sábado, março 17, 2012

Crise e acomodação - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 17/03/12



Planalto e Congresso estão de novo às turras, mas clima ameno na economia e popularidade de Dilma criam espaço para entendimento

Generalizou-se o nome de "crise" para uma confluência de conflitos políticos que, apesar da algazarra parlamentar, parecem circunscritos ao comércio de postos de poder -mercado de onde não devem transbordar, dada a tranquilidade social e econômica no país.

São contendas que derivam do gradual rearranjo do governo de Dilma Rousseff, assim como das disputas de poder entre partidos, em especial PMDB e PT, e também intrapartidárias.

Dilma faz, no momento, o rescaldo da derrubada de ministros de seu primeiro ano de mandato. A presidente aproveitou o empuxo, ao refazer o esquema de poder outorgado pelo antecessor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, para alterar também as lideranças parlamentares do governo.

A presidente, assim, confisca e redistribui mais a seu gosto postos em ministérios e estatais. Fere interesses e, ao mesmo tempo, abre terreno para disputas adicionais entre os partidos de sua coalizão e entre correntes desses partidos, em particular no seu, o PT.

A tensão acabou por contagiar um conflito ainda adormecido, o do comando das casas do Congresso em 2013-14. Deveria ser entregue, a princípio, ao PMDB, acordo porém contestado por alas do PT.

Tais confrontos parecem em evidente contraste com uma desaceleração econômica que ainda não se refletiu no cotidiano. Apontem-se ou ocultem-se vários problemas graves, o fato é que o país permanece acomodado.

A presidente é popular. Saiu ilesa da queda em série de seus ministros abatidos por escândalos. Atribuiu-se mesmo a Dilma o mérito de uma "faxina" num governo que, no fim das contas, era o seu, ao menos nominalmente, embora inspirado por Lula.

O tropeço econômico de 2011 mal foi sentido pela população, que pôde aumentar ainda outro ano seu consumo. Líderes empresariais são aliados do governo e veem seus pleitos em parte atendidos, apesar das queixas. A oposição, minoritária em números e diminuída em iniciativa, mal se nota.

O clima conflituoso paralisa o Congresso, sem dúvida, e obsta a resolução de disputas de interesse mais geral. Entre outras, o código florestal, o fundo de pensão dos servidores e a lei do petróleo.

O cordão sanitário da estabilidade na maior parte do país por si só tenderia a barrar transbordamentos desses embates além da praça dos Três Poderes. O fato de que tal conflito se limite a cargos e favores é outro diminutivo da crise.

Governos e parlamentos brasileiros têm de se arranjar e acabam por fazê-lo, pois não têm mais onde buscar o que cobiçam: docilidade no Congresso e feudos de poder.

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