segunda-feira, março 05, 2012

Janelão - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 05/03/12

A inflação recuou em fevereiro mais do que os prognósticos apontavam e com isso abriu um janelão de oportunidade para o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzir as taxas básicas de juros, esta semana. E o superávit nominal das finanças públicas em janeiro melhorou a credibilidade do governo no mercado, pois no início do ano havia sérias dúvidas sobre se as metas fiscais seriam cumpridas em 2012.

Outro ponto a favor, mais de longo prazo, foi a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do projeto que regulamenta os fundos de previdência complementar dos futuros servidores da União. O efeito prático dessa mudança sobre as finanças públicas pode ser antecipado se o mercado entender que os fundos ajudarão o país a ter um sistema previdenciário mais equilibrado, mesmo que os desembolsos do Tesouro só venham a diminuir dentro de dezoito anos. Se o "prêmio de risco" embutido nos rendimentos dos títulos da dívida interna do Tesouro se reduzir - como aconteceu com os papéis da dívida externa -, a conta de encargos financeiros poderá encolher significativamente nos próximos anos. E se nesse processo, o déficit público, que hoje está na casa de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) desaparecer, os juros cairão naturalmente, sem mesmo precisar de um empurrão do Banco Central.

Mas hoje esse empurrão para baixo é ainda necessário. Para a maioria dos analistas financeiros, juros muito elevados são um mal menor, um preço a se pagar para que a inflação seja dominada, como se não houvesse outra saída. Poucos têm intimidade com a dia a dia da produção e não conseguem enxergar o efeito colateral venenoso - ou não acreditam nele - dos juros altos. Por isso, o ajuste leva tempo, pois além dos fatores conjunturais e estruturais da economia, precisa superar o obstáculo que está enfurnado dentro da cabeça das pessoas. A inflação galopante causou muitos estragos aos brasileiros, um deles é a desconfiança no futuro da própria moeda.

Entregue às traças, o histórico Hotel das Paineiras será finalmente recuperado por um consórcio que envolve operadores de turismo, organizadores de eventos e a empresa que explora a linha de trem do Corcovado. O hotel deve reabrir em condições de abrigar um centro de convenções para 400 pessoas. Tem a vantagem de ficar próximo o suficiente do centro da cidade, para o caso da necessidade de um rápido deslocamento eventual de algum participante, ao mesmo tempo que oferece o necessário isolamento para reuniões do tipo que "escapadas" acabam prejudicando o bom andamento dos trabalhos.

Tomara que nessa recuperação também seja recuperada a antiga casa de verão dos primeiros presidentes da Light, pioneira entre os concessionários de serviços de utilidade pública no Brasil (energia elétrica, gás canalizado, telefone, bondes). O célebre Alexandre Mackenzie, um dos empresários mais poderosos no país no início do século XX, chegou a morar ali. Outros diretores que o sucederam, geralmente canadenses, também a ocuparam. A casa foi repassada ao patrimônio da União, nas negociações que envolveram a Light nos anos 1960 e 70. Tive o prazer de almoçar, recentemente, em Petrópolis, em volta da grande mesa redonda que pertenceu a essa casa. O móvel foi adquirido pelo advogado Roberto Paulo Cezar de Andrade, que também morou por vários anos na casa das Paineiras, já como alto executivo do grupo Brascan. A família somente decidiu se mudar daquele então paraíso, ao meio de uma floresta tropical, porque os filhos precisavam de mais facilidade para ir e vir da escola e as Paineiras são um lugar isolado encravado na Floresta da Tijuca.

As escolas de samba que desfilam no grupo especial do Rio tinham muita dificuldade para conseguir patrocinadores. Algumas empresas até ajudavam, mas preferiam não ter suas marcas associadas às escolas por conta da imagem pública de várias delas, cujos presidentes de honra eram notórios bicheiros. Mas o desfile está ficando cada vez mais caro e sem profissionalização as escolas já não conseguem financiar suas despesas. A subvenção recebida da prefeitura e os eventos internos (receita com os ensaios) não cobrem mais que a metade do orçamento. Os demais 50% precisam vir de patrocinadores.

A Unidos da Tijuca, escola campeã, organizou um departamento de marketing e os resultados começaram a aparecer com a realização de eventos corporativos. Os patrocinadores estão agora mais satisfeitos e vão perdendo o receio de associar suas marcas ou nomes ao da escola campeã. A União da Ilha está seguindo a mesma trilha, assim como outras escolas até mesmo do grupo de acesso.

Esse tipo de organização do carnaval vai se estendendo também aos camarotes da Passarela do Samba na Marquês de Sapucaí. Muitas empresas de varejo têm o costume de montar grandes camarotes e promover até festas durante o desfile, convidando atrizes e atores de televisão, celebridades do mundo da moda e outros colunáveis, capazes de atrair os holofotes da mídia. Companhias que não precisam de tanta exposição também alugavam camarotes mais discretos, para convidar clientes selecionados, até vindos do exterior. Este ano ganharam vulto os camarotes corporativos, compartilhados por várias empresas simultaneamente. Um dos maiores foi o que teve apoio da Câmara de Comércio França Brasil, com uma média de 320 convidados por noite de desfile. E o que mais chamou a atenção lá foram executivos franceses radicados no Brasil. Há um grupo que frequenta aulas de "samba no pé" e se sai melhor do que muitos brasileiros natos.

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