quinta-feira, abril 12, 2012

Roleta russa - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 12/04/12


Do PT ao DEM, cada grande partido do Congresso já teve a sua cota de relacionamento com Carlinhos Cachoeira, uns mais, outros menos. Façam suas apostas sobre quem sairá mais desgastado da CPI. O jogo começa em alguns dias


Numa roda, bem no centro do plenário do Senado, o presidente do Senado, José Sarney; o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL); e o presidente da Comissão de Constituição, Eunício Oliveira (CE), conversavam animadamente sobre os mais diversos assuntos. Enquanto isso, ao fundo, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) explicava a jornalistas assuntos econômicos. De repente, o grupo peemedebista olha para trás e acena para o petista. A expressão era de "Oi, estamos aqui!".

Em meio à monotonia política que tomava conta do Congresso, com o governo Dilma Rousseff ganhando quase todas e os partidos a ver navios, uma CPI para investigar as relações do empresário do jogo do bicho Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, vem bem a calhar. Para começar, trata-se do imponderável. Do PT ao DEM, cada um já teve a sua cota de relacionamento com Cachoeira. Uns mais, outros menos. Não por acaso, o maior problema ontem era definir o objeto da CPI. É como se personagens de vários partidos estivessem enfileirados, passando uma caneca de leite azedo e talhado, quase transbordando, de mão em mão. Morrem de medo que esse leite derrame, deixando seus ternos manchados e com aquele cheiro ruim que uma simples lavagem não resolve.

Da parte do PSDB, o governador de Goiás, Marconi Perillo, esteve em Brasília ontem e disse ao seu partido que siga em frente na CPI porque ele não tem negócios com o bicheiro. A caneca, garante, não derramará em suas mãos. Em relação ao DEM, seus caciques na Câmara — Rodrigo Maia (RJ) e ACM Neto (BA) — calculavam que não ter mais nada a perder. O terno de Demóstenes Torres já está sujo, o senador foi entregue às feras e ponto. Agora, vão tentar empurrar a caneca Cachoeira, digo, a CPI, no colo do PT. Em especial, sobre as relações de Delúbio Soares, o ex-tesoureiro reintegrado ao partido, que faz política em Goiás.

Por falar em PT...
Os petistas, por sua vez, foram para cima e pediram a CPI de Cachoeira sem que a presidente Dilma Rousseff fosse consultada. Pelo sim, pelo não, fazem seu seguro via internet. O presidente do partido, Rui Falcão, aparece no site do partido pedindo o que chama de "CPI do Demóstenes", jogando a caneca de novo no colo do senador goiano. Falcão acusa os oposicionistas de patrocinarem uma operação abafa para que os seus não sejam investigados. O comandante petista diz que seu partido defende a apuração de tudo. Dentro do PT, há quem diga que essa CPI poderá ajudar a construir a tese de que o mensalão teria sido uma farsa montada para atingir o Partido dos Trabalhadores.

Ocorre que, como todo mundo sabe, o vídeo em que o funcionário dos Correios aparece recebendo R$ 3 mil — o estopim do caso do mensalão — foi apenas uma pontinha que nada teve a ver com o restante apurado depois, na esteira das CPIs. Não será por aí que os petistas conseguirão anular o processo do mensalão ou evitar seu julgamento este ano. Tanto é que, ontem, ao pensar melhor, alguns integrantes do PT no governo tinham um certo receio para a CPI de Carlos Cachoeira.

Por falar em governo...
Os ministros palacianos consideram não haver nenhum problema nessa CPI que leve ao Planalto. A presidente Dilma Rousseff acredita não dever a sua eleição a atores enrolados com Cachoeira, nem mesmo se forem do PT. Portanto lava as mãos em relação à essa roleta, que pode se voltar contra vários partidos. O que "pega" para o governo é a falta de tranquilidade no Congresso para aprovar medidas econômicas, se houver necessidade.

Em meio a tudo isso, o PMDB só observa, torcendo para que o braço da empresa Delta no Rio de Janeiro do governador Sérgio Cabral esteja "blindado" nesse processo. Por isso, seus caciques olham para os senadores do PT com ares de superioridade, com a certeza de que serão necessários logo ali na frente para ajudar o governo e os petistas a reequilibrar o jogo no Congresso. Afinal, uma CPI invariavelmente significa desgaste para quem está no poder. E a maioria dos congressistas aposta que, com o governo do PT, não será diferente. Bem, leitor, faça sua aposta mas tenha uma certeza: CPI sempre dá bode. Resta saber quem ele irá atingir.

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