quarta-feira, março 28, 2012

Itália - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 28/03/12


A Itália, com o premiê Mario Monti, parece disposto a reencontrar-se e fazer o que tem de ser feito para readquirir sua competitividade dentro da moeda única, o euro.

Entre 2001 e 2011, enquanto o custo da mão de obra por unidade produzida no setor privado passou de 100 para 105 na Alemanha, ele cresceu de 100 para 130 na Itália.

Isso significa, grosseiramente, uma valorização da velha lira italiana em relação ao velho marco alemão, fixada definitiva e irretratavelmente dentro do euro, da ordem de 24% para exportações e importações para a "Eurolândia", os 17 países que adotam o euro.

A isso se soma pelo menos mais 10% ou 12% da valorização do euro em relação à "paridade" de US$ 1,15 por ? 1, o que mostra uma "supervalorização" da velha lira, em torno de 35% em relação às suas importações e exportações para fora da "Eurolândia".

Como 50% das exportações italianas são para fora da zona, podemos estimar uma "valorização" real da lira, fixada virtualmente dentro do euro, da ordem de 30%! Não é sem razão que, de meados dos anos 1990 a 2010, as exportações físicas italianas caíram de 5% das exportações mundiais para menos de 3%.

As famílias italianas têm bons ativos não financeiros e não viveram um boom imobiliário. A situação financeira do setor privado é bem melhor do que na maioria dos países da "Eurolândia", mas, infelizmente, a dívida pública bruta/PIB do país é da ordem de 120%, com 50% nas mãos de não residentes.

O problema é que, com a alta da taxa de juros de seus papéis, a Itália despende 4,5% do PIB anual apenas para servi-la. Reduzir a relação dívida/PIB é fundamental para dar credibilidade à política econômica e facilitar seu financiamento.

Mario Monti teve pouco tempo para formular seu programa, mas começou dizendo clara e duramente aos italianos: "Temos um problema estrutural, e problema estrutural se resolve com reforma estrutural!". É o que tem feito.

O esforço inicial para a volta ao equilíbrio fiscal se apoiou no aumento de impostos (mais ou menos dois terços) e num corte de despesas (um terço). Agora, o governo está num processo de "mineração", constrangendo moralmente os sindicatos, os empresários e os banqueiros para devolverem parte dos seus exorbitantes "privilégios".

Talvez para mostrar a seriedade de seus propósitos, Monti, um católico fervoroso, que vai à missa todo fim de semana acompanhado de sua mulher, acaba de propor a eliminação da isenção de impostos sobre a igreja em seus empreendimentos comerciais. Isso renderá 600 milhões, só 0,02% do pacote de economia de 30 bilhões, mas tem imensa simbologia! Bem que poderíamos copiá-lo...

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