sexta-feira, maio 11, 2012

Falta sintonia na Rio+20 - VINOD THOMAS e MANISH BAPNA


O GLOBO - 11/05/12
Às vésperas da abertura da Conferência das Nações Unidas em junho no Rio, nota-se um desalinhamento entre a ciência climática e a política econômica. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas estreita ainda mais o vínculo dos eventos extremos como as precipitações atmosféricas e as altas temperaturas com as crescentes emissões de carbono. Mas as políticas econômicas persistem em orientar os países para o caminho das elevadas emissões.

Uma oportuna mudança de direção implicaria a modificação de três fatores.

Primeiro, devemos admitir que os impactos climáticos constituem uma preocupação imediata. As inundações e os desabamentos de encostas no Brasil e na Colômbia, as enchentes no Paquistão e na Tailândia, e as secas na China e nos Estados Unidos mostraram a devastação.

Na Austrália, os mapas de inundação, que modelam o impacto do nível do mar nas áreas baixas, contribuíram para aumentar a conscientização das pessoas. As pesquisas de opinião mostraram que os brasileiros estavam preocupados: mais de 85% afirmaram que a mudança climática era um problema "muito grave".

Segundo, os políticos devem se conscientizar de que frequentemente a redução das emissões faz parte do interesse econômico de um país. Os benefícios locais abrangem ganhos de eficiência em construções e fábricas e aumento do emprego decorrente do crescimento de energia solar e eólica.

Nos Estados Unidos, o país com a maior emissão por pessoa, prédios mais inteligentes proporcionariam economias anuais de US$ 20 bilhões. O montante global dos subsídios para combustíveis fósseis superou US$ 400 bilhões em 2010, comprometendo o apoio muito mais modesto concedido à energia limpa no mundo.

Terceiro, os economistas precisam perceber que as ações para proteger o clima constituem um meio de sustentar o crescimento econômico. Tomar medidas para evitar a elevação do nível do mar que ameaça as áreas costeiras e proteger as áreas urbanas de enchentes é essencial para a contenção dos custos climáticos.

As enchentes na Tailândia em 2011 custaram à sua economia mais de US$ 40 bilhões. No Brasil, as tempestades foram muito prejudiciais, causando mais de 900 óbitos nos estados Rio de Janeiro e São Paulo, em janeiro de 2011.

Com o maior volume de emissões, a China planeja gerar energia renovável para atender a 15% do consumo em 2020. O Brasil poderia fazer uma diferença decisiva se protegesse as árvores em pé, o que ajudaria a absorver as emissões de carbono e gerar receitas para o país.

Entretanto, para atingir a escala necessária, necessitamos mudar o modo de pensar. Os líderes políticos, economistas, empresários e as organizações não governamentais que chegarão no Rio precisam estar preparados para estabelecer compromissos com as opções de baixa emissão.



VINOD THOMAS é diretor-geral de Avaliação Independente no Banco de Desenvolvimento Asiático.


MANISH BAPNA é presidente interino do World Resources Institute

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