segunda-feira, março 26, 2012

Contra azia e má digestão... - ROBERTO ZENTGRAF


O GLOBO - 26/03/12



A outra questão levantada em artigo duas semanas atrás relaciona-se com os investimentos de risco. Com efeito, dado que as aplicações em renda fixa estão rendendo cada vez menos, é cada vez maior a tentação de migrar recursos para aplicações mais arriscadas - como a Bolsa, por exemplo - à procura de rentabilidades superiores.

É o seu caso, querido leitor? Pois então sugiro que analise bem antes de tomar tal decisão, pois, pior do que obter uma rentabilidade positiva, mas abaixo da inflação, é obter uma rentabilidade negativa: uma dupla perda! Não custa lembrar que, para obtermos ganhos neste mercado deveremos, necessariamente, pagar pela ação um preço inferior àquele pelo qual iremos vendê-la, no futuro.

Bolsas não sobem porque simplesmente queremos (ou precisamos) que subam, mas sim como resposta às questões econômicas e políticas que afetam todo o mercado: a recente notícia da desaceleração do crescimento chinês provocou fortes quedas nas bolsas, mundo afora. Precisa-se, portanto, muita análise para não se entrar (ou sair) em momento errado... Quando? É a pergunta que todos adorariam ter a resposta!

Mas, mesmo aqueles que a têm (se você conhecer este visionário, passe o e-mail, por favor!) ainda encaram outra difícil decisão: o que comprar, já que diferentes ações reagem de forma diferente às flutuações do mercado, em função de suas próprias características: gestão, endividamento, setor que atuam, dentre outras. Veja a simulação a seguir para uma possível solução para o dilema.

Tomando por base os três anos encerrados em fevereiro de 2012, coletei na base de dados da Economatica as rentabilidades mensais das 30 empresas com o maior número de negócios na Bolsa paulista (veja mais detalhes no blog http://glo.bo/zentgraf). Neste período, o CDI avançou 34,22%, o Ibovespa, 72,36% e boa parte das ações (2/3 para sermos exatos) conseguiram superar o índice, apesar de cinco delas sequer terem alcançado o CDI. Apressadamente, e ajudados pelo benefício da história - sabemos o que ocorreu - poderíamos concluir que, as chances de, sem conhecimentos técnicos adequados, escolhermos a melhor ação estariam a nosso favor, dois contra um. Talvez, mas seríamos capazes de suportar o risco?

Quanto a este aspecto, a teoria financeira nos traz vários indicadores para mensurá-lo, mas pessoalmente gosto muito daquele que mostra a desvalorização máxima a que estaríamos sujeitos se investíssemos após uma alta (tecnicamente conhecido como Drawdown máximo). Por exemplo, no período completo, a Petrobras PN valorizou-se apenas 3,12% mas, um investidor que tivesse a adquirido ao final de novembro/2009, observaria até setembro/2011 uma perda de 47,3% em seu patrimônio. Meus motivos da preferência, confesso, são meramente digestivos: haja estômago para suportar uma perda de quase metade do valor investido!

E é aí que entra o efeito positivo da diversificação: o drawdown máximo da carteira igualmente ponderada pelas 30 ações foi de 26,9% (alta de 188,59% no período), similar ao do Ibovespa com 26% (alta de 72,36%) ou ao do ETF Ishares Bovespa com 26,5% (alta de 67,07%). Uma ótima proteção para aqueles que, como eu, não possuem bola-de-cristal, não é mesmo?

Um grande abraço e até a próxima semana!

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