sexta-feira, abril 13, 2012

Visões de mundo - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 13/04/12


SÃO PAULO - De um lado, estão Suécia, Dinamarca, França, Holanda, Itália, Canadá e EUA; do outro, Belize, República Dominicana, Laos, Tuvalu e Vaticano. Qual a diferença entre os dois grupos? No primeiro, o aborto é livre. No segundo, proibido em todas as circunstâncias.

Pode ser só coincidência, mas países que ultrapassaram certo patamar de desenvolvimento econômico e educacional liberalizaram sua legislação relativa ao tema. Na companhia de quem o Brasil deve estar?

A decisão de ontem do STF de permitir o aborto de fetos anencefálicos chega com atraso e não toca na questão principal, que é definir se a interrupção voluntária da gravidez deve ou não ser considerada crime.

Como o leitor já deve ter percebido, tenho uma opinião bem firme sobre o assunto, mas hoje eu vim não para dividir, mas para unir.

No recém-lançado "The Righteous Mind", o psicólogo Jonathan Haidt sustenta que as visões de mundo de liberais (esquerdistas) e conservadores têm base em diferentes combinações de intuições morais. Enquanto os primeiros se focam nas noções de proteção, justiça e liberdade, os segundos operam com essas três categorias mais as de lealdade, autoridade e santidade (ou pureza).

Para o autor, que é um liberal, os conservadores estão em vantagem. Eles podem não ser tão bons para detectar injustiças e defender os oprimidos, mas são seus valores "exclusivos" que promovem a coesão de grupos e azeitam os vínculos comunitários. Um mundo totalmente liberal seria um lugar bem mais solitário.

Segundo Haidt, precisamos das duas visões. Melhor ainda se o debate entre elas for civilizado, marcado pela tentativa sincera de compreender o outro lado. Mais do que fruto de interesses escusos ou opções ideológicas, o "blend" de intuições morais de cada indivíduo é, em larga medida, ditado pela genética. Estamos condenados a ser o que somos e também a conviver uns com os outros.

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