quinta-feira, abril 12, 2012

Corredores da morte - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 12/04/12


SÃO PAULO - A selvageria no trânsito das principais cidades do país poderia ser atenuada, poupando a vida de milhares de pessoas, se o governo aprovasse no Congresso uma pequena alteração no Código de Trânsito Brasileiro, incluindo um parágrafo que proibisse as motocicletas de circularem no chamado "corredor", isto é, entre os veículos.

Tal proibição estava prevista no texto que originou o código, em 1997, mas foi vetada por Fernando Henrique Cardoso, que cedeu ao lobby da indústria. Na ocasião, o então presidente alegou que o dispositivo restringia a serventia das motos, que "em todo mundo são utilizadas como forma de garantir maior agilidade de deslocamento".

Pois bem, de lá para cá, o número de motociclistas mortos no trânsito cresceu de uma forma meteórica e assustadora. Em 1998, foram 1.047, o que representou 3,4% do total dos óbitos no trânsito. Em 2010, último dado disponível, foram 10.143, ou 25% do total. Sem contar os milhares de motociclistas que são obrigados a aposentar-se no INSS, todos os anos, por invalidez permanente em decorrência de acidentes (apenas nos primeiros nove meses do ano passado foram 116 mil).

É evidente que contribuiu para essa situação o aumento da frota, estimulado por uma política lulista de incentivos fiscais para a fabricação e de facilidades de crédito para a compra. Hoje chega a sair mais barato pagar a prestação de uma moto do que arcar, ao longo de um mês, com a tarifa de ônibus.

Mas essa não é a única razão, considerando que o número de motocicletas circulando no país não cresceu na mesma proporção dos óbitos em acidentes em duas rodas.

O problema é resultado direto do vale-tudo das ruas, do zigue-zague irresponsável e autorizado que ocorre nos espaços apertados entre os carros. A agilidade de deslocamento não pode mais servir como justificativa para a manutenção desses verdadeiros corredores da morte.

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