sábado, março 17, 2012

Pulso firme e passo forte - GILBERTO KASSAB


O Estado de S.Paulo - 17/03/12


São Paulo, como toda grande metrópole, não tem problemas pequenos: lixo, enchente, transporte, poluição, segurança, saúde, habitação... Pelo acúmulo de décadas e décadas de equívocos, meias soluções e, muitas vezes, falta de visão administrativa e ousadia, os problemas foram se acumulando e prejudicam hoje parte significativa de nossos 11 milhões de habitantes. Avançamos muito nessas e em outras frentes, mas ainda há muito a fazer.

Com uma frota de 15 mil ônibus, circulação diária de 4 milhões de carros particulares e cerca de mil veículos novos por dia rodando numa malha de 17 mil km de ruas e avenidas, o trânsito-transporte certamente é um desses problemas mais complexos. Até porque por vias urbanas, verdadeiras estradas, transitam cargas e passageiros de norte a sul, leste e oeste do País. E todos exigem fluidez, velocidade e segurança.

Toda grande metrópole do mundo enfrentou e enfrenta esses problemas. Muitas têm o transporte público encaminhado, com malha de metrô adequada e veículos leves sobre trilhos, malhas e tradição de ciclovias, além de longa educação e compreensão da sociedade sobre restrições necessárias. Muitas dessas cidades já nasceram planejadas e, ainda assim - Toronto, por exemplo -, hoje enfrentam congestionamentos em suas vias expressas, pelo excesso de veículos. E todas essas metrópoles - com áreas maiores e mais caóticas, como Cairo e Nova Délhi, ou com áreas menores, como Tóquio e Seul - acabam adotando medidas disciplinadoras, como pedágios, proibição de estacionamento e circulação controlada. E até mesmo monitorando descarte, ferro-velho de veículos. Enfim, dividem-se sacrifícios em nome do conforto coletivo.

É isso que temos feito, em várias frentes, já há algum tempo. Especialistas fazem análises históricas para chegarem à conclusão de que é preciso sair da mesmice, avançar com obras que imaginam mais ousadas, gigantescas... e fora da realidade, da burocracia, dos empecilhos ambientais e das dificuldades de desapropriação, etc. Nas várias intervenções que já fizemos, registraram-se desconfortos, críticas da mídia, protestos de corporações, sindicatos, mas com o tempo os benefícios planejados aparecem, melhorias tornam-se evidentes e os transtornos iniciais são entendidos.

O que não se pode aceitar são atitudes incompatíveis com esse processo de evolução, como ocorreu com o recente movimento de caminhoneiros autônomos da Grande São Paulo que abastecem postos de gasolina. Prefeitura, Justiça e Polícia Militar nos unimos e recorremos à força da lei. A restrição de circulação de nove horas por dia nas Marginais tinha sido negociada, explicada com antecedência; as rotas alternativas, explicitadas; e desde 2011 já havíamos restringido o trânsito de veículos com produtos perigosos (combustível, nesse caso) - essa medida de proteção dos usuários das vias públicas não foi implantada agora, como se pretendeu divulgar durante a crise.

A convivência urbana tem normas que devem ser respeitadas, cumpridas, para que a maioria possa ser beneficiada. Não nos intimidamos diante da exacerbação de comerciantes dos Jardins quando instituímos o projeto Cidade Limpa, muito menos quando criamos e fizemos cumprir limites para o descarte de lixo de grandes lojas. Lacramos supermercados e nos unimos ao governo estadual na repressão aos traficantes de crack. Alguns problemas têm soluções visíveis a curto prazo, outros têm maturação mais longa, exigem participação maior da sociedade, dos agentes e lideranças comunitários.

Para diminuir atropelamentos e mortes no trânsito limitamos a velocidade em várias ruas e avenidas. Constrangemos os faltosos com multas, sim. Infelizmente, só mexendo no bolso dos infratores é que se consegue sensibilizá-los. Egoísmos, desobediência às leis, comodismos que agridem, falta de civilidade continuarão sendo enfrentados, reprimidos.

Podemos citar outros embates que trouxeram benefícios à população, como a reorganização do tráfego na cidade, que começou com a ampliação de zonas restritas de circulação de caminhões no centro expandido, em 2008. Lembramos ainda a proibição de motos na pista expressa da Marginal do Tietê, que reduziu em mais de 40% o número de acidentes na via; e a criação do Programa de Proteção ao Pedestre, que reduziu em 7,3% o número de atropelamentos em toda a cidade, com 8,2% menos de mortes. Considerando o centro e a Paulista, regiões por onde o programa foi iniciado, a redução de mortes por atropelamento é ainda mais expressiva: 42,8%.

Quando começamos a participar - e fazê-la de forma sistemática - da repressão à adulteração de combustíveis vendidos em postos da cidade, cartéis criminosos levantaram todas as formas de resistência. Fomos firmes e vencemos a luta. O índice de adulteração em 2007, início da força-tarefa, era de 25%. Hoje caiu para 1%.

Desde dezembro de 2010, em ação conjunta com o Ministério Público e a Polícia Militar, já apreendemos cerca de 58 milhões de produtos falsificados e contrabandeados em vários espaços públicos. Separamos o joio do trigo: demos atendimento adequado às pessoas que precisavam de ajuda. E fomos firmes com os que se aproveitavam daquela situação para ter benefícios ilegais. Endurecemos na fiscalização do descarte irregular de lixo, ao mesmo tempo que ampliamos a ação de limpeza de galerias, manutenção de piscinões. etc.

Claro, mesmo dentro da lei, é de certa maneira constrangedor precisar usar a força. Não estamos aqui contando vantagem, mas apenas insistindo que, em situações como essas que citamos, continuaremos a agir rigorosamente para preservar direitos e, sempre que possível, aumentar o conforto, a segurança e o bem-estar dos cidadãos paulistanos. Com pulso firme e passo forte, na cadência que nossa metrópole exige.

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