorecidas. Foi sugerida, ingenuamente, pela secretária do Partido Socialista, Martine Aubry: "Existem enormes margens de manobra", ela afirmou, "como impostos complementares". Talvez fosse melhor ela ficar calada. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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