domingo, abril 15, 2012

No embalo da CPI - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 15/04/12



Lula enfrentou a CPI do Mensalão, que quase lhe custou o mandato. Saiu dela incólume porque buscou as ruas e os movimentos sociais que, embora briguem com o PT, sempre ficam ao lado dele quando a coisa aperta. Dilma seguirá pelo mesmo caminho


Os governadores desembarcam essa semana em Brasfiia dispostos a impor uma derrota ao governo Dilma Rousseff. E, pelo menos, no que se refere à correção da dívida dos estados, o governo já descartou a proposta dos secretários de fazenda e a batalha ficou para o Congresso. Ali, pela primeira vez nesses dois anos, os governadores chegam com alguma vantagem sobre o Poder Executivo. Por dois motivos, primeiro, a CPI, onde o governo Dilma terminou atropelado pelo seu própriopartido. Em segundo lugar, porque, nesse embalo, há partidos dispostos a aproveitar a onda para ver se é possível tirar algum fôlego de Dilma.

Explica-se: a "bronca" dos partidos com o governo não passou. Está apenas amortecida, por conta da CPI para investigar Carlos Cachoeira. Nesses últimos dias, eles apenas deixaram de pressionar por mudanças de ministros ou cargos de segundo escalão. Querem primeiro conseguir enxergar o que tem pela frente, antes de retomar essa pressão com força total. E, no atual estágio, de montagem da CPI e com a imprensa a cada dia colocando mais um personagem nesse enredo, não dá para se ter uma noção clara de até onde essa enxurrada terá força.

Mas num ponto, os aliados do governo e a oposição concordam: a popularidade da presidente está grande demais e quase se descolando do próprio governo dela, como já se descolou do Congresso. Portanto, na visão dos partidos, é preciso tirar uma lasquinha dos tais 77% acumulados em quase um ano e meio de governo para lá de tumultuada E uma forma de fazer isso é impor uma derrota a Dilma no Congresso em votações que não prejudiquem a economia como um todo, ou dando wn jeito de aproveitar a CPI para jogar uma crisezinha no colo do PT. Como fazer isso, o tempo dirá.

Por falar em economia...
Nesse sentido, avaliam, vem bem a calhar a discussão sobre o índice que deve servir de parâmetro para correção da dívida dos estados. O govemo quer usar a taxa Selic. Na última quinta-feira, a, equipe de Dileta Rousseff bateu o pé e avisou que não aceitará á proposta dos governadores de usârcomo indexador o IPCA (índice de Preços ao Consumidor Amplo), que os secretários de Fazenda consideram mais vantajoso para as finanças estaduais. Derrotar o governo Dilma nessa discussão, avaliam alguns senadores, não compromete as contas governamentais como um todo e ainda dá uma ajuda aos estados.

Entre os governadores, a oposição e partidos aliados têm mais espaço do que o PT. Os petistas governam o Distrito Federal, e quatro estados Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe e Acre Se os senadores ficarem como governo federal nesse quesito, muitos consideram que a vitória maior será do PT, que já tem uma presidente popular. Portanto, essa votação se mostra hoje escolhida a dedo para dar uma aliviada nas contas estaduais. E pode ser acoplada ainda de uma redução do percentual de receita que os estados devem comprometer com o pagamento das dívidas.

Por falar em oposição...
Não por acaso o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi para a tribuna da Casa a semana passada defendera correção via IPCA, dentro do que propõem os estados. O discurso foi feito exatamente 24 horas depois de o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, do PSB, passar por Brasflia reclamando que o governo federal não tem um interlocutor forte para cuidar dos problemas estaduais. E, já que os governadores se ressentem de espaço para discutir seus problemas em bloco no governo federal, Aécio Neves começa a atirar uma bóia a esses atores políticos, tentando criar pontes para o futuro e um atalho para que eles resolvam suas questões diretamente com o Senado.

A aposta da oposição é a de que o clima entre governo e Congresso só tende a piorar diante da CPI que investigará as relações de Carlos Cachoeira com parlamentares e até governadores. E, embora os oposicionistas também tenham a sua cota nessa seara, quem está no poder central sempre tem mais a perder. Não por acaso, a presidente Dilma correu na sexta-feira para São Paulo em busca dos conselhos de Lula e lhe pediu para ir devagar com o andor porque o santo é de barro. Lula viveu uma onda de CPIs em 2005 que quase lhe custou o mandato. Escapou dela incólume e mais prestigiado porque buscou as ruas e o auxílio dos movimentos sociais que, embora de vez em quando briguem com o PT, sempre ficam ao lado dele quando a coisa aperta. Ele aconselhou Dilma a seguir pelo mesmo caminho.

O problema é que ela só terá recursos para fazer valer os programas de governo e, assim manter o povo ao seu lado, se o Congresso não deslocar recursos do caixa da União para o dos estados, como os congressistas começam a fazer agora. Esse é um fone ingrediente da briga que estará em curso no embalo da CPI.

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