segunda-feira, abril 02, 2012

Próximos passos - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 02/04/12


Os avanços obtidos pela economia brasileira após o lançamento do real, que deu partida a um período de relativa estabilidade monetária, já próximo da "maioridade", foram enormes. No entanto, vencer uma inflação aguda que já havia se incrustado na vida do país não foi tarefa fácil, e manter a estabilidade exigiu ajustes de toda ordem, até hoje não concluídos.

As restrições ao crédito foram absolutamente necessárias nesse período de transição, pois a queda brusca da inflação assegurou de imediato um aumento de poder aquisitivo para a população. Até que a oferta doméstica pudesse responder à expansão de demanda, a economia andou sobre o fio da navalha, pois o instável equilíbrio das contas externas, na época, impedia que se recorresse maciçamente a importações.

"Esfriar" a demanda tem sido o desafio da economia brasileira, para adequá-la ao que os especialistas chamam de Produto Interno Bruto (PIB) potencial.

É quanto o país pode crescer sem gerar desequilíbrios que ponham em risco os avanços conquistados.

A política monetária teve, e ainda tem, papel fundamental nesse processo. Nos primeiros anos do real os juros básicos chegaram a ser estratosféricos e evidentemente que tal dosagem causou grande desconforto ao sistema produtivo, com reflexos negativos sobre os endividamentos públicos e privados. À medida que, com tempo, a memória inflacionária foi enfraquecendo (mas ainda não desapareceu), e reformas macro e microeconômicas puderam ser implementadas, as taxas de juros básicos começaram a baixar. Em termos nominais, depois de várias décadas, chegaram a cair, em 2010, para o patamar de um dígito, e no qual se encontram neste momento (9,75% ao ano, com perspectiva de nova queda quando o Copom voltar a se reunir).

Isso somente foi possível porque, gradualmente, a situação das contas externas melhorou, a ponto de a economia brasileira ter alcançado o grau de investimento na avaliação das principais agências internacionais de classificação de risco.

Em futuro não distante, o Brasil provavelmente terá juros básicos equiparados aos da maioria das economias emergentes.

Mas esse novo estágio dependerá também da solução de problemas que dificultam a redução do nível de inflação no país. O ponto central das metas estabelecidas pelo governo está em 4,5% ao ano, com intervalo de tolerância bem elástico (de 2,5% a 6,5% ao ano). Mesmo assim, a inflação tem andado mais próxima do teto.

Para o Brasil reduzir os juros de forma mais expressiva sem que se tenha de voltar atrás rapidamente, a economia precisará reunir condições de crescimento sustentável, poupando e investindo mais do que o observado nos últimos anos. A dívida pública terá de diminuir, e sem artificialismos (como o que ocorreria por uma redução imprudente nos juros). Nesse caso, os gastos governamentais devem ter seu rumo corrigido, deixando de crescer mais do que o desejável.

Reformas continuarão sendo necessárias, como a que está prestes a ser implantada na previdência dos servidores públicos.

A criação, já aprovada, de um fundo de pensão para funcionários que ingressarem no serviço público e quiserem se aposentar com benefícios acima do teto do regime geral é um passo importante, poderá contribuir para essa almejada queda nos juros.

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