sexta-feira, junho 08, 2012

Duas maneiras para deter Lula - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 08/06


O homem descompensou de vez, é incontestável; o supremo São Marco Aurélio está aí que não deixa mentir



FANTÁSTICAS AS voltas que a vida dá. Está certo que ficar em casa assistindo Íbis x Moto Club do Maranhão é duro. Se nem mesmo o Schumacher, casado com um peixão, conseguiu se aposentar, que dirá nosso ex-presidente?

Fato é que Lula perdeu a "trebi­sonda", como se diz em italiano, "he's lost it", diriam lá em Kansas City. Camaradinha perdeu o rumo.

Não acerta uma desde a remissão do câncer -graças a Deus está cura­do, que o bom Senhor o mantenha em santa saúde- mas o homem des­compensou de vez, é incontestável. Supremo São Marco Aurélio está aí que não deixa mentir.

Não há nada que o detenha em seu messianismo que, pelo visto, vol­tou renovado e turbinado. Lula lembra Ayrton Senna, naquele epi­sódio em Mônaco, em que o cam­peão bateu no "guardrail" depois de alegar ter tido uma conversinha com Deus. Sair vivo desse namoro involuntário com a morte parece ter conferido ao ex-presidente ga­rantias ilusórias.

Tudo indica que estamos diante de "Lula, o invencível".

A descompensação é visível. ("Que coisa feia, Barbara, o homem acabou de sair de meses duríssi­mos, como ousa julgar?") Pois é, te­nho muito dó, mas, infelizmente, não estamos falando do meu vizi­nho ou de um brasileiro qualquer. Se Sarney não é, porque Lula seria?

Agora que se sente de novo em plena forma e mais vivo do que nunca, vemos que Lula não se mi­rou no exemplo de perseverança e humildade de seu cão fiel, Delúbio, que amargou calvário mudo e amarrado no quintal. O forte de nosso ex-presidente nunca foi a disciplina. Liberado para a vida normal, depois de meses cumprin­do regime rigoroso imposto pelos médicos, agora é que ninguém con­segue mais lhe impor limites.
Seu mundo é equidistante ao de Dilma, que fez seu "CPOR" na mar­ra, atrás das grades, em uma idade em que a sua geração estava dan­çando o iê-iê-iê.

Inclusive Marta Suplicy, que é a quem eu queria chegar quando co­mecei falando nas viradas da vida.
Quem se lembra de Marta na TV, com olhos de desenho animado, pronta a estrangular a eleitora? Aquela figura descontrolada e exausta de tanto pontificar e que­rer que sua maneira prevalecesse. No fim das contas, acabou fazendo uma prefeitura razoável -os CEUs são espetaculares, inclusive em termos de mudança de cultura.

Marta agora virou a voz da razão, do "Eu não avisei?" de que Serra se tornaria um Maluf 2.0, concorren­do ad eternum à prefeitura.

E os olhos do Homer Simpson, quem diria, foram parar na cara do Lula. Visivelmente escangalhado emocionalmente, ainda assim, ele se crê apto a costurar politicamen­te uma CPI (alô, Lula! Que tal man­dar o Cachoeira para uma prisão na Guiana Francesa?), sente-se no di­reito de manipular o destino do mensalão e pretende comandar as eleições. Só.

Não sei como João Santana viu sua performance no Ratinho. Colo­cou Haddad no mapa? Lula é intui­tivo e coisa e tal, mas foram tantos os absurdos a partir da primeira en­trevista pós recuperação que vejo apenas duas maneiras de lidar: 1) Dilma deve chamá-lo para uma conversinha "amiga" de dedo em riste, como as que usa para entreter seus ministros até as lágrimas. Se necessário, pode aplicar no traseiro do antecessor algumas palmadas usando, em vez de a mão, as pesqui­sas com os índices de popularidade de seu mandato e 2) Marta que dei­xe os ressentimentos de lado e co­loque urgentemente à disposição o telefone de sua amiga psicanalista, Eleonora Rosset.

Já para o divã, presidente!

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